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VN Barquinha: “É um privilégio servir as pessoas” - Fernando Freire

12/06/2025 às 09:00

A Feira do Tejo, que arranca hoje, foi o mote, mas após 12 anos à frente da Câmara de Vila Nova da Barquinha, a conversa acabou por ser um balanço dos três mandatos de Fernando Freire.

Por Patrícia Seixas

Fotos de Pérsio Basso

Mais uma edição da Feira do Tejo. A organização destes certames já ocorre naturalmente, quase de forma automática, ou ainda dá muito trabalho?

Dá trabalho, porque envolve pessoas, quer da organização, quer também das próprias associações. Dá trabalho, mas objetivamente, havendo algum processo rotineiro como é o caso, nomeadamente das chamadas fichas de trabalho que já temos organizadas, porque já fazemos isto pelo menos desde 2010, torna-se mais fácil. Ou seja, sabemos no fundo quais são os atos de rotina, por exemplo, em concreto, na instalação das próprias tasquinhas que já estão todas equipadas de maneira que o saneamento e a água se façam em conformidade, o posicionamento do palco e por aí adiante. Há alguns atos que são rotineiros e outros em que vamos fazendo pequenos acertos. Mas, de facto, é mais fácil de organizar. Fazer reuniões com as associações, saber onde é que eles querem ser colocados, para que a coisa também, no fundo, se correr bem para as associações, também corre bem para o concelho. O objetivo é esse.

 

E o município conta muito com as associações do concelho neste evento?

Sim, contamos. Aliás, a festa é essencialmente uma festa para eles, para as populações, porque é aqui também que eles, de facto, demonstram toda a atividade que têm durante o ano, o que correram, os prémios que tiveram, todo o seu desempenho... Por outro lado, também não podemos olvidar a questão de criarem alguma receita para eles, porque quer dos diferentes clubes, coletividades, associações, e mesmo para associações, como sejam os escuteiros, a fábrica da igreja e outros tipos de coletividades, não aquelas coletividades típicas em termos jurídicos, mas é ali que também vão, com os seus almoços, com os seus jantares, com as suas bebidas, com a sua venda, praticar atos de comércio que depois dá para equilibrar as suas contas durante o ano que vem aí.

 

O que se destaca este ano no programa?

Eu acho que é a parte artística e também, este ano, a questão da pirotecnia. Vamos ter, quer na sexta-feira, dia 13 de junho, quer no domingo. E artistas de alta qualidade, que procuramos também convidar para nos animar, porque vivemos tempos em que, de facto, o marketing e a publicidade contam muito e atraem multidões. Isto sem esquecermos, como disse, muitas das atividades num programa extremamente vasto em que importa dar voz aos que cá estão, que trabalham connosco durante o ano, e, por outro lado, também cativar os homens e as mulheres dos arredores para que venham visitar o nosso parque e celebrar connosco a nossa festa de Santo António.

 

Até porque isso foi uma aposta completamente vencedora desde o início, fazer a festa no parque...

Sim, o parque tem condições de excelência. Continuamos a receber gente de todo o lado que vem cá de visita. De facto, as condições são excecionais, - não sou só eu que o digo, isso é público e notório, - para atividades lúdicas, de passeio, de calma, de contemplação até do próprio Tejo... é um espaço extremamente vasto, grande, bem construído e bem concebido, e, de facto, acolhedor para quem nos queira visitar.

 

Falando de turismo... este ano o Município estreou-se com stand próprio na BTL. Compensou o investimento?

Eu acho que sim. Estas questões dos chamados atos imateriais, ou melhor dizendo, daqueles que nós não podemos controlar, não são visíveis a curto prazo. Eu acho que o importante é que estamos em crescendo, e isso é público e notório. E é público notório onde? Essencialmente na procura que temos. Ainda numa destas semanas acompanhei noruegueses, suecos, alemães e americanos, no Centro de Interpretação Templário, nomeadamente numa visita.

 

E eles pedem informação antecipada?

Pedem informação antecipada e pedem essencialmente uma visita guiada. Como era uma organização internacional, tive um pedido para a minha colaboração por parte do dirigente máximo em Portugal, e eu tive muito gosto em cumprimentá-los e também acompanhar a visita guiada pela Sandra Henriques, que foi a nossa guia em inglês. São estas misturas, estas internacionalizações, que depois trazem gente para o território, que nos procuram também para a visita ao Almourol, que também visitam o Parque de Escultura Contemporânea do Almourol, as nossas galerias... e isso, de facto tem crescido, e tem crescido bem, de forma sustentável. Não convém crescer desmesuradamente, porque temos problemas já complicados em outros países, ou seja, acho que tem que haver um justo equilíbrio. Um turismo sustentável, mas também equilibrado no sentido de que as pessoas se sintam bem e que na sua visitação saiam de coração cheio.

 

As obras de requalificação da Igreja Matriz de Atalaia e da Igreja Matriz de Tancos vêm dar um novo impulso ao turismo cultural do concelho, juntando-se a Almourol, à Rota dos Templários e ao CITA?

É, é exatamente isso, ou seja, há vários tipos de turismo. Essencialmente no turismo cultural houve uma grande aposta. Uma grande aposta nomeadamente das nossas joias, das joias religiosas que possuímos, que é a Igreja de João de Ruão e João de Castilho, que é a Igreja da Atalaia, um monumento nacional que foi requalificado em tempo e que está magnífica, e também agora, ultimamente, ainda não está na fase final, vamos ainda recuperar o retábulo de São Tomás, na Igreja de Tancos. A requalificação foi feita no interior, nomeadamente no altar, mas também nos telhados e na pintura lateral. No fundo, interessa cativar a visitação destes monumentos que estavam, de facto, muito degradados. E isso foi possível através de várias candidaturas e também de alguns fundos próprios, sempre em parceria com as próprias juntas de freguesia. Estes monumentos, como é exemplo o de Tancos, está dentro dos percursos ribeirinhos. também Para quem percebe desta realidade, é uma aposta muito significativa. Há pessoas a transitar entre Constância e Vila Nova da Barquinha e entre Vila Nova da Barquinha e Constância. Isso tem sido uma evidência, tal como a questão, que é uma surpresa significativa, dos Caminhos de Santiago. Há muita gente a frequentar os Caminhos de Santiago.

 

E a Barquinha tem hoje camas suficientes para acolher todos?

Neste momento, em termos do último levantamento que fizemos, e é feito através do Turismo do Centro, temos disponíveis 140 camas.

 

Mais à base do alojamento local?

Sim. Mas este tipo de peregrinos também é isso que procura. Ou seja, não procuram grandes hotéis porque o seu objetivo último é, de facto, chegar a Santiago para cumprir a sua promessa, o seu estado de alma.. Com o crescimento do chamado turismo rural e também das casas de campo, estas 140 camas são bastante suficientes para a nossa realidade atual. Sem prejuízo, eventualmente, se algum grupo económico... Por exemplo, aquele projeto que vai nascer agora na Quinta da Cardiga, provavelmente será muito interessante, deveras interessante, e não é no meu concelho, é no concelho limítrofe, embora aqui estejamos a falar 3 km de diferença. Porquê? Porque tem uma oferta cultural que será apetecível para o tipo de pessoas que visitam esse tipo de empreendimento. Nós não falamos disto, mas também convém falar. Eu tenho pessoas que vão a Fátima a vir dormir aqui. Eu vejo aqui autocarros de Fátima em alojamentos. E o inverso também é verdade. E isso é sempre uma mais-valia para os territórios. Estamos a ver os territórios como um todo e esquecemos esta questão de capelinha. Tudo o que é bom para a Barquinha será bom para o concelho A, B, C ou D e o inverso também é verdade.

 

Ainda em investimentos, o sucesso da Zona Industrial, com o Parque completo e muita procura, é uma realidade. Como vai ser agora o alargamento e expansão da zona?

Como se sabe, havia aquele projeto que caiu pelo promotor, que era o Bioparque. Neste momento, estamos já a contratar o projetista para fazer a chamada duplicação da zona industrial. Estamos a falar de 37 hectares. Vai ser a duplicação, até porque o espaço está em zona florestal, ou seja, em sede de PDM. Vai-se localizar entre o concelho de Tomar, mesmo confinado com o concelho de Tomar, e a nossa zona industrial. É esse espaço que está guardado. Também já debati com os nossos técnicos para avançarmos, nomeadamente, com o estudo de impacte ambiental e todas as situações que têm para avançar. E vai acontecer, dentro em breve, sempre com os trâmites processuais que, em tempo, têm de ser praticados, mas penso que a realidade será breve, até porque já temos lista de espera, o que é bom sinal. Mas também tem muito a ver com a questão da centralidade, nomeadamente a questão da A13/ A23, e aqui a abolição das portagens teve uma influência significativa. Também a nova ligação à Doca Seca dos Riachos, com possibilidade da ferrovia. Neste momento, temos muito perto de duas dezenas de comboios a circular entre o Porto de Sines e a zona dos Riachos, o que nos facilita também em termos processuais e também em termos de processos de economia de mercado.

 

Por outro lado, se aqui falamos de grandes empresas, também há grande procura por parte das pequenas empresas, ou daquelas que querem surgir, porque em cima da mesa está um novo ninho de empresas, uma nova incubadora.

Sem dúvida, ou seja, neste momento estamos mesmo a projetar uma terceira. Já pedimos, estamos à espera, que a entidade responsável pelo antigo Armazém dos Azeites nos ceda o respetivo edificado. O objetivo era, agora nesta fase, a aquisição de 300 metros quadrados aqui junto da Igreja da Matriz, quase confinante, muito perto do CAIS. O CAIS foi um projeto inaugurado em 2020 que esgotou de repente e com esta aquisição, duplicamos também a oferta para os pequenos e maiores empresários.

 

O Armazém dos Azeites, será por contrato de comodato?

O Armazém dos Azeites será compra pura e dura. Ou seja, o nosso objetivo é fazer a aquisição. Estamos à espera de saber qual o valor dado pela Estamo, esperemos que o valor não seja significativo, sob pena depois de tornar inviável um projeto deste tipo. Só para retirar os amiantos e coisas que tais daquele armazém, vamos aqui gastar, em termos financeiros, uma pipa de massa. Mas pronto, ele também está contemplado no âmbito dos investimentos territoriais integrados, no chamado Sistema de Incentivos de Base Territorial Nova Geração de Espaços e de Co-Working. Também temos umas fatiazinhas do Pt2030. Este projeto já estava contemplado na ITI.

 

Houve uma aposta nas infraestruturas da Educação. Todos os governantes que por cá passaram destacaram a excelência do Agrupamento de Escolas do concelho...

Sem dúvida, é uma referência nacional, é de visita dos Erasmus, é de visita do pessoal da União Europeia, recentemente esteve cá teve uma delegação de Bruxelas. Mas muito também se deve à envolvência da própria escola.

 

Porque não é só a instalação que faz a escola, não é?

Exatamente. Bem visível na Escola e Vila em Movimento, em que é preciso captar as próprias associações de pais, os próprios alunos, as forças vivas do concelho, envolver toda a comunidade. Isso é importante, porque a escola faz-se com pessoas, não é? E para as pessoas. E isso, de facto, é um projeto magnífico, mas, neste momento já com capacidade limitativa. Porque, infelizmente, ou felizmente, também, vem muita gente de outros territórios, e isso tem a ver com a oferta, ou seja, isto é uma lei da oferta e da procura. Há muita gente que procurou e procura Vila Nova da Barquinha. E depois, é curioso, que começam a fazer a aquisição de alguns imóveis em Vila Nova da Barquinha, até recuperando alguns, muitos antigos, que estão por aí, que o pessoal que veio de outros lugares e aqui quer viver para sempre.

 

E aqui, neste caso, nem sequer estamos a falar só de estrangeiros, estamos a falar de nacionais...

Não, aqui estamos aqui a falar de 95% de nacionais.

 

A transferência de competências neste área correu bem, portanto...

Correu bem, aliás, apresentei na última Assembleia Municipal os resultados da transferência de competências. Na prestação de contas dos resultados foi positivo, quer na ação social, quer na saúde, quer na educação. Por isso, correu bem e espero que vá continuar a correr bem, havendo aqui sempre um diálogo perene e intensivo entre as partes envolvidas e também a autarquia.

 

A rede de água e de saneamento já chega a todo o concelho?

Não, ainda temos a zona Norte da Atalaia, ou seja, o projeto vai estar pronto dia 15 de junho e quando o projeto estiver em condições, vamos avançar para essa situação que importa resolver, nomeadamente o Norte da Atalaia. E com esta infraestrutura posso dizer que, essencialmente neste último mandato, com a implementação quer na zona Norte da Praia do Ribatejo toda e depois, neste último ano, também na zona das Limeiras e dos Matos, ficamos com 97%. Digo e repito: 97% de saneamento básico no concelho deixa-me orgulhoso, porque tem muito a ver com a qualidade de vida e também com o bem-estar das populações. Acho que estas questões são fundamentais.

 

E a rede de telecomunicações? A fibra chega a todos?

Este processo, como sabe, foi um processo iniciado até pelo Governo e ultimamente reunimos com um parceiro neste sentido. Houve um levantamento, feito pela entidade reguladora das comunicações onde foram identificadas as chamadas zonas brancas em vários concelhos. No nosso, estão devidamente identificadas, e são essencialmente na freguesia da Praia do Ribatejo. A fibra ótica chega às grandes zonas de densidade populacional, leia-se Atalaia, Moita, Barquinha, Tancos e Praia do Ribatejo, mas Praia do Ribatejo, o lugar mesmo. Estamos a fazer de tudo para que, de uma vez por todas, se resolva este problema que urge ultrapassar para as chamadas zonas brancas do nosso concelho.

 

Já foi tema muitas vezes, mas a questão da habitação e da regeneração da vila, e aqui já podemos falar dos seus três mandatos, foi uma diferença brutal...

Foi. Não há nada como as imagens para a gente ver, e eu faço esse exercício de ir ao Google Maps. De facto, houve uma revolução total nesta temática. A vila já era bonita por natureza, ou seja, não se fez mais nada do que, no fundo, recuperar e alindar. Mas também houve aqui um esforço intensivo por parte dos trabalhadores da Câmara e dos dirigentes da Câmara, no sentido de sermos céleres no procedimento. Estivemos do lado da ajuda, ou seja, não complicar e tentar agilizar procedimentos. É fundamental nos tempos que correm. As pessoas querem investir, querem conservar, mas também não querem muita burocracia, porque se criarmos aqui algum obstáculo, algum escolho, mais um papelinho... as pessoas desistem. São estas situações que, se calhar, nas grandes cidades ou nas cidades com maior agregado populacional não são fáceis de tratar. Há realidades diferentes mas a nossa realidade é, de facto, uma realidade de proximidade, o que nos permite também acudir em situações pontuais e em tempo. E isso é público, nomeadamente na Reabilitação Urbana porque houve uma aceleração processual e alguma dinâmica por parte dos serviços do urbanismo. Temos que conservar e manter e é muito importante que isso se faça. Até porque estão lá todas as instalações, está o saneamento básico feito, estão as infraestruturas criadas, no fundo é requalificar, é melhorar, é esse o objetivo.

 

Portanto, as ARU’s foram a melhor decisão...

Sim. Aliás, todas as freguesias estão em ARU. Como é evidente, numa primeira fase, tem alguns encargos para o município, nomeadamente na isenção de IMI. Mas temos que ver esta situação numa projeção de futuro. As isenções que começámos a fazer em 2018 já estão a cair e, provavelmente, para o próximo ano já recebemos 500 mil euros de IMI e podemos receber 800, 900 mil euros. É olhar para o futuro.

 

O Comando Sub-regional da Proteção Civil no concelho foi uma conquista?

Foi um processo muito complicado, foi um processo difícil. Sim, mas o passado é passado e já coloquei uma pedra sobre isso. Conseguimos, de facto, com muita luta, com muito denodo e entrega e também com a colaboração por parte da Administração Central. O Comando continua a funcionar e funciona bem. Conseguimos também, no âmbito da própria Comunidade Intermunicipal, dar-nos as mãos e fazermos um projeto comum, único no país. É importante que estes projetos pioneiros sigam bons exemplos, no sentido de proteger sempre pessoas e bens, o nosso objetivo último. É isso que está sempre em causa. Neste momento estamos também já a avançar com estudos e com o projeto da chamada base de apoio logístico. Ou seja, no fundo é para rececionar corpos de bombeiros que queiram depois avançar para o interior, nomeadamente em situações de catástrofe ou situações mais complexas. Um sítio para terem material e camaratas para dormirem. Essa questão também vai avançar dentro em breve. As instalações no Comando estão todas requalificadas, faltando só esse edifício e vamos também avançar com ele. Ficamos aqui com uma parte da proteção civil, uma proteção civil cada vez mais intensa como sabemos. E em outubro, depois haverá novidades, mas vamos fazer um exercício nacional em parceria com os militares, ou seja, o objetivo é conjugar cada vez mais a proteção civil com a coisa militar e a coisa militar identificar-se com a proteção civil. Se vierem os helicópteros prometidos pelo nosso Chefe de Estado-Maior para Tancos...

 

Os militares e as infraestruturas militares continuam a fazer parte da comunidade barquinhense?

São fundamentais para Vila Nova da Barquinha. Os militares têm feito uma abertura à sociedade civil muito significativa. Posso-lhe dizer, por exemplo, que eu só consegui a chave do Castelo de Almourol em 2014. Ou seja, parece um gesto simbólico, mas não é um gesto simbólico. A área militar sempre foi reservada, o que compreendemos, por uma questão operacional, pela sua segurança e também da sua proteção. O Castelo de Almourol foi sempre um equipamento militar. E com estas questões das parcerias, das envolvências, foi possível transferir algumas coisas e fazer a visitação. E mais, a interação das escolas com as próprias unidades militares e também algumas atividades civis, ou seja, houve aqui uma grande abertura dos militares à sociedade civil e esperemos é que também eles consigam recolher alguns dividendos desta cultura de abertura à sociedade civil para o ingresso nos seus quadros que bem necessários são. Mas Vila Nova da Barquinha anda de mãos dadas com a coisa militar. Porque muitos dos nossos cidadãos ou foram civis ou foram militares, ou têm amigos militares... Devemos ser o único concelho do país, fora das grandes cidades, Porto ou Lisboa, que tem três unidades militares, e três unidades militares de peso. Temos as Tropas Paraquedistas, que é um corpo de intervenção rápido e de intervenção em espaços nomeadamente da ONU e missões internacionais, temos também a Engenharia Militar com a sua panóplia, que bem precisa foi, nomeadamente na descontaminação química aquando do Covid e, por outro lado, também temos a Brigada de Reação Rápida, a BRR, em Tancos. Isto faz parte da própria vila, já é indissociável. E fazem muitas atividades aqui, junto da comunidade. É legítimo eles procurarem respirar a coisa civil, no sentido também de mostrarem o que fazem, e fazem bem, e isto é muito importante também para cativar para a arte militar.

 

O Aeródromo de Tancos... é um espinho entalado?

É, vai atravessado na garganta. Tentei, mas isto às vezes, como em tudo na vida, o homem sonha, a obra é que não nasce. Foi algo que eu não consegui. Tentámos com vários governos mas creio que esse sonho não está arredado, o projeto continuará. E mal de nós se o presidente da câmara que vier a seguir não lute por este ideal. Vamos lá ver, temos ali uma estrutura única no país, central, ao lado de uma autoestrada, ao lado da ferrovia... tem tudo para para casar, como diz o outro. Mais... também tem investidores privados que o querem utilizar, que o querem recuperar. É só uma questão de articular com as entidades competentes e elas são muitas. Depois também houve aqui muita indecisão, foi um ciclo complexo, com a decisão do aeroporto e também a questão do aeroporto de Santarém, ou seja, houve aqui uma conjuntura internacional e nacional que nos limitou na nossa intervenção e no nosso desiderato. Mas fizemos os estudos, fizemos os contactos, fizemos tudo. Pelo menos, vou de consciência tranquila. Mas com o espinho atravessado...

 

Por falar em espinhos, agora há quem queira a construção de um novo açude no Tejo...

É verdade, essa foi uma grande surpresa, não foi só para mim, mas para todos os autarcas aqui da nossa região. Pela sua colocação e, eventualmente, pelos prejuízos que pode ter pelos investimentos que fizemos, que fazemos já há alguns anos, e estou a falar objetivamente da questão turística, com o Trilho Panorâmico do Tejo, o Castelo de Almourol e também da circulação de peixe na nossa região. Muitas das nossas populações gostam de fazer suas pescarias, temos pescadores ainda a viver do próprio rio, e cortando este circuito, esta questão esfuma-se, não é? Mas cá estamos para lutar para uma situação que, como sabemos, o que está em causa, e temos que ser claros sobre isto, tem objetivamente um único desiderato, que é a deslocalização de água para o oeste, para irrigação. Podemos questionar se não haveria outras soluções para esta temática, podemos questionar porque é que não foi feito o Alvito, quando já devia ter sido feito há muitos anos. Já há 70 anos que andamos a falar sobre isto, mas pronto, penso que cumpri também nesta questão. E vamos continuar a lutar, também no seguimento do pulsar das populações, que também já foram ouvidas e estão a ser envolvidas, mas vamos ver o que é que isto vai dar. De qualquer maneira, assim como Presidente da Câmara, não deixo de ser um cidadão e de exercer os meus direitos e, para ser claro, preciso e conciso, sou contra a construção daquele açude naquele sítio.

 

Acredita que este projeto se venha a concretizar?

Eu, neste país, já acredito em tudo. Até julgo que o Pai Natal, de vez em quando, passa. Quando as coisas são transparentes, a coisa é mais difícil. Agora, quando vêm umas decisões surpresa..., eu fico um bocadinho preocupado. É que isto surgiu completamente do nada. Embora soubéssemos que isto já vem de 1950. E é recorrente, de 10 em 10 anos, alguém se lembra. Mas podem-se procurar outras soluções, acho que não tem que ser esta. Há outras soluções. Envolvam as pessoas em conformidade, e depois veremos o que é que vai dar. Mas pronto, para isso é que o poder político também é eleito, e também para tomar decisões.

 

O que é fica por fazer e de que mais se orgulha?

Eu gosto, essencialmente, daquilo que falou há bocadinho, da questão da recuperação do património. O património cultural e também do imaterial. Estamos a falar, nomeadamente, da questão dos Caminhos De Santiago e de coisas como tais. Adorei fazer este trabalho. Do que também que me orgulho é da grande procura que Vila Nova da Barquinha tem. E mais do que isso. Quando começo aqui uma reunião com um empresário qualquer, a primeira coisa que eles me dizem é: “olhe, antes de começarmos a reunião, parabéns pelo concelho que tem. Pela limpeza, pelo asseio, pelo gosto, pelo não atentado ao património que tinha dos seus ancestrais e que preservou”. É a coisa que mexe mais comigo. Porque ser presidente da Câmara não é fácil. Há muitas influências, há muitos lobbies, há muitas situações e temos que ter um comportamento que eu chamo, cumprindo a legalidade, de termos alguma mobilidade no sentido de satisfazer as necessidades das pessoas. É o justo equilíbrio. Isso orgulha-me. Por exemplo, eu posso cometer um erro administrativo, perfeitamente lícito num concurso. Mas ninguém pode dizer que eu beneficiei A, B ou C. Estar na política com esta dignidade, e a que vocês assistiram também, nomeadamente nos meus deputados da Assembleia, que tiveram os documentos todos, mas todos, sempre, com transparência, com informações de 28 a 30 páginas. E, se havia alguma dúvida, passado 48 horas estava no email o seu esclarecimento. E isso é um privilégio, porque é assim que a política deve ser feita. Com transparência e envolvendo as pessoas.

 

E há alguma coisa que fica por fazer?

Fica por fazer muita coisa. Quem vier a seguir vai ter que trabalhar. Mas não... não tenho assim nada... O objetivo, de facto, é ver as pessoas que vêm aqui. Um empresário outro dia dizia-me: “Presidente, guardo a sua frase. Isto aqui na Barquinha é bom, mas só que a gente não complique, é muito bom. Olhe que eu nunca vou esquecer as suas palavras. Eu consegui fazer a minha fábrica num ano. E em lado nenhum conseguia fazer a minha fábrica num ano. E vou guardar as suas palavras lá no gabinete. Só que não compliquem a vida, já é muito bom”. Foi um empresário que me disse isto. Portanto, não tenho assim nada de especial que gostaria de fazer. Eu sou muito terra-à-terra, porque a gente também tem de ter uma noção das coisas. Temos de ter alguma garantia. Temos de deixar as contas bem reguladas. E estão. Saímos do endividamento financeiro em 2017. É importante isso. Vamos deixar aqui uns cofres bons, como foi apresentado nas últimas contas. Um superavit significativo. E fez-se obra. Objetivamente, é possível fazer mais? É. Agora, também temos de ter em conta que quem vier a seguir, tem de ter também as contas reguladas e tem de ter uma casa organizada. E isso é o que é mais difícil de fazer. E foi feito. Agora, projetos, projetos... Há para ir algumas coisas, mas por dever de ofício tenho de estar silente. E dentro em breve irão acontecer. Acho que foi um privilégio. Ser autarca tem esta coisa de puxarmos pelos territórios. É um privilégio servir as pessoas. Mas vou cansado. Agora vou tirar férias. Entendo que na política as coisas têm que ser alteradas. Eu vim para a política com 50 anos. E nunca pensei... Aliás, não era filiado em partido nenhum. Nunca foi essa a minha filosofia de vida. Vim com a intenção de servir.

 

E que vai fazer a seguir?

Vou usar a reforma para escrever, para ler, para investigar. Há tanta coisa bonita para fazer. Agora até podemos visitar 52 monumentos durante o ano. Já viu? Nestes anos todos visitei um ou dois. Não tive tempo.

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