O X Encontro Internacional de Piano de Sardoal vai ter lugar de 28 de junho a 6 de julho e volta a reunir na vila algumas das maiores promessas do piano a nível mundial, assim como alguns dos mestres mais conceituados internacionalmente.
Na apresentação oficial do certame, o presidente da Câmara de Sardoal, lembrou como é que o Encontro Internacional de Piano começou. “Dizer que este Encontro Internacional de Piano que vai para o décimo ano tem uma história. E foi uma história bastante curiosa”, disse Miguel Borges, que falou do processo de aquisição do piano para o Centro Cultural Gil Vicente. “Tudo começa porque esta casa, quando foi construída, houve uma sugestão ao presidente da Câmara da altura que adquirisse um piano, que comprasse um piano. Não havia tradição, não há hábito, na maior parte dos auditórios portugueses, de terem um piano. Normalmente são sítios onde se passa cinema e que têm máquinas de cinema. E aquilo que eu perguntava na altura ao presidente da Câmara era se cada vez que ele quisesse passar um filme, também se alugava a máquina. E, na verdade, o conceito é um pouco este. Então, porque é que cada vez que se quer fazer um concerto de piano, tem que se alugar o piano? Porque é que um equipamento deste, com esta qualidade, não tem um piano também dentro dos seus equipamentos? E, em boa hora, o presidente da Câmara na altura aceitou e hoje temos aqui o piano. E, tendo um piano, é depois tudo muito mais simples, porque os pianistas, além de precisarem de ganhar a vida, são pessoas, são músicos que gostam muito de tocar e que precisam de tocar. E nem sempre arranjam espaço, nem sempre têm auditórios, ou pelo menos há 20 anos, e estou a falar há 20 anos atrás, não tinham auditórios com esta disponibilidade para o piano”.
E foi assim que tudo começou… “Começámos esta caminhada em volta de um piano e até que um dia houve um concerto de um jovem, fantástico pianista, de nome Manuel Araújo, que fez aqui um concerto brilhante. Lembro-me que tocou Petrushka, de Stravinsky, que é uma obra fantástica. Passadas umas semanas, o Manuel Araújo diz-me assim: oh, presidente, eu queria propor um encontro, um concurso de piano, um festival de piano, aqui no Sardoal. E eu disse: boa ideia. Então, mas para quando, Manuel? Para daqui a dois meses. Má ideia... Dois meses. Mas a nossa vida tem também o risco. Então, o que é que nós fizemos? Ok, dois meses, vamos a isso”.
E o Encontro Internacional de Piano de Sardoal logo “com 30 e tal participantes. E a partir daí, começámos realmente este Encontro Internacional de Piano que passou a ser estratégico para o nosso município, para a nossa região, mas principalmente para o município”.
A importância do Festival para a economia do concelho não foi esquecida pelo presidente da Câmara. “É importante o município porque há que reconhecer a cultura como um ativo económico. É claro que, durante estes dez dias em que o festival acontece, há uma dinâmica também muito interessante da nossa economia local. É o alojamento, são as comidas, é a pastelaria, é tudo. É uma comunidade que se movimenta para receber todos estes jovens”, disse.
Miguel Borges relembrou ainda o acolhimento dos participantes por parte das famílias sardoalenses e aproveitou para agradecer a todos “porque têm um papel muito importante, não só a assistir aos concertos, mas também porque a determinada altura, com o crescimento do festival, nós tivemos um problema, que era «onde é que esta gente vai dormir?» Porque as respostas que nós tínhamos não eram muito grandes. E além disso, também há jovens pianistas que vêm de determinados locais do mundo, em que não têm tantas condições económicas para suportar todos os custos inerentes à viagem, à estadia, tudo isso... Em determinada altura eu disse ao Manuel Araújo que ninguém deixasse de vir por causa disso. Então aquilo que nós fazemos é, temos um grupo já de sardoalenses disponíveis para receber nas suas casas estes jovens pianistas. E depois, isto tem outra estratégia… é que estes sardoalenses que recebem estes jovens pianistas, são pessoas que também vêm assistir aos concertos porque vêm ver «os filhos» que têm em casa naqueles dias” Para o presidente da Câmara de Sardoal, o Encontro Internacional de Piano “é toda uma dinâmica, principalmente de desenvolvimento cultural, desenvolvimento de uma comunidade, aliás, que é o grande objetivo desta casa, e depois fazer com que toda esta nossa atividade cultural seja também um motivo de desenvolvimento económico, regional, não só local, porque, felizmente, os números vão sendo grandes, e não só por quem vai passar por este palco, mas também pessoas que vêm de todo lado e que vêm assistir, e que nós sabemos que ficam alojados no alojamento A, B ou C, não só no Sardoal, mas noutros locais”.
Miguel Borges também se referiu aos grandes nomes do piano, nacionais e internacionais, que já passaram pelo Sardoal e que hoje tocam nas melhores salas do mundo.
Presente na apresentação do Festival esteve a vice-presidente da Turismo do Centro… Anabela Freitas explicou de que forma é que o Encontro Internacional de Piano de Sardoal se tornou um produto diferenciador para o Turismo em Portugal. “É inegável que a cultura tem que estar ligada ao turismo. E é inegável que a cultura tem que ter também uma dimensão económica, tal e qual como o turismo, é uma atividade económica. E aquilo que começou aqui a ser um festival que nasceu desta ideia de dois meses, implementou-se”. E o que é que contribui aqui para o turismo? De duas formas, disse Anabela Freitas. “Primeiro, vai a um nicho de mercado. E Portugal compete com todo o mundo enquanto destino turístico. E cada vez mais, temos que apresentar um produto diferenciador, diferenciado, altamente valorizado, que nos distinga de outros destinos. E aqui, sem dúvida, foi-se construindo ao longo destes dez anos, um produto diferenciador de grande valor acrescentado, naquilo que é a cadeia de valor do turismo”. Depois, “de acordo com aquilo que será a próxima Estratégia Nacional de Turismo, há algo que vai ser acrescentado àquilo que já existe na nossa atual estratégia. (…) Neste momento, existem 22 produtos turísticos estratégicos diferenciadores quando competimos com outros países. E para a estratégia 2035, que ainda não foi tornada pública, mas aquilo que tem sido falado, é obviamente manter os 22 produtos e acrescentar aqui mais alguns produtos”.
Quanto aos produtos que poderão vir a integrar a Estratégia Nacional de Turismo, a vice-presidente da Turismo do Centro falou de “inovação e aquilo que é a criatividade enquanto produto turístico. E este festival também tem a criatividade, e sobretudo algo que vai ser fulcral e essencial na próxima estratégia: a ligação com as comunidades locais.
Anabela Freitas revelou que “foi publicado um estudo há relativamente pouco tempo, em que 52% dos turistas estão disponíveis para alterar o seu destino turístico se lhes forem apresentados destinos onde tenham programas de contacto com a comunidade local, onde possam implicar-se com a comunidade local. No sentido de, ponto um, deixar a comunidade local melhor do que a encontraram, e ponto dois, eles enquanto turistas, enquanto pessoas, poderem crescer durante a sua experiência turística. E, portanto, o festival aqui, eu diria que está na vanguarda daquilo que vai ser a próxima estratégia nacional para o turismo, que depois, obviamente, passará à estratégia regional, com adaptações para a nossa região e depois às estratégias locais. Portanto, estamos aqui na vanguarda”.
Manuel Araújo é o diretor da Academia Internacional de Música Aquiles Delle Vigne. Foi pelas suas mãos que surgiu a parceria com o Município de Sardoal para o Encontro Internacional de Piano. Isto porque, como explicou, não havia em Portugal um certame que ajudasse os jovens pianistas a ter contacto com os melhores professores. “Eu construí este festival com o meu professor [Aquiles Delle Vigne], muito baseado na minha experiência de infância, no período em que eu tinha 13 a 25 anos, em que eu era um jovem pianista que precisava destas experiências para crescer e precisava de viajar”. Mas havia um problema… Este que é um nicho de mercado “que envolve muitos países, e, acima de tudo, também uma população, normalmente, com algumas possibilidades financeiras”, era quase inexistente em Portugal. “O monopólio pertencia praticamente à Itália, e eu percebia que muitos destes festivais onde eu podia encontrar grandes pianistas, grandes professores, eram no verão, e não eram em Roma, não eram em Milão, eram em pequenas vilas do interior, muito semelhantes a esta na dimensão, muitas medievais, que tinham uma beleza que aliavam com ofertas de ir à praia, de ir a um lago, de ir à montanha, e o ambiente era de paz para a criação. O próprio Beethoven, sempre que estava numa crise artística, ia para o campo. Era esse o percurso”, explicou Manuel Araújo.
A satisfação do diretor da Academia Internacional de Música Aquiles Delle Vigne com o festival deste ano, não se prende pelo facto de ser apenas a comemoração dos 10 anos do evento, mas porque significa “a grande consagração de todo o trabalho feito”.
O X Encontro Internacional de Piano de Sardoal tem este ano um número recorde de participantes, serão 45, e a maior parte deles “trazem os familiares, muitos deles são jovens, vêm com pais e mães”.
Manuel Araújo explicou que “vamos ter um encontro que, para além de toda a qualidade do cartaz principal de concertos, vai ter um grande acréscimo de qualidade no concurso internacional, e temos muitos jovens pianistas, que são de 24 países. Tivemos este ano que passar cartas para recomendação de visto a pessoas que viviam em Pequim, pessoas que viviam em Las Vegas, na Rússia... Ou seja, não estamos a falar só de pessoas de perto, de locais, mesmo da Europa, que era o nosso alvo mais próximo. Neste momento, o encontro é global”.
Outro “sinal muito positivo” que o professor referiu, é que este Festival já colocou o Sardoal no mapa do piano mundial. “Quando eu convido um artista, quando eu convido mesmo alguns estrangeiros, eu já não tenho que explicar o que é o Sardoal e onde é que é o Sardoal. Dentro deste nicho que são os pianistas, já sabem que o Sardoal tem uma ligação ao piano. Principalmente em Portugal, já não há nenhum artista a quem eu tenha que explicar o que é o Sardoal para o Festival de Piano”.
Segundo Manuel Araújo, “este sucesso é fruto de um trabalho muito árduo e contínuo de 10 anos, e eu tenho que agradecer ao Município porque foi muito persistente e acreditou desde o início e embarcou nesta joint venture, que tem esforços, mas também tem muitas satisfações”.
“Estamos à espera de concertos de uma qualidade excecional. Acho que não haverá nenhum concerto que não tenha um grande envolvimento”, assegurou.
Manuel Araújo também disse estar “muito contente com o maior envolvimento com as comunidades locais” e falou do “grande desafio” que lançou à Filarmónica União Sardoalense há uns meses, para tocar a Rhapsody in Blue de Gershwin, “que é a obra-prima da música erudita americana, muito complexa ritmicamente. E não sendo o repertório deles, eles embarcaram nesse desafio e fizeram um concerto extraordinário”.
O X Encontro Internacional de Piano de Sardoa vai realizar-se de 28 de junho a 6 de julho. Conta com o número recorde de 45 jovens pianistas, de 24 países, e com o valor dos prémios atualizado este ano. O vencedor receberá um prémio monetário no valor de 5 mil euros.
Mário Laginha abre o X Encontro Internacional de Piano de Sardoal com um espetáculo a ter lugar no Centro Cultural Gil Vicente, no dia 28 de junho, às 21h30m.