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Entrevista JA: “Que se divirtam, que sejam felizes e sempre com muita saúde” - Miguel Borges

22/09/2022 às 08:41

O 491.º aniversário de Elevação de Sardoal à Categoria de Vila comemora-se a 22 de setembro. O Dia do Concelho marca o arranque das Festas e o Jornal de Abrantes conversou com o presidente da Câmara, Miguel Borges, sobre festejos e a restante atualidade no concelho.

Entrevista por Patrícia Seixas

Fotos de Paulo Sousa

 

Música, gastronomia, artesanato mas, acima de tudo, “a arte de bem receber”... é bom estar de volta?

É muito bom estar de volta. É muito bom, depois destes dois anos em que houve uma pandemia que nos retirou este prazer de estarmos juntos, de conviver, de ter contacto com atividades culturais ou desportivas, ter o prazer de ver aquilo que bem se faz e que de melhor se tem no nosso concelho... é mesmo muito bom estar de volta.

 

O Município é a âncora das Festas do Concelho mas este é um evento que conta com o envolvimento de uma comunidade alargada...

Sim, é uma festa que gira em torno do Dia do Concelho, do Dia de Elevação do Sardoal à categoria de vila, mas é um dia comemorado com o empenho, a dedicação e com o esforço de toda a nossa comunidade. Não só o sardoalense, individualmente, mas também todas as associações, todas as entidades que se empenham nestas nossas comemorações e neste momento tão especial para nós.

 

Este é o seu último mandato à frente da Câmara Municipal. Há alguma marca que queira deixar também nestes festejos ou as Festas do Concelho estão consolidadas e não há alterações?

Não há alterações. Não é que nós não façamos uma reflexão sobre o modelo de festas que temos e se poderia ser outro modelo - como se diz, podia ser outro modelo mas não era a mesma coisa - e todos os anos nos perguntamos: “vamos mudar? Vamos fazer diferente?”. Mas o mudar e fazer diferente não é só mudar e fazer diferente. É bom que se faça para melhor mas depois temos essa dificuldade, encontrar para melhor. Por exemplo, temos um problema - que não é problema, é a característica da nossa vila - mas não temos espaços como outras vilas ou cidades têm, um espaço com dimensão suficiente para podermos concentrar tudo lá. Pelo menos um espaço que não fique muito longe do centro da vila, porque também entendemos que uma das características das nossas festas é o facto de todas as atividades decorrerem no centro da vila. Temos o palco principal no Largo do Pelourinho e os outros dois palcos, um a uma distância de 50 metros e outro a 100 metros. As diferentes tasquinhas também dão dinâmica a este núcleo histórico. Imaginemos tirar daqui as festas e concentrá-las, por exemplo, no campo de futebol ou nas imediações... era descaracterizar as nossas festas. E há momentos que são muito bons porque são feitos no centro da vila, como os artistas saírem do palco principal e continuarem nas tasquinhas a comer, a beber e a tocar. É a festa depois da festa e esta dinâmica é muito interessante.

 

O cartaz musical é, habitualmente, escolhido de modo a satisfazer as várias faixas etárias. Essa é uma preocupação na definição das Festas?

É. Juntar entretenimento com qualidade. É isso que nós pretendemos fazer e, ao mesmo tempo, uma resposta diversificada. Por vezes, trazer tendências ou grupos ou áreas que nem sempre vêm às nossas festas. É o caso da Brigada Victor Jara, que é um grupo de culto da nossa música tradicional. Arrisco-me a dizer que é o grupo que mais tem feito pela divulgação da música tradicional e popular portuguesa e vão estar cá. Pessoas que há muitos anos fazem este trabalho de tratamento daquilo que são as nossas tradições com muita, mas mesmo muita qualidade. As nossas festas são isso: arte, ofícios, tradições. A Brigada Victor Jara vai ser acompanhada, num outro palco, por outro grupo de música popular e tradicional. É algo que já não vinha às nossas festas já há uns anos.

Depois temos os grupos de rock, como os The Black Mamba. Um grupo que teve uma notoriedade pós Festival da Canção mas é redutor pensar que os The Black Mamba são a música do Festival. É uma música muito bonita, na verdade, mas é um grupo excelente, que tem músicas fantásticas. Um grupo de música jovem mas que os menos jovens também gostam, de certeza absoluta.

Miguel Gizzas é um jovem com ligações ao Sardoal, que tem estado a fazer um trabalho multi-artístico, ou seja, consegue abranger várias áreas. É músico, escritor de canções, tem um livro associado às canções que escreve e tem também apresentação de vídeo. É multifacetado em termos de apresentação cultural. Vai ser um espetáculo diferente. Aliás, o Miguel Gizzas já cá esteve no Centro Cultural e agora vai apresentar um outro espetáculo nas Festas do Concelho.

No domingo, último dia, um grupo jovem, com música jovem, que são os Viralata. Isto no palco principal. Pós palco principal, temos músicas de várias tendências mas mais moderna, em que podemos estar a dançar, no palco que temos no estacionamento atrás da Câmara.

 

Esse é um palco cuja aposta é habitualmente na “prata da casa”. E Sardoal tem, neste caso, uma grande património de “joalharia”...

Terá alguma “prata da casa” mas nós também tentamos não repetir os grupos, pelo menos em anos seguidos, e nem sempre é possível. Contudo, os artistas da terra têm sempre espaço nos nossos espetáculos. E posso dizer que não têm mais porque alguns não estavam disponíveis, apesar de os termos contactado.

Falta falar no espaço das Artes e Ofícios, na Praça Nova, que terá igualmente animação. São, portanto, três espaços com animação, este último antes do palco principal.

 

Depois desta quase interrupção nas nossas vidas, mantêm-se os artesãos do concelho? Há quem tenha desistido ou quem tenha iniciado?

De ano para ano, o número de artesãos que temos tem vindo a crescer. Considerando o espaço que temos, que não é muito, tivemos que decidir quem vai participar na mostra de Artes e Ofícios. A opção recaiu nos produtores, artesãos, locais, que estão representados no Espaço Cá da Terra. E só esses chegam para encher uma mostra. E faz sentido. Mas referir que temos esta mostra todos os dias do ano no Espaço Cá da Terra.

 

E que imagem se pretende passar nestes dias a quem vos visita? Apesar de sabermos que “em Sardoal, ninguém é de fora”...

É importante que as pessoas se divirtam, que se alimentem bem - a nossa gastronomia é um ponto forte das nossas festas -, que desfrutem da “arte de bem receber” para que as pessoas se sintam sardoalenses porque “ninguém é de fora”. Tem que haver este conjunto de recursos que temos e que transformamos neste produto onde está a simpatia dos sardoalenses de bem receberem, a boa gastronomia, os bons vinhos, a boa animação... ao “permitir” que as pessoas circulem no núcleo histórico da nossa vila, que tenham contacto com aquilo que é uma riqueza que o Sardoal tem todos os dias do ano que é o nosso património no âmbito da fé e da religiosidade.

 

E é, este ano mais do que nunca, um pouco de oxigénio para a economia local?

Sim, são momentos que criamos e onde há essa dinâmica da nossa economia local. Fruto da vinda de mais gente ao Sardoal, há sempre mais movimento em termos de restauração, nos restaurantes, cafés e pastelarias mas quem nos visita também leva recordações de Sardoal e isso é muito importante para a nossa pequena economia.

 

Uma das obras de que mais se orgulha é a construção da nova escola. Para quando a obra fica definitivamente concluída?

Eu não sei se é a obra que mais me orgulha, mas é certamente a obra que mais trabalho me deu para conseguir esta aprovação. Eu lembro-me que, ainda em 2009, pouco depois de ter tomado posse como vereador e vice-presidente, foi a minha primeira reunião no Ministério da Educação, tentando convencer os decisores políticos da altura que uma escola nova para o Sardoal, ou a requalificação da escola que tínhamos, era muito, mas mesmo muito importante. Este convencimento foi trabalho que demorou alguns anos, até porque vínhamos daquela situação da Parque Escolar e os decisores na Câmara de Sardoal não entenderam como necessidade a recuperação da escola, apesar de já ter um diagnóstico de 2006 ou 2007 de necessidade de intervenção no valor de 1,4 milhões de euros, valores da altura e diagnóstico feito por técnicos do Ministério da Educação. Mas essa batalha foi vencida. Sempre defendi que a prioridade para o Sardoal era uma escola porque nenhum concelho se pode afirmar sem passar pela educação. E às vezes desvalorizamos a importância dos equipamentos. Só mesmo alguém de grande ignorância é que pode desvalorizar a importância que é toda a comunidade escolar ter as melhores condições de trabalho. É uma evolução fundamental, não é nenhum capricho e não é nenhum luxo.

 

Ainda será inaugurada este ano?

Claro. A escola já tem partes em funcionamento porque o projeto de construção previa que serviços iriam sendo deslocalizados à medida que a escola fosse construída. Foi idealizado assim. Ainda não foi inaugurada porque só agora se concluiu a última fase com a construção do pavilhão polidesportivo. Mas será inaugurada este mês de setembro.

 

Em andamento está a recuperação do Colégio, onde irá nascer a nova Biblioteca...

Sim, continua tudo ligado à educação. É um espaço que foi escola, foi colégio e foi biblioteca e agora volta a ser biblioteca. As obras estão a decorrer a bom ritmo, de acordo com o que estava planeado, e a conclusão da obra está prevista para março do próximo ano.

 

Da Casa Grande, há novidades por parte do fundo que a gere? Este é um dos assuntos que gostava de ver resolvido até final do mandato?

Não, não há novidades e sim, há, pelo menos, duas situações que gostava de ver resolvidas mas que não dependem da Câmara. Uma delas é realmente a recuperação da Casa Grande e dar-lhe um destino e o outro é a recuperação da Igreja Matriz. A Igreja não é da Câmara. A Câmara pode ser um parceiro e tentar convencer os decisores de que é importante haver financiamento para um monumento, que não é monumento nacional mas que tem a mesma importância. O entendimento da nossa CCDR foi que o financiamento era só para os monumentos nacionais. Eu tenho alguns sinais que indicam que esta batalha também vai ser ganha mas vamos ver se assim será. É que estamos a falar de dois edifícios de alto valor patrimonial que, quanto mais tarde se recupera, maior terá de ser o investimento. Em relação à Casa Grande, terá de haver uma parceria com um privado porque, só por si, a Câmara não tem capacidade e nem há financiamentos que possamos ter.

 

Parque industrial esgotado, projeto de Parque de Negócios em Andreus parado... que perspetivas para quem queira investir em Sardoal?

Foi das nossas prioridades para o próximo Quadro Comunitário e que está no PDM. Ainda neste mandato, queremos aprovar o novo Plano Diretor Municipal, que está a ser construído e contempla o alargamento da Zona Industrial, o que não substitui o Parque de Negócios de Andreus. O Parque de Negócios tinha o financiamento e todo o processo aprovados mas o concurso ficou deserto. A obra foi a concurso num valor de cerca de 900 mil euros e, claro, com o disparar de preços nos materiais da construção civil, o que nos foi dito foi que, se calhar, nem o dobro chegava. Havia duas coisas a fazer: fazer um novo processo que incluiria os novos preços, pedir novo parecer ao Tribunal de Contas, e entraria ainda dentro deste Quadro Comunitário. Só que este Quadro Comunitário tem que estar encerrado em junho. Não havia tempo para tudo isto e ainda fazer a obra. Então, o que falámos com a CCDR foi que seria uma boa opção adiar a obra e esperar pelo próximo Quadro Comunitário. São estas as prioridades referenciadas por nós: Parque de Negócios de Andreus e alargamento da Zona Industrial.

 

E há mais projetos que gostava de ver no terreno?

Tantos, tantos. E tenho a certeza absoluta que não vou conseguir neste espaço de tempo. Mas há um exercício interessante. Nós, no primeiro dia em que nos propusemos aos sardoalenses, em 2013, não fizemos qualquer promessa. Apresentámos uma lista de coisas que gostávamos de ver resolvidas durante um período de três mandatos, ou seja, em 12 anos e que seriam fundamentais para o nosso concelho. Convido as pessoas a pegarem nesse nosso levantamento das necessidades com o qual nos apresentámos a eleições em 2013 e, ao dia de hoje, ver o que é que falta fazer. Nós já o fizemos e falta fazer muito pouco. E o que falta fazer não depende de nós. Também não nos podemos esquecer - e não é desculpa para tudo - mas tivemos dois anos de pandemia. Mesmo assim, daquilo que era da nossa dependência exclusiva, está praticamente tudo feito. Mas há outras coisas, como o PDM, que é incompreensível. Houve novo adiamento por parte do Governo das conclusões do PDM. Não foi porque o concelho de Sardoal não tenha o PDM aprovado, não. É que, infelizmente, neste país, as estruturas que têm que trabalhar na revisão dos diferentes Planos Diretores Municipais, não têm capacidade de resposta. Só de uma entidade, estivemos mais de um ano à espera de um parecer que veio quase sob pressão porque tínhamos que cumprir prazos. E esse parecer era de uma entidade pública. Nós temos feito o nosso trabalho mas o PDM poderá ser um dos aspetos que não ficará concluído, não por nossa responsabilidade, mas porque o Governo alargou o prazo de conclusão dos PDM’s. Depois há questões que gostava de ver resolvidas mas que não são exclusivas do Sardoal, como a desertificação do Interior, que tem sido uma luta minha desde o primeiro momento, mas também posso dizer que é uma luta que tem sido ganha a pouco e pouco. Nos últimos anos, a população do Sardoal tem vindo a crescer e estamos a inverter a tendência. O número de alunos este ano para a nossa escola cresce numas boas dezenas. Também a lista de crianças a que não conseguimos dar resposta para a creche, que é um dos projetos que eu quero ver concluído nestes três anos. Mas este não era um projeto incluído no tal programa. Foi uma surpresa que tivemos mais ou menos a meio do mandato. E quero acrescentar coisas que às vezes não valorizamos mas foi um compromisso nosso logo no início deixar as estradas do concelho de Sardoal em condições. Isso está praticamente feito. A não ser que surja alguma situação muito complexa, isto depende de nós e sabemos que o vamos fazer até final do mandato. Porque há outras coisas que não controlamos como as duas passagens hidráulicas na serra de Alcaravela de que não conseguimos perceber a dimensão do problema nem o valor da obra. Também não estávamos à espera de gastar cento e muitos mil euros na reabilitação da barreira na entrada de Sardoal

 

Após dois anos de ausência, qual a palavra a deixar aos sardoalenses nesta altura?

Que se divirtam, que sejam felizes e sempre com muita saúde. E esta palavra, saúde, é muito importante porque não podemos dizer, de todo, que isto passou. Não podemos dizer que o Covid não volta ou que não aprece outra coisa parecida. É muito imporante que possamos compreender, interiorizar e pôr em prática alguns ensinamentos forçados que tivemos, por causa destes dois anos de pandemia. Que passem a fazer parte da nossa vida a partir deste momento. Divertirmo-nos, sermos felizes, mas sempre com a preocupação de termos a saúde em primeiro lugar.

 

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