A Feira Mostra de Mação terminou este domingo. Este ano, o certame contou com a visita do ministro Adjunto e da Reforma do Estado, Gonçalo Matias. Na cerimónia oficial do certame, na passada sexta-feira, dia 4 de julho, a presidente da Câmara, deixou alguns pedidos ao ministro. Antes, Margarida Lopes justificou a escolha de Gonçalo Matias para marcar presença em Mação.
“Esta escolha, por assim dizer, não foi aleatória. Em conversa com o Dr. Vasco Estrela, o seu nome surgiu naturalmente, sabendo a ligação e a ajuda que já deu ao nosso concelho em vários momentos e como conhece tão bem o nosso território”, disse a presidente.
Em jeito de brincadeira, a autarca referiu que “ foi um convite e a sua presença reveste-se ainda de maior importância, por ser a sua primeira visita e inauguração oficial desde que se encontra no exercício destas novas funções. Permita-me a ousadia de brincar, dizendo que também esta é a minha primeira inauguração da Feira Mostra enquanto presidente da Câmara em exercício, pelo que hoje, neste aspeto estamos em pé de igualdade”. E aproveitando a ocasião, “dirijo-lhe umas breves palavras mas que lhe peço que as possa levar consigo e que o Governo as possa ter em consideração, porque é de facto a vossa missão e obrigação”.
Os pedidos de Mação ao Governo
A perda de serviços em territórios de baixa densidade foi uma das preocupações da autarca, que aproveitou a ocasião para deixar alguns pedidos e alertas ao governante.
“Como bem sabe e conhecedor que é do nosso concelho, sabe que somos um território de baixa densidade. Somos um território do interior, tantas vezes lesado por decisões, a meu ver mal tomadas pelos sucessivos Governos, relativamente a diversas matérias que nos envolvem. Estando com a pasta da Reforma do Estado, peço-lhe que olhem de uma forma diferente para os territórios de baixa densidade. Não se pode tratar de forma igual aquilo que é definitivamente diferente”, afirmou Margarida Lopes, que acrescentou que “as mesmas medidas não podem ser aplicadas para municípios e territórios com características e realidades tão distintas”.
Uma delas, prende-se com “a questão de serviços que fecham e que obrigam os nossos munícipes, muitas vezes, a terem de se deslocar a outros concelhos”. Segundo Margarida Lopes, “muitas situações só não ficaram mais complicadas por teimosia da Câmara Municipal de Mação, que fez todos os esforços para que se mantivessem abertos ou estando do lado da solução, para que continuassem a funcionar em Mação”.
Também a questão da descentralização de competências “é outro ponto que muito nos tem afligido”. Para a autarca, “estão a ser e já foram transferidas competências para as Câmaras Municipais, que compreendo pela proximidade com entidades e munícipes, mas não pode ser feita de uma forma tão ligeira como aquela a que temos assistido”. Margarida Lopes declarou que “as Câmaras Municipais merecem muito mais respeito do que aquele que lhes tem sido dado em casos muito concretos”, admitindo que, algumas vezes, provocam “graves prejuízos aos municípios, que já antes se substituíam ao Estado. Os municípios têm de ser tratados com respeito, têm de ser ouvidos e, obviamente, acarinhados. E, por conseguinte, aos munícipes para quem trabalhamos todos os dias e a quem queremos prestar sempre um bom serviço público”.
Os apoios sociais despendidos pelo Município também estiveram no cerne do discurso, com a presidente da Câmara de Mação a declarar que “por mais políticas municipais que possamos desenvolver e implementar no território, e são muitas, desde a infância à terceira idade, com apoios sociais em termos de educação e auxílio empresarial a vários níveis, se não houverem políticas nacionais que as acompanhem e sustentem e que, acima de tudo, diferenciem os territórios, seremos reféns da nossa interioridade”. Anunciou, portanto que “precisamos de medidas que nos ajudem a fixar jovens, a fixar empresas... precisamos de ajuda”.
A falta de médicos de família, é “um problema gravíssimo que temos em mãos”. O Centro de Saúde de Mação conta atualmente com “duas médicas ao abrigo do nosso sistema de incentivos à fixação de médicos”. Para Margarida Lopes, “é, de facto, importante e urgente investir nas pessoas, no território. É preciso investir nas condições de vida de municípios como o nosso, que estamos prontos para os desafios da modernização administrativa, da redução da burocracia, mas para tal, também precisamos de condições”.
“E como é que pode um munícipe preencher um formulário online se não há rede nem internet sequer na sua zona de residência?”, questionou a presidente. A questão das zonas brancas “é um problema que nos aflige, que nos preocupa, e também é um dos fatores que tem travado a vinda de mais pessoas para Mação, sobretudo em situação de teletrabalho”.
Por fim, “deixava também o pedido para que possam olhar de outra forma para as instituições de solidariedade social, que vão definhando e lutando para sobreviver no seu dia-a-dia”. Segundo Margarida Lopes, “precisam de ajuda suplementar do Estado e não substituir-se a ele”. Em Mação, “temos IPSS em praticamente todas as freguesias, o que cobre o nosso território e as necessidades de uma população envelhecida, mas é preciso olhar para elas de outra forma e estudar obviamente novos modelos de gestão”, recomendou a autarca.
Mas afinal, o que liga Gonçalo Matias a Mação?
O ministro começou por dizer que o iniciar destas funções, fora de Lisboa, “tinha de o fazer em Mação”, porque “em Mação, sinto-me verdadeiramente em casa”. A família do governante é natural da Guarda “e quando vou para a Guarda com os meus filhos, ainda pequenos, eles obrigam-me sempre a parar em Mação para almoçar”.
Assumiu que conhece bem o território e confessou que foi apresentado a Vasco Estrela há alguns anos, através de Duarte Marques, contando que “pude conhecer uma das pessoas mais corajosas, mais determinadas e dos melhores seres humanos que eu já conheci na vida. O Vasco Estrela é um exemplo de alguém que está, esteve e estará na política por dedicação à causa pública”.
A ligação aprofundou-se aquando dos grandes incêndios no concelho de Mação em que Vasco Estrela “tinha um sentido de injustiça enorme pela forma como o Estado português estava a tratar o Município de Mação. E encontrou do outro lado, um ainda mais maluco do que ele. Ele dizia «vamos a isto» e eu disse «vamos embora». E a verdade ´que conseguimos esse objetivo e trouxemos para Mação aquilo que era justo”. Gonçalo Matias descreveu este momento como “um dos maiores orgulhos da minha vida profissional” e que lhe permitiu “palmilhar todo o concelho, cada terreno, cada pedacinho”, também na companhia de António Louro. “Conheço, portanto, muito bem Mação e é uma terra que merece a nossa atenção, por todos os investimentos que foram feitos”.
O ministro deixou ainda uma palavra ao trabalho “difícil e espinhoso” de Margarida Lopes, que teve que substituir “alguém que fez um trabalho extraordinário. É das coisas mais difíceis… como suceder a alguém que fez tudo bem? A presidente Margarida, não só esteve à altura do legado que lhe foi deixado, como, diria, até o superou em alguns casos”.
A Reforma do Estado e o que aprendeu com Mação
Sentindo-se interpelado pela presidente da Câmara de Mação, no que à reforma do Estado diz respeito, “não sendo esse o meu pelouro” – a relação do Estado com as Autarquias locais – Gonçalo Matias reconheceu que a reforma do Estado é “transversal e abrange todas estas áreas”.
O ministro disse que “o mote desta reforma do Estado que está no nosso programa de Governo, pode parecer um pouco banal, mas tem um enorme significado. É o de pôr os cidadãos e as empresas no centro da atenção do Estado e no centro da atenção pública. (…) E obviamente que não é só em Lisboa, não é só nos Ministérios e nas Secretarias de Estado que, aliás, também no programa de Governo está um objetivo de descentralização e de trazer para o território centros de decisão pública”. O governante também reconheceu o problema da falta de rede e de telecomunicações no concelho, e disse que “o Governo está neste momento a resolver, já com concursos públicos lançados, para poder fazer chegar a internet a todas as zonas brancas”. Até porque, como avançou, “se nós queremos redesenhar processos, se nós queremos digitalizar, precisamos de ter acesso à infraestrutura, à internet, para conseguir estes resultados”.
Da volta que deu pelos expositores da Feira Mostra, disse ter gostado “imenso” e que “levo, e já levava aqui de Mação, boas lições e bons exemplos”. E deu conta de que “eu lembro-me sempre de ver o presidente Vasco Estrela a receber as pessoas que aqui vinham. A receber as pessoas que vinham aqui para investir, que vinham aqui para dar emprego... e essa atenção ao detalhe, essa atenção a quem quer vir viver para aqui, a quem vive cá, a quem quer mudar-se para cá, a quem quer cá vir passar o fim de semana, mas também é alguém que merece atenção e precisa certamente de construir a sua casa ou de recuperar uma obra, ou de alguém que vem para aqui investir, criar uma empresa, criar empregos, tudo isso são exemplos da reforma do Estado”.
“Eu posso dizer que boa parte daquilo que eu sei na prática, (...) aquilo que eu aprendi na prática, em boa medida, aprendi aqui convosco. Aprendi aqui em Mação, na realização concreta, diária, dos autarcas e de todos aqueles que trabalham em prol desta comunidade. Portanto, aquilo que eu vos posso dizer é agradecer-vos terem-me recebido tão bem, agradecer-vos receberem-me em minha casa também, porque é assim que me considero, desculpem a imodéstia, e agradecer-vos também as lições e os ensinamentos que daqui levo, e que serão muito úteis. Acreditem, não cairão em saco roto e deles farei parte do meu pensamento e do meu programa”, concluiu Gonçalo Matias.
A distinção das empresas PME Líder
Como vem sendo habitual, a cerimónia no dia da visita oficial à Feira Mostra, termina com a distinção, por parte do Município, das empresas consideradas PME Líder pelo IAPMEI. E no ano de 2024, Mação viu serem distinguidas seis empresas do concelho.
Foram elas: Alberto Dias Ribeiro & Filhos, Lda –fabricação de produtos à base de carne.Mais conhecida por Fumeiro da Beira, tem fábrica na Zona Industrial de Mação e um talho na vila. Fundada por Alberto Dias Ribeiro, de Aboboreira - Mação, entrou já na 3.ª geração tendo, além dos filhos, netos a trabalhar na empresa;
António Costa Dias, Lda – panificação. Fundada por António Costa, de Cardigos - Mação, leva pão a várias localidades de Portugal e Espanha. Vai na segunda geração da família;
Distrimação - Supermercados, Lda – comércio a retalho em supermercados e hipermercados. A primeira grande superfície comercial que Mação recebeu há 26 anos. Passou recentemente das mãos dos pais para a filha (Rafaela) que é das mais jovens empresárias do concelho de Mação. Aposta sempre na novidade e oferta de novos serviços;
Eipeople, Lda - fornecimento de recursos humanos. Fundada por um jovem casal, a Catarina do Pereiro - Mação e o marido, Fábio, que aqui decidiram fazer vida e, juntos, fundaram uma empresa que emprega muitas pessoas na região. A EiPeople é uma empresa que se dedica às áreas de Trabalho Temporário, Outsourcing, Contact-Center, contabilidade, entre outras, de Mação para vários locais do país;
Foresmad - Gestão Florestal, Lda – exploração florestal. Fundada por dois jovens irmãos de Mação, o Pedro e o Mário que, de área distintas de formação, que já tinham percebido na vida e exemplo dos pais e tios a importância da floresta e decidiram investir e criar algo seu. Patrocinam a apadrinham vários eventos no seu concelho;
Manuel Faustino Júnior, Lda – comércio por grosso de produtos alimentares. Fundada por Manuel Faustino Júnior, de Aboboreira - Mação, segue firme e segura tendo passado para os filhos e indo já na terceira geração da família, ainda com os filhos, mas também já com os netos.
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