A edição de 2019 das Festas do Concelho de Sardoal está aí e, para além da música, há gastronomia, artesanato e, acima de tudo, “a arte de bem receber”. Fomos saber pormenores do que está previsto como o presidente da Câmara Municipal, Miguel Borges.
Sardoal vai estar em festa. O que caracteriza a edição de 2019?
Caracteriza aquilo que tem caracterizado as edições anteriores: uma mostra de saberes e de sabores das gentes do Sardoal. Daquilo que nós sabemos fazer de melhor, incluindo a arte de bem receber quem nos visita, os nossos sabores e o nosso convívio, a nossa alegria, que nestes três dias se concentram de uma forma ainda mais intensa.
No cartaz musical, tenta-se sempre que haja uma conjugação de gostos. Vai continuar a haver essa preocupação com as diferentes faixas etárias?
Sem dúvida. São três dias com tipologias diferentes de público. Não quer isto dizer que não haja público que, transversalmente, goste de todos os espetáculos. Começando pelos nomes mais sonantes, vamos ter no sábado, dia 21 de setembro, o Olavo Bilac – que é um ex ‘Santos & Pecadores’ que comemora os 25 anos de carreira. Na sexta-feira temos o grupo D’Alva, que é um grupo virado para a malta nova. E no domingo, como tem sido já nos últimos anos, temos uma noite de fados, neste caso com uma artista da nossa região, Dora Maria, acompanhada de alguns amigos. Mas mesmo no cartaz musical temos também outro tipo de espetáculos: no espaço das tasquinhas, por trás da Câmara Municipal, na sexta-feira vamos ter três grupos da terra. Três a quatro jovens do Sardoal que fazem música moderna e que têm tido sucesso. Depois no sábado, também neste espaço, vamos ter o grupo A-Part, numa noite de arraial. E no domingo iremos ter também um DJ para acabarmos a noite em festa.
Na Praça Nova vamos ter também, na sexta-feira, o Pedro Dionísio, um excelente músico aqui da nossa região. No sábado, dia 21, vamos ter o Mário Rui e a Isabel a fazer um espetáculo no Centro Cultural Gil Vicente. E no domingo iremos também ter animação na Praça Nova com o coro infantojuvenil da Filarmónica União Sardoalense.
Mas depois temos também um espaço mega-animação para os mais novos na Praça Nova, temos as nossas tasquinhas, temos o festival hípico, temos o folclore, temos o GETAS que na sexta-feira irá fazer um “Desconcerto”.
Este ano vamos ter também o 16º trail Terras do Sardão, por isso aquilo que se prevê é muita animação – desportiva também. Vamos ter o Torneio Taça Amizade entre o Grupo Desportivo de Alcaravela e os Lagartos de Sardoal, portanto temos uma oferta diversificada para todos os gostos e também para todos os sabores, nas tasquinhas.
E muito importante também, vamos ter o concurso de pintura ‘ À Descoberta do Mestre’ e também a exposição ‘100 Paragens’- que é uma exposição que vai estar no espaço Cá da Terra, alusiva ao Boletim 100, uma vez que o próximo boletim municipal é o número 100 então é motivo de alguma reflexão especial.
Este é um programa que se assume para toda a região?
É um programa que fecha a época das festas da região. Nesta altura, os sardoalenses estão muito mais ocupados, porque são eles que fazem a festa: o futebol são os sardoalenses que fazem, as tasquinhas, a filarmónica, por isso os sardoalenses vão estar muito envolvidos na construção e na participação da festa.
Nós temos dois momentos altos, dois momentos de festa em que os sardoalenses gostam de vir à terra: na Semana Santa e nas festas do concelho, onde as famílias se juntam, onde grupos de amigos se reencontram nesta altura. E claro que é muito importante aqui a participação especial do São Pedro, e acredito que tenhamos bom tempo no final de setembro.
Mas Sardoal está preparado para receber os milhares de visitantes que vêm de todo o lado e não só sardoalenses …
Sem dúvida. O exemplo dos outros anos mostra que temos tido capacidade de resposta para o fazer. Daí também, muitas vezes, termos de ter algum equilíbrio entre aquilo que mostramos e oferecemos e as expectativas que criamos para quem nos visita. E nós temos de perceber e adequar a nossa resposta ao número de visitantes que temos. Não podemos dar um passo maior do que a perna, porque se o fazemos depois não temos condições para receber as pessoas bem e para que as pessoas se sintam confortáveis.
Portanto, o formato atual funciona?
Sim. Foi um formato que resultou o ano passado. Há aqui uma reflexão que é sempre muito interessante que é “vamos mudar o local”, mas depois pensando bem ninguém imagina as festas noutro que não seja neste espaço privilegiado que é junto ao pelourinho, que tudo gira em volta do pelourinho. E depois a animação que há nas ruas, nas diferentes tasquinhas, é muito importante.
Esta é uma festa em que as associações do concelho também têm uma presença muito vincada. Continuam a contar com todos?
Sim, cada um faz aquilo que pode. Sabemos que há associações em que os órgãos diretivos até são pessoas que não estão cá, que estão fora e ao fim de semana se juntam. Há diferentes realidades no nosso tecido associativo. Por exemplo, no trail Terras do Sardão temos a colaboração de quase todas as associações, nesta logística em que é necessária muita gente. Agora uma coisa é certa: todas as associações que querem participar participam e não há nenhuma associação a que tivéssemos pedido apoio e que tivesse recusado, por isso quando assim é, estamos todos satisfeitos.
Há obras em curso no concelho. Uma escola nova, ETAR’S com a nova empresa de água, … o que é que vai mudar em Sardoal nos próximos tempos?
Há muita coisa que está a mudar e que vai mudando, é normal que assim seja e é nossa obrigação como autarcas percebermos aquilo que é importante para o nosso concelho, aquilo que precisa de mudar e nós canalizarmos as nossas energias para aí.
A escola nova está numa boa fase de construção, está a andar de acordo com as expectativas. A criação da nova empresa Tejo Ambiente possibilita também que ganhemos aqui escala – com mais cinco municípios – para que possamos fazer uma intervenção diferente e uma gestão diferente no âmbito do ambiente. Com a possibilidade de nos candidatarmos a fundos comunitários para recuperarmos e melhorarmos as infraestruturas porque ganhamos escala ao estarmos associados com outros municípios e isso não só é importante como é a única forma de se fazer as coisas agora, em termos de financiamento da União Europeia e de racionalidade do recursos, tem de ser assim senão não fazia sentido.
A piscina entra este mês em obras. Também a requalificação do Externato Rainha Santa Isabel é uma realidade – temos a candidatura no PARU, está aprovado e acreditamos que a CCDR aprove até ao final do ano a candidatura específica para o externato, para onde vai passar a biblioteca.
E vamos continuar a fazer a recuperação do pavimento nas aldeias. Neste caso, vamos direcionar o nosso esforço para a freguesia de Santiago de Montalegre. Não conseguimos chegar a todas ao mesmo tempo, temos de fazer esta racionalidade daquilo que são os nossos recursos financeiros porque estamos a falar de obras sem comparticipação comunitária, tem de ser toda ela exclusivamente do Orçamento Municipal e quando a manta é curta nós não podemos puxar toda de uma vez, temos de ir puxando devagarinho para ver se não nos constipamos financeiramente.
Há outros projetos como o da Casa Grande e o Centro de Interpretação...
O processo Casa Grande levou um recuo. Porque, na verdade, o promotor a partir de determinada altura queria que nós lhe vendêssemos a Casa Grande e entendemos por bem que não estariam aí defendidos os interesses do Município. Por isso, o que fizemos foi rescindir o acordo com o promotor e neste momento temos outras possibilidades que estamos a analisar, sendo certo que tem de haver aqui uma articulação a três: o Município disponibiliza o imóvel, o promotor apresenta o projeto e o Turismo Fundos financia. Ainda está a ser cozinhado.
O Centro de Interpretação da Semana Santa está a andar, as obras estão a correr dentro da normalidade. Houve agora um pedido de prorrogação de prazo por parte do empreiteiro que nós concedemos, porque estas obras têm sempre uma especificidade muito grande e são muito minuciosas e às vezes há surpresas que aparecem.
Na próxima Semana Santa a obra de empreitada estará concluída mas depois falta uma parte do Centro de Interpretação que é a produção de conteúdos, e estamos a trabalhar na preparação para fazer um concurso de atribuição dessa parte.
Já a candidatura da Semana Santa a Património Cultural está entregue e aguarda-se resposta.
O investimento privado também foi notícia este ano. Como estão os processos de instalação de novas empresas?
O que eu posso dizer é que nós tínhamos dois terrenos disponíveis na zona industrial, fizemos abertura do procedimento e estão entregues. Temos processos também de alguns espaços que estiveram fechados e o processo está a decorrer. Mas todos os outros problemas que nós tínhamos foram resolvidos e neste momento não temos lotes disponíveis na zona industrial, por enquanto. Estamos a fazer a revisão do PDM e é claro que vamos ter em consideração uma expansão ou um novo parque empresarial. Sendo certo que aqui há constrangimentos porque para haver financiamento para fazermos um parque industrial tem que haver criação de infraestruturas e isso é muito caro e fá-lo-emos com investimento comunitário. E a lógica da comunidade europeia neste momento é: havendo espaços disponíveis na região, não financiam novos. É a gestão de recursos e o pensarmos que a nossa área de intervenção deixou de ser os 92 km2 e passou a ser o Médio Tejo. Se a 100 km da nossa zona industrial temos lotes disponíveis mesmo que seja noutros concelhos, a União Europeia não vai financiar.
Temos uma nova empresa que se fixou e que está a fazer obras para adaptação nas antigas instalações da Sarplás que muito nos satisfaz. Em relação a este espaço, vai ter um número significativo de trabalhadores e vai dar uma dinâmica à nossa economia local e isso é muito importante.
Mas também vão aparecendo sempre pequenos comércios e negócios com alguma dinâmica. Agora, nós temos aqui um problema: é que a atratividade de uma cidade como Abrantes tem vantagens mas também tem desvantagens. E se nós pensarmos que as grandes superfícies comerciais põe um autocarro no Sardoal para irem fazer compras às suas superfícies, isto faz com que a dinâmica local em termos, por exemplo, de supermercados não seja aquilo que nós gostaríamos que fosse. Por isso, às vezes não é a só a vontade que nós temos de fazer as coisas, é também esta proximidade que tem vantagens mas também pode ter desvantagens.
Mas a requalificação urbana também serviu para a adaptação de novos espaços e estão a abrir novos comércios...
Há pequenos espaços que estão a aparecer e o nosso gabinete de apoio a empresário tem estado com grande articulação com pessoas que têm muita vontade de se fixar no Sardoal e isso é importante.
Tem vindo gente de fora a procurar Sardoal?
Muita gente de fora. E é um problema que nós temos: respostas em termos de habitação. Nós temos alguma habitação mas não tem sido o suficiente. Não é que nós não tenhamos já feito várias ações, inclusivamente com o IHRU, e neste momento estamos a trabalhar a estratégia local de habitação precisamente para perceber o que é que podemos fazer, fazer o diagnóstico para depois perceber qual é o caminho e como é que a Câmara Municipal pode colaborar nesse sentido.
E a aposta na cultura e na educação de públicos vai manter-se? Temos o jazz, o piano, o teatro, o bailado…
Sem dúvida. É uma responsabilidade, é uma obrigação dos Municípios. Nós não fazemos isso só porque gostamos de ir ver e ouvir.
Têm noção que fazem a diferença na nossa região em termos de oferta?
Como nós pensamos em região aquilo que pensamos é em quê é que podemos contribuir e que seja diferenciador. É claro que os outros Municípios fazem isso tudo também, fazem os seus espetáculos. Nós estamos a fazer as coisas de uma forma esquematizada. Nós queremos que as pessoas saibam que em junho há piano no Sardoal, que no primeiro fim de semana de maio há jazz no Sardoal...
Nós temos um projeto da rede Eunice que vai entrar numa nova fase. Houve aquela fase em que tivemos um grupo de espetáculos de itinerância, agora vão ser outros Municípios contemplados, nós vamos continuar a pertencer à rede mas não entramos nesse grupo de espetáculos. Vamos continuar a ter espetáculos no âmbito da rede Eunice, mas de uma rede que nós próprios criámos também. Agora, os Municípios que fazem parte da rede e que passaram para a segunda fase, de formação, vamos continuar a ter esta promoção de espetáculos. Porque uma coisa é uma Câmara Municipal contratar um espetáculo que já sabemos as características do nosso auditório, por isso, podemos nós, em articulação com o Teatro Nacional Dª. Maria II, promover e receber outro tipo de espetáculos.
Vamos continuar a pertencer à rede Eunice porque o melhor que tem é não cortar os laços entre os diferentes parceiros. Esta foi sempre a minha primeira preocupação desde o primeiro momento. Isto é muito bonito mas nós não queremos que o Dª. Maria venha três anos, apresenta-nos espetáculos e se vá embora. Nós queremos criar aqui laços, uma verdadeira rede e pontes para que as coisas continuem.
Como é que o munícipe Miguel Borges vive estas festas?
Na festa, em festa. Porque, tirando as cerimónias oficiais, as coisas estão a andar, estão feitas, estão organizadas. Vou andar na festa com o telemóvel ligado, atento e sempre que haja alguma coisa que eventualmente seja necessária a minha intervenção aqui estarei.
Vou correr as tasquinhas todas, como é normal, vou assistir ao maior número de concertos possíveis e às vezes vou andar a correr de um lado para o outro, porque há prémios para entregar, mas há tempo para isso. São só dois dias e meio.
Qual o investimento do Município nestas festas?
40 mil euros. É importante que as pessoas percebam que a manta é curta, volto a dizer. Nós estamos a fazer uma escola e temos que contribuir com 15% do financiamento da escola. Vamos continuar a fazer alcatrão e precisamos de dinheiro para isso. Vamos fazer o colégio e vamos pagar 15% das obras. Vamos fazer a segunda fase dos corredores na zona histórica – queremos começar em obra até ao final do ano. A piscina descoberta, que nunca teve uma intervenção. As máquinas são velhas e a valorização desta candidatura foi em termos de ambiente e de minimizar os prejuízos. Estou a dizer isto porque as festas são feitas à nossa medida, à medida das nossas condições financeiras.
Mas também é importante que se perceba qual é o nosso racional: aquilo que nós achamos que devemos investir em termos culturais e de animação não o fazemos concentrado nos nossos dias de festa. É claro que nós podíamos ter um programa maior e diferente se aquilo que investimos durante o ano em termos orçamentais fosse concentrado só nestes três dias, mas o que é certo é que depois teríamos um deserto cultural no resto do ano e nós não queremos isso. Nós queremos que o ano tenha vários momentos, até porque quando falamos em festa e identidades culturais falamos em desenvolvimento económico. Nós sabemos muito bem, e basta falarmos com os nossos empresários, por exemplo da restauração e da hotelaria, que quando há jazz, quando há piano e essas atividades, o Sardoal enche-se de gente, e muitas vezes esgota a capacidade de oferta e isso é o retorno que temos também. Não é só o bem estar e a importância cultural de quem assiste a estas coisas, e que é muito importa que assistam para refletir, mesmo que esteticamente possamos não gostar de uma coisa ou outra, mas é importante que as pessoas possam ir lá e depois levem para casa qualquer coisa, as suas dúvidas e que possam ser momentos de reflexão. E isso faz com que as pessoas se desenvolvam como cidadãos proativos e percebam que há mais mundo.
Não nos esqueçamos também que nós temos um grande investimento e diferenciador em termos de investimento financeiro no âmbito da Proteção Civil. Nós temos bombeiros municipais, mistos, e cerca de 10% do Orçamento da Câmara é para a Proteção Civil. Nós somos dos Municípios, em termos percentuais, que mais investe na Proteção Civil. Se pensarmos naquilo que é a percentagem do Orçamento Municipal na Proteção Civil, arrisco-me a dizer que a nível nacional estamos nos 10 que proporcionalmente mais investem em termos de Proteção Civil. Gastamos cerca de 600 mil euros por ano na Proteção Civil e é uma questão de opção. E continuo a achar que nós estamos certos. O presidente de Câmara gosta de dormir descansado e até agora tem dormido descansado. Não tem feito as coisas todas perfeitas, nunca as fará, mas faz com a consciência de estar a fazer o melhor para a sua terra. Às vezes, falha, arrepiamos caminho e damos a volta por outro lado.
Nesta altura, que palavras devem ser transmitidas aos sardoalenses?
Quero que os sardoalenses se divirtam, que mais uma vez mostrem aquilo que eles bem sabem fazer, que é a arte de bem receber, a arte de bem mostrar aquilo que eles sempre fizeram, seja teatro, seja música, seja doçaria, seja vinho, seja única e simplesmente passarem pelas pessoas, como acontece, por exemplo, professores que vêm de fora e dizerem ‘esta terra tem qualquer coisa de diferente. É que eu passo pelas pessoas e elas dizem bom dia e boa tarde’.
Esta arte de bem receber é das pessoas. As pessoas são o nosso grande potencial e é isto que vamos mostrar nas festas. Por isso, os sardoalenses só têm de ser naturais, aquilo que são durante todo o ano e que aproveitem as festas para se divertir.
Patrícia Seixas