Com sede na aldeia de Água das Casas, no norte do concelho de Abrantes, a associação cultural Mundo em Reboliço tem vindo a afirmar este lugar como novo centro do seu trabalho artístico. Tendo Filipa Francisco como curadora, esta Mostra nasceu como um gesto inaugural, o Ano 0, e caracteriza-se agora como uma proposta em expansão, que envolve artistas e habitantes na construção de objetos artísticos a partir da memória, da escuta e da partilha. O desafio é levar a Cultura e a Arte para territórios de baixa densidade e fazer com que se enraízem e se desenvolvam.
Como a associação cultural Mundo em Reboliço “é também uma associação de circulação de espetáculos de dança e teatro, nós estamos a circular os nossos espetáculos por outros territórios.”
A curadora do evento referiu ainda as atividades já dinamizadas pela associação:“por exemplo, este ano estivemos na Marinha Grande, com uma grande investigação sobre vidro, trabalhando com os antigos trabalhadores do vidro, com escolas de dança, o que fez um espetáculo que percorreu as ruas e o Teatro Stephens da Marinha Grande, em que estiveram envolvidas cerca de 100 pessoas, só para dar um exemplo.”
A Mostra vai decorrer em Água das Casas nos dias 27 e 28 de setembro, a partir das 17h30. No dia 3 de outubro, decorrerá pelas 21h30, em Abrantes, na Biblioteca António Botto e no MIAA – Museu Ibérico de Arqueologia e Arte mais uma mostra. O projeto envolve também escolas do concelho, associações locais e estruturas parceiras, afirmando-se como um espaço de continuidade artística, pedagógica e comunitária.
A 27 e 28 de setembro, entre as 10h e as 12h, na Escola da Matagosinha, a bailarina e coreógrafa Susana Domingos Gaspar vai dar uma oficina “Vamos à Dança?”, que será aberta à comunidade. Apresenta também no dia 27, pela tarde, o seu solo “Todos os dias tenho um sonho que me acorda”, espetáculo que resulta de “uma coreografia que procura relações entre o pessoal e os acontecimentos do mundo, tocando proximidades que abrem espaço para compreender o que está longe.”
De 25 de julho a 1 de agosto, Miguel Canaverde levou a cabo a oficina de cinema participativo “Vamos Fazer um Filme?”, na qual trabalhou com um grupo de crianças da aldeia. Decididos a transformar a sua curiosidade em cinema, como escreve na sinopse, “começam a filmar os vizinhos e a ficcionar uma aventura à procura de respostas. Nas filmagens cruzam-se pesquisas, conversas, reflexões e memórias, até descobrirem que com a subida das águas em 1951, a Foz da Ribeira foi submersa. Esta viagem torna-se então numa investigação coletiva sobre o passado, presente e futuro deste lugar.”
O filme será apresentado no dia 27, dia em que também será inaugurada a pintura do mural Água das Casas – Passado, presente e futuro, realizado pelo artista Anacleto Guia. Nele estão retratados quatro períodos da história da aldeia, com dois elementos de ligação: a água e a amizade, e também a partilha, mais um dos “fatores de união e até de sobrevivência de uma aldeia que sempre lutou contra o declínio.”
No mesmo dia, haverá ainda o lançamento do livro “Água das Casas”: Uma amostra, da autoria de José Martinho Gaspar. “O livro conta trinta histórias, ou estórias, que partem de memórias das pessoas do território. As narrativas apresentadas, ilustradas com fotografias, resultam de testemunhos sobre o quotidiano de Água das Casas, desde inícios do século XX, a que, em alguns casos, se juntaram elementos ficcionados. Afinal, quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto.”
No dia 28, também a partir das 17h30, será a vez da apresentação do Grupo de Teatro do Souto, grupo formado há muito pouco tempo por outra associação cultural, também do norte do concelho”. Sobre o espetáculo “Histórias Inventadas da Aldeia do Souto”, a sinopse diz que “é um mosaico de memórias e estórias em que verdade e ficção se entrelaçam sem pedir licença. Umas aconteceram mesmo, outras poderiam ter acontecido e algumas talvez ainda venham a acontecer. Num mundo onde o ciclo natural das coisas ficou perdido no tempo, recuperamos pedaços de estórias e das gentes do Souto. Entre tabernas e barragens, fogueiras e varapaus, santas e fontes milagrosas, este é um retrato vivo do Souto. Qual Souto? É que há muitos…”
Depois desta mostra, as atividades ao longo do ano continuam. Como Filipa Francisco referiu, “a seguir à mostra da Água das Casas, nós vamos estar também em Abrantes, com um trabalho dentro das escolas, Agrupamento de Escolas de Abrantes, em que temos um trabalho também de dança e teatro, de levar as crianças a conhecer as artes”. Esta é uma iniciativa que encerrará no dia 5 de dezembro, no auditório da Escola Secundária Dr. Manuel Fernandes.“Até dezembro, temos também aqui ainda em Abrantes um curso de mediação e temos em Lisboa um curso sobre missão das associações culturais”.
Rúben Filipe