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Sardoal: A arte nas mãos de Rui e Conceição

19/09/2018 às 00:00

Artof é o Cluster Criativo de Sardoal. Integra o Espaço Partilhado para as Artes e Ofícios e conta com dois ateliers onde dois artesãos trabalham a sua arte.

Miguel Borges, presidente da Câmara Municipal de Sardoal, explica que, nas Festas de Sardoal, “alguns dos expositores são precisamente aqueles que estão já no Artof. O Artof é, no fundo, essa tal incubadora de uma outra incubadora que quer crescer”.

 

NORMAL, uma palavra que se escreve em muitas línguas

Chama-se NORMAL, com o R invertido, porque “eu queria uma palavra que se escrevesse em muitas línguas e que dissesse que é igual aos outros mas com qualquer coisa diferente”.

Foi bancário durante muitos anos, tem outros afazeres noutras áreas mas “trabalho com estes materiais há uns 4 ou 5 anos e nunca o tinha feito a este nível. Surgiu a oportunidade de me candidatar a este espaço porque dá-nos a capacidade de termos um espaço mais profissional”.

O artesão que conta com um atelier no Espaço Partilhado para as Artes e Ofícios é Rui Daniel e trabalha com sola. “É pele de bovino e a curtimenta é vegetal e assim consigo ter algum suporte ecológico. Isto é um sub-produto da indústria alimentar mas onde não há a utilização de produtos químicos e a matéria-prima é quase toda portuguesa”, explica Rui Daniel.

No atelier não se via nenhuma mala concluída porque “elas andam muito depressa”. Mas há capas para cadernos “que são completamente reutilizáveis”, sacos, mochilas, bases para canecas, brindes, uma gama variada de produtos. Para conseguir acudir a todos os pedidos, Rui Daniel conta pontualmente com a colaboração preciosa da esposa.

O atelier no Artof “é para mim muito vantajoso porque a renda não é tão pesada como se fosse noutro lado, pois paga-se em função da área utilizada, e a Câmara Municipal fornece a água e a luz”. Por outro lado, “não consigo arranjar outro sítio assim, ou é muito grande, ou é muito pequeno. Claro que, esteticamente, gostaria de ter mais umas coisas como um quadro gigante na parede mas vamos adequando”. Rui Daniel ocupa o espaço há cerca de 5 meses, num local onde reina a paz.

Na mesa de trabalho vê-se ainda um relógio. O artesão está a fazer uma bracelete em sola. Não é a primeira vez que se aventura neste tipo de trabalho, “já fiz alguns pois o que eu procuro são objetos em que a sola seja sempre reutilizável”.

Adequo as coisas aos seus preços de modo a que as pessoas possam sempre levar uma prenda. E dou um bocadinho mais de importância a prendas para homens porque sei que é algo que é sempre muito difícil”.

Os produtos da NORMAL estão espalhados um pouco por todo o lado, “principalmente as malas que já são quase por encomenda. É um produto que sai muito bem”.

Na NORMAL tudo é feito à mão e os produtos podem ser encontrados em Lisboa, no Porto e em Abrantes. “Também costumo fazer mercados muito específicos como o LX Market e aí sim, já tenho produtos em quase tudo o que é sítio no mundo”. Através das redes sociais também chegam muitas encomendas. No Cá da Terra, “não me posso queixar. Os produtos saem bastante bem”.

Rui Daniel

Há quem ainda prefira trabalhos de artesanato

Encontramos Conceição Diogo num espaço no centro da vila de Sardoal, acabada de chegar de mais uma feira.”Estou a mudar tudo para o atelier porque este espaço já não tem condições”.

Trabalha com trapilho reciclado, para alguns tapetes, e trapilho normal com que tece as passadeiras. A matéria-prima vem de Barcelos, de uma fábrica de confeção de roupa.

Trabalho num tear desde a barriga da minha mãe. A minha mãe era tecedeira mas eu não gostava disto mas, quando a minha mãe faleceu, as pessoas começaram a pedir-me «pela alma da minha mãe» para fazer trabalhos. Ora, tocavam-me ao coração e eu ia fazendo. Agora já ando nisto há uns anos”, começa por nos contar.

Dos teares de Conceição saem tapetes, mantas, passadeiras, naperons e mantas em linho que podem ser adquiridas no Espaço Cá da Terra. “A Tagus também leva alguns produtos para as outras lojas, quer de Constância, quer em Lisboa”.

Conceição Diogo participa em algumas feiras e encontra quem procure os seus produtos. No entanto, hoje em dia, “há quem não perceba que isto é artesanato e ache os preços elevados. Depois vão procurar em lojas de preços reduzidos sem perceberem que este artigo dura muitos anos. Mas há pessoas de todas as gerações que apreciam e que ainda preferem um trabalho de artesanato a um produto industrial”.

Com trabalhos espalhados um pouco por todo o mundo, os produtos que saem do tear de Conceição estão já na Austrália, onde uma cliente “vem cá duas vezes por ano e leva artigos. Esta cliente descobriu-me numa feira já lá vão 12 anos”.

Uma passadeira normal leva “meia hora a fazer se tiver a ajuda do marido” na manutenção do tear.

O atelier no Artof “fui eu que pedi à Câmara um espaço por este já não ter condições. Informaram-me na altura que iria abrir um concurso e eu concorri. Agora, é mudar o que falta”.

Conceição Diogo

 

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