O Instituto Politécnico de Tomar (IPT) lançou hoje em Mação a primeira Cátedra de Arqueologia Rupestre da Europa, iniciativa pioneira que visa consolidar a disciplina, desenvolver infraestruturas de investigação de excelência e criar programas académicos inovadores com projeção internacional.
A coordenadora da cátedra, a arqueóloga Sara Garcês, que fez a sua apresentação internacional, explicou que o programa “é inovador e a primeira a nível nacional e europeu” e acrescentou que pretende consolidar “a arte rupestre como uma sub disciplina séria, estruturada, da arqueologia”, reunindo investigação, formação e divulgação.
“Neste momento temos todas as ferramentas para construir um programa sólido e extremamente dedicado aos estudos da arte rupestre. É um culminar de um processo de 25 anos, desde a descoberta da primeira gravura de arte paleolítica em Mação”, no distrito de Santarém, afirmou.
Segundo a responsável, a cátedra adota uma abordagem holística, integrando investigação arqueológica, humanística, científica e tecnológica.
“A Arqueologia Rupestre deve ir além da simples descrição iconográfica, combinando documentação de campo, análises arqueométricas, conservação, tecnologias digitais avançadas e interpretação contextual. Só assim é possível compreender os sítios em termos históricos, simbólicos e patrimoniais, reforçando a ligação entre comunidade, território e memória”, destacou Garcês.
O programa da cátedra, hoje apresentada e que inicia no imediato, estrutura-se em três eixos: científico-tecnológico, pedagógico e de transferência de conhecimento.
No eixo científico-tecnológico serão exploradas metodologias multidisciplinares, incluindo documentação 3D, inteligência artificial, análises laboratoriais e repositórios digitais de dados.
O eixo pedagógico prevê cursos de pós-graduação, microcredenciações especializadas e programas de formação inovadores, promovendo a transição entre academia e prática profissional.
Já o eixo de transferência de conhecimento contempla a produção de manuais técnicos, protocolos padronizados de referência internacional, organização de colóquios e disseminação científica.
Sara Garcês, arqueóloga e responsável pela nova Cátedra do IPT

O professor Luiz Oosterbeek, coordenador no IPT, salientou que a criação da cátedra “é o reconhecimento por parte da Fundação para a Ciência e Tecnologia, através do Centro de Geociências, de que se construiu aqui um centro que hoje trabalha em vários continentes”.
O docente sublinhou ainda que “Mação possui hoje algumas das mais avançadas metodologias técnico-científicas para o estudo da arte rupestre, do tratamento digital de imagens ao uso de inteligência artificial”.
Luiz Oosterbeek, investigador e diretor do Instituto Terra e Memória

Mas na sua intervenção, Luiz Oosterbeek, para além de fazer todo o enquadramento das descobertas e dos passos seguintes destacou a parceria com o Município de Mação, desde a primeira hora. E deu um exemplo que é, segundo afirmou, caso único no país. “Mação0 foi o único município em Portugal que nos anos difíceis a seguir à crise de 2008, que chegaram aqui a Portugal por volta de 2010, que não cortou o financiamento à cultura e ao museu. Único. O Ministério da Cultura cortou. Todos os outros, mais de 300 municípios de Portugal cortaram. Só Mação não o fez.”
Depois acrescentou os reconhecimentos de Mação na UNESCO: “Mação tem, hoje, quatro reconhecimentos da Unesco. Mação tem a Cátedra Unesco do IPT; tem também o reconhecimento de Cidade da Aprendizagem (foi o primeiro município português que entrou na rede Unesco das Cidades da Aprendizagem); tem o reconhecimento de Escola Unesco; e Mação tem a sua biblioteca, reconhecida na rede de bibliotecas da Unesco.”
E anunciou que, muito brevemente, vai ter mais um selo da Unesco, ligado às questões do desenvolvimento territorial.
Luiz Oosterbeek, investigador e diretor do Instituto Terra e Memória

João Coroado, presidente do Instituto Politécnico de Tomar, destacou a importância da existência numa vila tão pequena de iniciativas desta dimensão. “estamos a falar de iniciativa à dimensão eu vou dizer europeia, mas para lá disto. Por isso é que nós temos aqui a estudar no âmbito dos cursos que estão disponibilizados em parceria quer com o Instituto Politécnico de Tomar, Universidade Autónoma, quer no âmbito do Centro de Investigação das Geociências do qual o Instituto Politécnico de Tomar tem um ponto de gestão e está assediado na Universidade de Coimbra.”
O presidente do IPT vincou que a vila de Mação é um centro, é um ponto de encontro de investigadores e cidadãos que olham para o que se relaciona com as humanidades, naturalmente com o foco daquilo que Mação tem de muito importante, que tem a ver com a arte rupestre.
João Coroado, presidente IPT

O presidente da Câmara de Mação, José Fernando Martins, destacou a importância do momento. “Aquilo que vai ser apresentado aqui hoje pela Sara Garcês, um novo projeto e um projeto bastante interessante que trará mais alma e mais vida para esta vila do interior de Portugal.” E justificou que esta Cátedra trará mais alma e mais vida porque “Mação vai ser a partir de hoje o palco de um projeto internacional baseado na arte rupestre e que poderá trazer aqui, tal como trouxe desta vez muitos de vós, muito mais pessoas.”
José Fernando Martins voltou a frisar a importância de apostar neste segmento cultural e histórico “pelo impacto que cria também na nossa economia local”, apontando a um objetivo “Sou um defensor da economia com retorno. é importante que toda a gente venha é importante que se invista.”
E notou ainda que, fazendo uma analogia, este é o momento de registar uma patente no âmbito da arte rupestre e que, “a partir de hoje quem quiser estudar a arte rupestre terá que vir a Mação, porque é aqui em Maçã que está esse conhecimento, que está essa marca registada.”
José Fernando Martins, presidente CM Mação

O lançamento da Cátedra decorreu no auditório do Centro Cultural de Mação, enquadrado no ‘workshop’ TupART e na Assembleia Geral da Associação Caminhos da Arte Rupestre Pré-histórica (CARP), coincidindo com o 25.º aniversário da descoberta do “Cavalo do Ocreza”, uma gravura paleolítica com mais de 20 mil anos.
“Este é também um momento de consolidação de uma rede que ajudámos a criar, com 15 anos, dos caminhos de arte rupestre do Conselho da Europa, e de reconhecimento do investimento científico que o IPT tem feito nestes anos. Estratégias em cultura e educação demoram tempo, e hoje temos essa realidade consolidada, com a comunidade e as instituições ao lado do projeto”, disse Luís Oosterbeek.
A cátedra terá sede em Mação, no Instituto Terra e Memória, e articula-se com o Centro de Geociências do IPT.
Segundo Sara Garcês, “é um programa estruturado para criar protocolos duradouros para trabalhar com a arte rupestre, consolidando metodologias e terminologias e estruturando a disciplina como área de excelência”.
Apresentação da Cátedra por Sara Garcês (em Inglês)

Com esta iniciativa, o IPT reforça o papel de Mação como polo de investigação em arte rupestre, promovendo cooperação internacional e colocando Portugal na “vanguarda europeia da arqueologia rupestre”.
Jerónimo Belo Jorge c/Lusa
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