Antena Livre
Deseja receber notificações?
Município Abrantes
PUB

Presidênciais 2025: Os perfis dos 14 candidatos a Belém

21/12/2025 às 10:00

Ricardo Sousa, ex-vereador que defende regionalização para país coeso

Ricardo Sousa, antigo vereador do PSD na Câmara Municipal de Paredes, candidatou-se a Presidente da República centrado na defesa da regionalização, que vê como forma de coesão, e de uma política de habitação liderada pelo Estado.

Empresário da área do mobiliário, Ricardo Sousa, 52 anos, é natural de Rebordosa, no concelho de Paredes, distrito do Porto.

Militante do Partido Social Democrata (PSD), foi vereador da oposição na Câmara Municipal de Paredes, no mandato 2021-2025, e decidiu avançar para a corrida à Presidência da República por considerar que os temas que estavam a ser discutidos na campanha “não refletiam aquilo que se passa nas regiões mais desfavorecidas”.

Desta forma, sob o lema “a voz de um de vós”, Ricardo Sousa formalizou a sua candidatura às presidenciais de 2026 com a entrega das assinaturas necessárias no Tribunal Constitucional, com o objetivo de trazer ao debate a regionalização e a habitação, os dois principais eixos da sua campanha.

Para o ex-vereador, a regionalização é “uma oportunidade para aproximar as decisões das pessoas, para melhorar os serviços de saúde, educação e segurança, e dar às regiões ferramentas para crescer”. “Portugal só será verdadeiramente coeso com a descentralização”, defende.

Já relativamente à habitação, o candidato defende ser “urgente garantir casas a preços justos, apoiar a construção e reabilitação e controlar a especulação que impede as famílias de viver com qualidade”.

Realçando que “viver com dignidade não pode ser um privilégio”, Ricardo Sousa quer o Estado “a liderar uma política de habitação que sirva verdadeiramente” os cidadãos.


André Pestana, das greves nas escolas a candidato pelos “sem voz”

André Pestana, 48 anos, de Coimbra, conhecido pelas greves nas escolas em 2022/2023, enquanto rosto do Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (S.TO.P.), apresentou a candidatura às eleições presidenciais “para ser a voz dos sem voz”.

Na página da sua candidatura, André Pestana diz ter sido desafiado por 50 ativistas de várias áreas para entrar na corrida à Presidência da República, com o objetivo de “ser a voz dos sem voz”, “elevar a luta pelos serviços públicos a outro patamar” e “ripostar à barbárie social/ecológica e injustiça crescentes”.

Sob o mote “é hora de abrir a pestana”, a sua candidatura reuniu cerca de 8.000 assinaturas entregues no Tribunal Constitucional.

Nascido e criado em Coimbra, é professor de Biologia e Geologia e tem dois filhos.

Formou-se em Biologia na Universidade de Coimbra, com média final de curso de 16 valores e doutorou-se em Biologia, na área das alterações climáticas, na Universidade Técnica de Lisboa.

Enquanto estudante do Ensino Secundário colaborou com o Núcleo de Coimbra da Amnistia Internacional da Associação Académica de Coimbra (AAC) e no Ensino Superior foi cabeça de lista de candidaturas alternativas para AAC, no contexto das lutas contra as propinas.

Desde 2001, como professor do ensino secundário, deu aulas em escolas de várias zonas do país (Montemor-o-Velho, Oliveira do Hospital, Serpa, Lisboa, Oeiras, Fátima, Cascais, Sintra) sempre como professor precário, tendo efetivado apenas em 2023.

Desde o início da sua atividade docente, esteve sindicalizado e também encabeçou listas alternativas no Sindicato dos Professores da Grande Lisboa da Federação Nacional dos Professores (SPGL/FENPROF), defendendo mandatos consecutivos finitos para os dirigentes sindicais, tendo sido eleito para o Conselho Geral do SPGL.

Em 2018, “sucessivas desilusões” levaram-no a fundar, juntamente com colegas, um o S.TO.P, inicialmente Sindicato de Todos os Professores e, atualmente, Sindicato de Todos os Profissionais da Educação.

Nos primeiros anos, o S.TO.P. dinamizou lutas como a greve às reuniões de avaliação, em 2018, ou a greve contra o amianto nas escolas (ano letivo 2019/2020).

Em 2022/2023, André Pestana foi um rosto da luta na Educação, em Portugal, com greves durante vários meses seguidos e manifestações com milhares de pessoas, que juntou docentes, assistentes operacionais, assistentes técnicos e técnicos superiores/ especializados.

Passou pela Juventude Comunista Portuguesa (JCP), pelo Bloco de Esquerda (BE) e mais tarde pelo MAS, tendo, posteriormente, interrompido a militância partidária.

“Perante a crise que afeta Portugal e o mundo, [André Pestana] mantém como objetivo da sua ação a necessidade de construir uma alternativa democrática verdadeiramente anti sistémica que responda à urgência de uma profunda mudança social, económica e ecológica”, lê-se na página da sua candidatura.

 

Jorge Pinto, o “europeísta convicto” que quer levar um “novo sotaque” até Belém

O deputado do Livre Jorge Pinto assume-se como um europeísta convicto, vê a esquerda como “uma janela” e é o candidato mais novo na corrida a Belém, para onde se propõe levar um “sotaque novo”.

Eduardo Jorge Costa Pinto nasceu em Amarante, cidade do distrito do Porto conhecida como “a princesa do Tâmega”, a 20 de abril de 1987.

Filho de dois professores, Jorge e Ercília, e conhecido entre os amigos como “Jójó”, cresceu numa quinta no centro de Amarante, numa família numerosa, com nove irmãos do lado do pai e cinco do lado da mãe.

O avô materno, oriundo de uma família “muito pobre”, emigrou para os subúrbios de Paris no início dos anos 60, durante a ditadura de Salazar.

A avó, Maria do Carmo, ficou inicialmente em Portugal antes de se juntar ao marido. Foi sobre ela, e o fenómeno da emigração da época na perspetiva feminina, que Jorge Pinto escreveu um livro intitulado “Tamem Digo”, com um título alusivo ao português de influência galega da avó.

Desde novo que Jorge Pinto revelou ter uma forte consciência política, associando-se a vários movimentos associativos.

Aos 12 anos, em 1999, foi até Madrid, Espanha, de autocarro, para participar numa manifestação pela defesa do povo de Timor-Leste junto à Embaixada da Indonésia, a mais próxima de Portugal na altura.

Poucos anos depois, em 2002, o petroleiro Prestige sofreu um rombo no casco e ficou encalhado na costa da Galiza, desastre ecológico que Jorge Pinto recorda como decisivo para o rumo da sua formação académica.

É licenciado em Engenharia do Ambiente e doutorado em Filosofia Social e Política.

Aos 21 anos, saiu de Portugal: fez Erasmus na Lituânia e elaborou a sua tese de mestrado na Índia, antes de viver em países como França, Itália ou Bélgica.

Foi em Bruxelas que residiu mais tempo e onde se fixou em 2012 como funcionário europeu, tendo trabalhado na agência de apoio à aviação europeia Eurocontrol e exercido funções na Comissão Europeia.

Aos 18 anos, filiou-se no PS, partido do qual saiu em 2013, altura em que António José Seguro – também candidato presidencial - era líder socialista.

Na sua carta de desfiliação, Jorge Pinto alertava para um “desfasamento entre os partidos e a sociedade, que será perigosíssimo para os partidos e para a própria sociedade” e escrevia que continuaria a ser socialista, mas seria “mais útil” fora do PS.

Em 2014, foi um dos fundadores do Livre e dez anos depois o primeiro deputado do partido eleito pelo círculo eleitoral do Porto.

Define-se como um “europeísta convicto” e já disse ver a esquerda como “uma janela” e não “uma gaveta”, em resposta a declarações de Seguro. A sua referência política na Presidência da República é Jorge Sampaio.

Em entrevista à Lusa, em novembro, o candidato mais novo na corrida, com 38 anos, desafiou as pessoas a deixar “paternalismos de lado” e apresentou-se como “uma voz nova” com “um sotaque novo”.

É casado com uma violoncelista espanhola e tem um filho de um ano.

Aos 13 anos, participou no concurso televisivo da SIC “Dá-lhe Gás” e apresentou-se: “Eu sou o Jorge e venho para ganhar”. É esse o seu objetivo no próximo dia 18 de janeiro.


Joana Amaral Dias quer ser “alternativa” num país “desnorteado”

Joana Amaral Dias, psicóloga de formação com um percurso multifacetado na política, anunciou a candidatura a Presidente da República para ser uma alternativa num país que considera estar “cabisbaixo” e “desnorteado”, assumindo esta “derradeira batalha” pela pátria.

Joana Amaral Dias, 50 anos, conhecida pela sua participação em vários projetos políticos, ganhou notoriedade enquanto deputada do Bloco de Esquerda, entre 2002 e 2005.

Em 2006, apoiou nas eleições presidenciais o socialista Mário Soares, do qual foi mandatária para a juventude.

Foi ainda candidata à Câmara Municipal de Lisboa pelo Nós, candidata nas legislativas de 2015 pela coligação AGIR (PTP e MAS), e foi o nome escolhido pelo Alternativa Democrática Nacional (ADN) para liderar a lista candidata ao Parlamento Europeu em 2024, como independente, e às eleições legislativas de 2015.

Este percurso político, da esquerda à direita, levou a que fosse acusada por alguns comentadores e atores políticos de “falta de coerência”.

Com uma presença ativa nas redes sociais, Joana Amaral Dias é conhecida por publicar vídeos controversos, como, por exemplo, quando tentou pagar com dinheiro numa padaria que só aceita cartões, gerando uma discussão que se tornou viral.

A candidata foi também uma das vozes críticas das vacinas e do uso de máscaras durante a pandemia de covid-19.

No lançamento da sua candidatura às eleições presidenciais de 2026, Amaral Dias disse que pretende construir uma alternativa numa altura em que, considerou, o país está “cambaleante, aturdido, desorientado, cabisbaixo, desnorteado, sem presente ou futuro”.

“Estou pronta e totalmente dedicada a esta que será a minha e a nossa derradeira batalha”, afirmou na ocasião.

A candidata, cujo lema é “pão, paz e liberdade”, considerou que a independência e a soberania são os “garantes desses desideratos”, e assumiu como primeira prioridade a saúde, pretendendo lançar “um amplo debate sobre a promoção da natalidade” para inverter “a extinção dos portugueses”.


Manuel João Vieira, entre o irracional e o sério a expor "o absurdo da política"

O músico e artista plástico Manuel João Vieira anunciou pela quinta vez a candidatura à Presidência da República, com as habituais propostas surrealistas para expor o "absurdo da política", e justificou a decisão com o “crescimento do fascismo”.

Figura conhecida do entretenimento há várias décadas, nasceu em 1962, em Lisboa, estudou Ilustração na Fundação Calouste Gulbenkian e licenciou-se na Faculdade de Belas Artes de Lisboa em 1988, seguindo o exemplo do pai, o pintor João Rodrigues Vieira.

O músico, pintor e professor foi líder dos Ena Pá 2000, banda caracterizada pelo humor absurdo (‘nonsense’) e por vezes pornográfico das suas letras, bem como dos Corações de Atum e dos Irmãos Catita, tendo criado e representado várias personagens em palco, como Lello Universal, Lello Minsk, Lello Marmelo, Élvis Ramalho, Orgasmo Carlos, Catita, entre outros.

Em 2008, Filipe Melo e João Leitão criaram uma série de seis episódios inspirada no mundo e nas personagens inventadas por Manuel João Vieira, intitulada "Um Mundo Catita".

Entre o absurdo e o sério, nota-se-lhe a crítica além do ‘nonsense’, tendo defendido na sua última candidatura à Presidência que a política e a arte deviam estar mais unidas e que é preciso desconstruir “as frases absurdas da política”.

Insistindo na promessa de “só desistir se for eleito", entre as propostas que apresenta - umas novas, outras repetidas de candidaturas anteriores – Vieira promete vinho canalizado em todas as casas e fontes de bagaço nas ruas, patinadoras russas para todos os homens, dançarinos cubanos para todas as mulheres e um Ferrari para cada português.

Relativamente à imigração, um dos alvos do discurso da extrema-direita, Manuel João Vieira propõe tratamentos para clarear a pele das pessoas mais escuras e escurecer a das pessoas mais claras, para uniformizar o tom de pele de todos os que vivem em Portugal.

A sua candidatura, “Candidato Vieira”, reuniu 12.500 assinaturas entregues no Tribunal Constitucional, um número acima do mínimo exigido de 7.500.

Manuel João Vieira tinha já anunciado candidaturas às eleições presidenciais de 2001, 2006, 2011 e 2016.


José Cardoso, ex-membro da IL que se candidata para afirmar “liberalismo social”

José Cardoso, com 54 anos, foi membro da IL, candidatou-se à presidência do partido contra Rui Rocha e, dois anos após ser derrotado, criou o Partido Liberal Social (PSL), cujos valores quer agora afirmar com uma candidatura presidencial.

Nascido 21 de janeiro de 1971 em Moçambique, José Cardoso só ingressou na política quando tinha 48 anos, com a adesão à Iniciativa Liberal em 2019, quatro anos depois da sua fundação.

No partido, notabilizou-se por ser uma voz crítica da direção de João Cotrim Figueiredo, enquanto conselheiro nacional.

Em 2023, a após a demissão de Cotrim Figueiredo, apresentou uma candidatura à liderança, contra Rui Rocha e Carla Castro.

“A única pessoa, nos últimos três anos, que tentou puxar um caminho, certo ou errado, diferente daquele que temos trilhado, tenho sido eu”, tinha afirmado quando apresentou a sua candidatura à liderança da IL.

Derrotado por Rui Rocha na disputa interna, ficando-se pelos 4,3% dos votos, José Cardoso acabaria por sair da IL em janeiro de 2024, afirmando já não se rever no partido que, considerou, tinha deixado de respeitar “princípios liberais”.

Cerca de sete meses depois, em setembro de 2024, estaria no Tribunal Constitucional (TC) para entregar as assinaturas necessárias para criar um novo partido político: o Partido Liberal Social (PSL).

Agora, José Cardoso candidata-se às presidenciais com o propósito de afirmar as “ideias do liberalismo social”, considerando que estas eleições são uma “boa oportunidade de mostrar como é que um presidente liberal social poderia dar um contributo significativo para o desenvolvimento do país”.

 


Do teatro para a política, Catarina Martins aponta a Belém para “cuidar da democracia”

Após mais de uma década na liderança do BE, 14 anos como deputada e uma carreira dedicada à cultura, a eurodeputada bloquista Catarina Martins concorre pela primeira vez à Presidência da República, prometendo “cuidar da democracia” e fazer pontes.

Catarina Soares Martins nasceu no Porto em 1973, é casada e tem duas filhas e, após um percurso ligado ao teatro, a atriz chegou ao parlamento em 2009, então ainda como independente pelas listas do BE, partido ao qual aderiu só em 2010 apesar de o seu pai ser um dos subscritores do manifesto “Começar de Novo”, que deu origem a esta força política.

Apenas dois anos após a filiação no BE, a agora candidata presidencial apoiada pelos bloquistas liderou os destinos do partido entre 2012 e 2023, sendo que no início o fez em parceria com João Semedo, a "liderança bicéfala" que sucedeu à era de Francisco Louçã.

A partir de 2014 assumiu, sozinha, os comandos do partido e foi neste período, nas legislativas de 2015, que levou o BE ao melhor resultado da sua história com mais de meio milhão de votos, 19 deputados e a terceira força política no parlamento.

É na sequência destas eleições que assina, em nome do BE, o acordo com o PS que deu corpo à batizada ‘geringonça’, o apoio parlamentar de toda a esquerda que permitiu que António Costa chegasse então a primeiro-ministro, tendo nesse ano sido escolhida pelo jornal Politico como uma das 28 personalidades políticas em destaque na Europa.

Depois de em 2019 ter conseguido manter o partido como terceira força política, as eleições antecipadas de 2022, na sequência do chumbo do Orçamento do Estado, ditaram um dos piores resultados do BE, que caiu para quinta força política e ficou reduzido a cinco deputados.

É cerca de um ano depois destas eleições que deram a maioria absoluta a António Costa que, em fevereiro de 2023, Catarina Martins anuncia que iria deixar de ser coordenadora do partido na convenção desse ano.

Depois de 14 anos no parlamento, Catarina Martins formalizou em setembro de 2023 a sua renúncia como deputada, decisão que tinha anunciado meses antes em entrevista à Lusa na qual disse que então se via a “diminuir o ritmo e a descansar um pouco” e sem estar a pensar em novas candidaturas.

Esta pausa durou pouco mais de meio ano porque, em março de 2024, foi escolhida como cabeça de lista do BE às europeias, conseguindo assegurar a sua eleição, mas ficando sozinha no Parlamento Europeu já que o partido perdeu um dos dois mandatos que tinha.

Agora Catarina Martins volta a protagonizar uma corrida eleitoral, pela primeira vez à Presidência da República, admitindo, em entrevista à Lusa, que candidatar-se não estava nos seus planos e que não teria avançado caso Sampaio da Nóvoa o tivesse feito.

“A minha candidatura coloca no centro o cuidado. Quero cuidar da democracia, cuidar dos bens comuns, cuidar da paz. Cuidar da igualdade e da liberdade", prometeu quando anunciou a corrida a Belém.

Antes de ser uma cara conhecida dos portugueses pela sua atividade política, a sua vida esteve ligada à Cultura, tendo em 1994 fundado uma companhia de teatro profissional no Porto.

Viveu os primeiros anos da sua infância entre Gaia, Feira, Santo Tirso e Vagos e, entre 1979 e 1982, viveu em São Tomé e Príncipe e Cabo Verde, acompanhando os pais que eram professores.

Depois de voltar a Portugal, foi em Aveiro que ficou a viver, tendo depois estudado na Universidade de Coimbra, licenciando-se em Línguas e Literaturas Modernas. Tem ainda um mestrado em Linguística e frequenta um doutoramento em Didática das Línguas.


Cotrim Figueiredo, o gestor que se tornou “político acidental”

João Cotrim Figueiredo, com 64 anos, foi gestor a maior parte da vida, mas, há seis anos, tornou-se um “político acidental” que, de deputado a líder da IL e eurodeputado, ambiciona agora chegar ao mais alto cargo da Nação.

Nascido em 24 de junho de 1961 em Lisboa, João Fernando Cotrim Figueiredo ganhou notoriedade nacional em 2019, quando se tornou no primeiro deputado da Iniciativa Liberal a sentar-se no parlamento, mas, antes disso, teve 34 anos de experiência empresarial.

Essa experiência começou logo aos 15 anos quando, ainda estudante no Colégio de Alemão, começou a vender, porta a porta, cabides da empresa Manequim, fundada pelo seu bisavô, experiência que, diria mais tarde, lhe revelou que queria ser homem de negócios.

Com esse intuito, após o fim do ensino secundário, em 1979, foi viver para Londres, fascinado pelo “espírito de liberdade” que se vivia na capital inglesa, e onde, para conseguir pagar a licenciatura em Economia na London School of Economics, foi acumulando empregos, entre os quais servir ‘cocktails’ numa galeria de arte contemporânea.

De regresso a Lisboa em 1985, Cotrim Figueiredo começou um percurso no setor empresarial que só terminaria 34 anos depois, quando se tornaria no primeiro membro da IL a sentar-se no hemiciclo da Assembleia da República.

Ao longo desses 34 anos, Cotrim Figueiredo foi administrador da Compal e da Nutricafés, diretor-geral da TVI e, entre 2013 e 2016, presidente do Conselho Diretivo do Turismo de Portugal, a convite do então ministro da Economia Bernardo Pires de Lima, do Governo de Pedro Passos Coelho.

Apesar de afirmar que “nunca foi antipolítico”, Cotrim Figueiredo assumiu recentemente que só decidiu entrar na política quando, numa conversa com um dos filhos, que estava à procura de emprego, percebeu que as gerações mais jovens tinham menos oportunidades e piores condições profissionais do que a sua geração.

Num curto espaço de seis meses, Cotrim aceita o convite feito pela IL para ser cabeça de lista em Lisboa nas legislativas de 2019, é eleito e torna-se presidente do partido, após ter sido desafiado por Carlos Guimarães Pinto, fundador e na altura líder.

Ficaria cerca de três anos como líder da IL, entre dezembro de 2019 e janeiro de 2023, período no qual a IL ascendeu a quarta força política, com um grupo parlamentar de oito deputados.

Como líder do partido e deputado na Assembleia da República, Cotrim Figueiredo ficou conhecido pelo seu sentido de humor, retórica e fórmulas inventivas, mas também por defender propostas polémicas e que se tornariam bandeiras do partido, como a criação de uma taxa única de IRS ou um vasto programa de privatizações, que incluía empresas como a RTP, Caixa Geral de Depósitos e TAP.

Em outubro de 2022, cerca de nove meses depois das eleições legislativas que deram uma maioria absoluta ao PS de António Costa, Cotrim Figueiredo anunciaria, perante a surpresa de muitos, que tencionava deixar a liderança da IL – seria sucedido por Rui Rocha.

Fora da liderança, Cotrim Figueiredo deixaria também a Assembleia da República em fevereiro de 2024, para, apenas cerca de três meses mais tarde, concorrer como cabeça de lista à IL nas eleições europeias: acabaria por ser eleito eurodeputado com o melhor resultado de sempre do partido em qualquer tipo de eleições, com mais de 350 mil votos (9,08%).

Apaixonado por fotografia, benfiquista ‘ferrenho’ e fã de música rock, Cotrim Figueiredo assume agora o desafio de ser candidato à Presidência da República, com o objetivo de incentivar reformas em Portugal e tornar o país mais ambicioso.


Humberto Correia, o candidato surpresa que quer resolver a crise da habitação

O pintor e autor Humberto Correia apareceu de surpresa com a entrega de quase 9.500 assinaturas no Tribunal Constitucional e prometeu percorrer Norte a Sul vestido de Dom Afonso Henriques, com a crise da habitação no centro das preocupações.

Nascido em 1961 no concelho de Olhão, distrito de Faro, onde reside, Humberto Correia é pai de dois filhos e esteve emigrado em França, onde trabalhou cerca de 10 anos em várias fábricas e 15 anos na construção civil.

Regressou a Portugal em 2003 e dedicou-se a pintar quadros na rua, na baixa de Faro, durante 20 anos.

Em 2017 foi candidato à Câmara Municipal de Faro e é também autor do livro “As Pulgas da Minha Infância”, sobre um menino que cresce no seio de uma família pobre da sociedade portuguesa nos anos 60 e 70 do século XX.

Humberto Coelho justificou a sua decisão de avançar para a corrida à Presidência da República com a pobreza vivida por “muitos portugueses”, considerando que a atual crise da habitação é “o maior problema” do país.

O candidato defende mais habitação social construída pela Estado, para alugar a preços acessíveis, e que o Presidente da República deve recorrer à magistratura de influência para resolver este problema.

Como ações de campanha, o candidato prometeu percorrer o país a entregar os seus panfletos na rua, vestido de Dom Afonso Henriques.

O início da campanha será em Viana do Castelo, seguindo-se Guimarães, Braga, Vila Real, Bragança, e a ideia é ir descendo até ao Algarve, tal como Dom Afonso Henriques na conquista de Portugal.

 

 

Seguro quebra jejum na política “sem amarras” e com apoio do PS

posicionando-se na “esquerda moderada e moderna” após ter recusado gavetas.

Depois de mais de 10 anos afastado da vida política, Seguro decidiu avançar para as eleições presidenciais do próximo ano sem esperar pelo partido que liderou e, em 15 de junho, apresentou a sua candidatura “sem amarras”, apartidária e aberta a todos os democratas.

Só quatro meses depois é que o PS avançou para o apoio formal a esta corrida presidencial, uma proposta conjunta do presidente do PS, Carlos César e do secretário-geral do PS, que tem apelado à mobilização dos socialistas em torno desta candidatura.

Seguro junta-se assim a Mário Soares, Jorge Sampaio e Manuel Alegre como os nomes que o PS apoiou formalmente ao longo da sua história em campanhas presidenciais.

António José Martins Seguro nasceu em 11 de março de 1962 em Penamacor, é mestre em Ciência Política, pelo ISCTE-IUL, e licenciado em Relações Internacionais, pela Universidade Autónoma de Lisboa. É casado e tem dois filhos.

Depois de ocupar vários cargos públicos – membro do Governo, deputado ou eurodeputado, entre outros – Seguro afastou-se da vida política após a demissão de secretário-geral do PS, em setembro de 2014, na sequência da derrota das eleições primárias contra António Costa.

“Qual é a pressa?” é uma das frases que mais colada à pele lhe ficou, uma resposta aos jornalistas em janeiro de 2013 sobre quando é que a sua direção tencionava propor uma data para a realização do congresso do PS.

Remetendo-se à condição de “militante de base” depois de deixar a liderança do PS, que ocupou entre 2011 e 2014, o agora candidato presidencial dedicou-se às aulas na universidade e aos seus negócios e manteve-se quase em silêncio sobre as questões políticas ao longo da última década, com raríssimas exceções.

Em novembro do ano passado, numa entrevista à TVI/CNN que antecedeu o seu espaço de comentário semanal naquela estação, assumiu que estava a ponderar uma candidatura a Presidente da República, mas afastou regressar à vida partidária.

No dia em que o novo parlamento iniciou funções, Seguro desfez as dúvidas e anunciou que iria ser candidato à sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa, sem esperar pelo apoio do PS.

Moderação, consenso e compromissos são palavras que usa frequentemente para qualificar a sua forma de estar na política e na vida.

Líder da Juventude Socialista (JS) entre maio de 1990 e março de 1994, começou a aproximar-se da cúpula do poder socialista quando, no início de 1992, António Guterres bateu Jorge Sampaio na corrida ao lugar de secretário-geral do PS.

Pela mão de António Guterres, conheceu uma ascensão rápida: desempenhou as funções de chefe de gabinete do secretário-geral, foi eleito diretamente deputado nas legislativas de 1991 e a partir de 1994 fez parte da Comissão Permanente do Secretariado Nacional - o núcleo duro do "guterrismo".

Com a vitória do PS nas legislativas de outubro de 1995, Seguro assumiu as funções de secretário de Estado da Juventude, cargo do qual sairia para se candidatar no segundo lugar da lista dos socialistas às europeias de 1999, atrás do cabeça de lista Mário Soares.

Em 2001, regressou do Parlamento Europeu para exercer o cargo de ministro-adjunto do primeiro-ministro.

Durante a governação de Sócrates, Seguro esteve sempre na segunda linha, apesar de ter sido cabeça de lista por Braga nas eleições legislativas de 2005, 2009 e 2011, tendo coordenado a reforma do Parlamento em 2007.

Esperou pela saída de Sócrates e ficou de novo grande parte do tempo em silêncio, evitando fazer críticas em público à direção em funções, embora fossem conhecidas as suas divergências.


Marques Mendes, o político que foi quase tudo no PSD e quer agora ser Presidente

Luís Marques Mendes, 68 anos, foi deputado, secretário de Estado, ministro e líder do PSD, e entregou o cartão de militante no dia em que anunciou a candidatura a Presidente da República, em 06 de fevereiro.

Meses mais tarde, no final de maio, o PSD aprovou o apoio formal à sua candidatura, e o CDS-PP acabaria por fazer o mesmo, em novembro.

Luís Manuel Gonçalves Marques Mendes nasceu em Azurém, uma freguesia do concelho de Guimarães (distrito de Braga), em 05 de setembro de 1957, e viveu boa parte da sua vida em Fafe, filiando-se em junho de 1974 no então PPD (que em 1976 passaria a PPD/PSD).

Licenciou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Coimbra e, ainda estudante com 19 anos, chegou a vice-presidente da Câmara Municipal de Fafe e a adjunto do governador civil de Braga.

Integrou os três governos liderados por Cavaco Silva nas décadas de 80 e 90, como secretário de Estado Adjunto do ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros e, finalmente, ministro Adjunto do primeiro-ministro, entre 1992 e 1995.

Em 1995, assumiu a vice-presidência da Comissão Política do PSD e, quando Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito presidente do partido, Mendes chegou a líder parlamentar.

Foi eleito deputado pela primeira vez em 1987, pelo círculo eleitoral de Braga (por onde voltaria a concorrer em 1995), em 1991 por Viana do Castelo e em 1999, 2002 e 2005 por Aveiro.

Quando Durão Barroso ascendeu ao poder, em 2002, Marques Mendes exerceu o cargo de ministro dos Assuntos Parlamentares, que acabou por abandonar quando Santana Lopes sucedeu a Barroso na liderança do partido e no Governo, no verão de 2004.

Disputou pela primeira vez a liderança do PSD em 2000, contra Santana Lopes e Durão Barroso, no congresso de Viseu, mas saiu derrotado, tendo vencido à segunda, em 2005, contra Luís Filipe Menezes.

Marques Mendes exerceu o cargo de presidente do PSD por pouco mais de dois anos e, durante a sua liderança, conseguiu fazer aprovar uma revisão estatutária no partido que instituiu a eleição direta do presidente por todos os militantes, que substituiu a eleição pelos delegados em Congresso.

Não chegou a disputar legislativas, mas venceu as autárquicas de 2005 - nas quais ‘vetou’ as candidaturas de Isaltino Morais e Valentim Loureiro, invocando razões de “credibilidade e confiança” política - acabando por perder eleições internas antecipadas em 2007 para Menezes, na única vez em que um presidente do PSD em funções foi derrotado em diretas.

Não exerceu mais cargos políticos, tendo desempenhado funções como consultor jurídico da Abreu Advogados desde 2012. Foi comentador televisivo na SIC entre 2013 e janeiro deste ano, uma semana antes de avançar para Belém.

É conselheiro de Estado desde 2011, primeiro eleito pela Assembleia da República no segundo mandato de Cavaco Silva, e desde 2016 como um dos cinco membros escolhidos pelo atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.


André Ventura, o rosto do Chega que se afirma candidato antissistema

André Ventura, líder e figura central do Chega, voltou a entrar na corrida a Belém depois do terceiro lugar em 2021, reclamando-se o candidato antissistema, que não será o Presidente de todos os portugueses.

André Claro Amaral Ventura, 42 anos, começou o seu percurso político no PSD, partido pelo qual foi eleito vereador da Câmara Municipal de Loures em 2017, após uma campanha que ficou marcada por declarações sobre a comunidade cigana, que causaram polémica.

Em 2018, acabou por se desfiliar do PSD, em rutura com o então líder do partido, Rui Rio, e em outubro renunciou ao mandato de vereador em Loures, cerca de um ano depois de ter sido eleito.

Meses depois, nasceu o Chega, partido inscrito no Tribunal Constitucional em abril de 2019.

André Ventura fundou esta força política e é o seu presidente desde o primeiro congresso, cargo que mantém há seis anos, após várias reeleições.

O líder do Chega, que conta com o apoio do partido, anunciou em setembro que voltaria a candidatar-se a Presidente da República para esta força política “ter voz” nas presidenciais de 18 de janeiro. Este anúncio aconteceu quatro meses após ter sido candidato nas eleições legislativas e ter assumido a ambição de chegar a primeiro-ministro.

Ventura apresentou-se como o candidato antissistema, e defendeu que a sua participação nas eleições presidenciais do próximo ano é uma forma de liderar a oposição.

O discurso discriminatório contra ciganos e anti-imigração, que tem vindo a repetir ao longo dos anos, manteve-se nesta candidatura, nomeadamente em cartazes espalhados pelo país e que lhe valeram um processo em tribunal.

Nas eleições legislativas de 2019, Ventura foi eleito pela primeira vez para a Assembleia da República, na altura como deputado único.

O partido, que tem tido um rápido crescimento, conseguiu um grupo parlamentar de 12 deputados em 2022. Atualmente, o Chega é a segunda maior força no parlamento português, com 60 eleitos.

Ventura foi candidato a Presidente da República pela primeira vez em 2021 e conseguiu perto de 500 mil votos, que se traduziram em 11,9% dos votos.

Nessas eleições presidenciais, em que Marcelo Rebelo de Sousa foi reeleito para o segundo mandato como chefe de Estado, André Ventura conseguiu um terceiro lugar, ficando atrás da socialista Ana Gomes.

Em junho de 2024 foi eleito para o Conselho de Estado pela Assembleia da República.

O presidente do Chega faz também uma forte aposta em falar diretamente para o eleitorado, através das redes sociais, onde tem milhares de seguidores.

André Ventura nasceu em 15 de janeiro de 1983, em Algueirão-Mem Martins, freguesia do concelho de Sintra. É casado com Dina Nunes Ventura desde 2016 e não tem filhos.

Nunca escondeu a fé católica e fala várias vezes da experiência como seminarista na adolescência.

A nível académico, é licenciado em direito pela Universidade Nova de Lisboa e doutorado na mesma área pela Universidade de Cork, na Irlanda.

É jurista e foi professor universitário, consultor e inspetor na Autoridade Tributária.

Antes de criar o Chega, ganhou notoriedade pública também como comentador televisivo, especialmente sobre desporto. É adepto do Benfica e em criança queria ser ciclista.


António Filipe, o sócio do Belenenses que quer ser o primeiro comunista em Belém

António Filipe, com 62 anos, candidata-se à Presidência da República depois de quase 50 anos de atividade política, a maioria da qual na Assembleia da República e ao serviço do PCP, partido ao qual aderiu em 1983.

Nascido em 28 de janeiro de 1963 na Amadora, distrito de Lisboa, António Filipe Gaião Rodrigues tinha 12 anos quando se deu o 25 de Abril de 1974, dia em que, segundo diz, “a vida passou a ser a cores” e que o levou, em junho daquele ano, a ter o primeiro encontro com o PCP, numa sessão de esclarecimento organizada numa pequena associação dirigida pelo seu pai.

“Eu fiquei fascinado ao conhecer a vida de um velho dirigente do PCP, aquela conversa abriu-me uma perspetiva do papel que tinham tido [na luta antifascista] e eu devo dizer que, naquele turbilhão, ganhei uma grande vontade de intervenção política. Até hoje. Foi uma paixão que ficou”, recordou recentemente numa conversa no programa de Júlia Pinheiro, na SIC.

Com “grande vontade de participar e de intervir”, António Filipe inscrever-se-ia pouco tempo depois na União Estudantil Comunista (UEC), antecessora da Juventude Comunista Portuguesa (JCP), iniciando o seu percurso de intervenção política como delegado de turma, quase ao mesmo tempo em que se tornou, aos 13 anos, sócio do clube de futebol Belenenses, paixão que mantém até hoje – é atualmente membro do Conselho Geral do clube de Belém.

Focado em dedicar-se à intervenção política, António Filipe inscreve-se, no final do ensino secundário, no curso de Direito da Universidade Clássica de Lisboa, por ter percebido “que quem intervinha mais politicamente eram pessoas da área de Direito”.

Colega de turma do ex-primeiro-ministro e presidente do Conselho Europeu, António Costa, e aluno do atual chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, António Filipe juntar-se-ia à JCP no ano da sua fundação, em 1979, tornando-se seu dirigente em 1985.

Dois anos depois, António Filipe seria convidado para integrar as listas da CDU nas legislativas de 1987, mas só se tornaria deputado em 1989, cargo que manteria ininterruptamente até 2022 e que o tornaria uma das figuras de destaque do PCP junto da opinião pública.

Enquanto deputado, António Filipe destacou-se como vice-presidente da Assembleia da República, cargo que assumiu entre 2005 e 2022, tornando-se reputado entre camaradas e adversários pelo seu humor e por ser uma pessoa séria, aberta ao diálogo e que procura consensos.

O agora candidato presidencial ficou, no entanto, também conhecido por posições polémicas a nível de política internacional, designadamente o facto de ter considerado “profundamente injusto” classificar o histórico líder cubano Fidel Castro como um ditador, além de ter afirmado que o atual Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, personifica “um poder xenófobo e belicista rodeado e sustentado por forças de cariz fascista e neonazi”.

Membro do Comité Central do PCP desde 1992, o agora candidato presidencial foi igualmente autarca na Amadora e em Sintra, e procurou manter sempre um vínculo académico, tendo tirado o doutoramento, lecionado Direito na Universidade Lusófona e na Universidade Europeia e publicado livros sobre questões constitucionais e de política parlamentar.

Pai de dois filhos, avô de um neto e recentemente viúvo, António Filipe apresenta-se agora a eleições presidenciais insistindo na ideia de que é necessário um Presidente próximo a vida real das pessoas e que cumpra a Constituição da República.


Gouveia e Melo, o almirante das vacinas que promete estar acima das disputas partidárias

O almirante Gouveia e Melo candidata-se a Presidente da República com a promessa de estar acima das disputas partidárias e ser mobilizador na ação, após ter adquirido notoriedade como coordenador do plano de vacinação contra a covid-19.

Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo, divorciado, com dois filhos, tem 65 anos, nasceu em Quelimane, Moçambique, entrou na Escola Naval em setembro de 1979 e teve uma longa carreira militar até chegar a chefe do Estado-Maior da Armada em dezembro de 2021, cargo em que permaneceu até ao fim de 2024.

Na esfera pública, Henrique Gouveia e Melo começou a distinguir-se quando liderou a equipa das Forças Armadas destacada para apoiar as populações e os bombeiros durante a tragédia dos incêndios de Pedrógão Grande em 2017.

Em novembro de 2020, integrou a ‘task force’ do plano de vacinação contra a covid-19. E em fevereiro de 2021, após várias polémicas, o ex-primeiro-ministro, António Costa, nomeou-o coordenador da equipa.

O sucesso no exercício deste cargo valeu-lhe elevado reconhecimento público e em 2022 o seu nome começou a ser apontado como um dos possíveis candidatos à sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa no cargo de Presidente da República.

Anunciou a sua candidatura presidencial em 14 de maio, em plena campanha eleitoral para as legislativas, o que lhe valeu críticas. Na apresentação da candidatura, poucas semanas depois, o ex-chefe do Estado-Maior da Armanda procurou traçar uma linha de demarcação face a Marcelo Rebelo de Sousa, embora sem o nomear.

"Acredito que agora, mais do que nunca, precisamos de um Presidente diferente. Um Presidente estável, confiável e atento. Um Presidente que se faça ouvir, usando da palavra com contenção, com substância e com propriedade", disse.

Já em outubro, quando estavam definidos os seus principais adversários, o almirante realçou a circunstância de ser o único sem compromissos com partidos.

“O Presidente não pode ser hesitante, nem um cata-vento, muito menos um demagogo ou populista. O Presidente não pode ser o Cavalo de Troia de qualquer partido. Não está na Presidência para dizer sim a tudo, nem para derrubar governos à primeira oportunidade”, declarou.

Gouveia e Melo diz situar-se no “centro pragmático”, afirma ter Mário Soares e o general Ramalho Eanes como modelos de Presidente, e defende que a política externa portuguesa deve ter “um pé na Europa e outro no Atlântico”.

Após o 25 de Abril de 1974, saiu com a família de Moçambique. Durante o chamado período revolucionário, viveu primeiro em Viseu e depois no Brasil. Filho de um advogado “liberal” crítico do Estado Novo, regressou em definitivo a Portugal a seguir ao 25 de Novembro de 1975.

Com 24 anos, na Escola Naval, integrou a esquadrilha de submarinos, onde passou 31 dias seguidos submerso. Mais tarde, integrou a primeira missão de um submarino convencional debaixo do Ártico.

Exerceu diversos comandos operacionais ao longo de uma carreira de mais de 40 anos, em que acumulou mais de 20 mil horas de navegação. Em 2017 foi promovido a vice-almirante e comandante naval, e em 2020 foi empossado adjunto para o planeamento e coordenação do Estado-Maior General das Forças Armadas, cargo que desempenhou até ser escolhido no ano seguinte coordenador da ‘task force’ do plano de vacinação contra a covid-19.

Após um processo conturbado que envolveu o Presidente da República, substituiu Mendes Calado como chefe da Marinha em 27 de dezembro de 2021, sendo então promovido a almirante, cargo que ocupou até 2024, ano em que decidiu passar à reserva.

Durante largos meses manteve o “tabu” sobre a sua candidatura a Belém. Em outubro de 2021, em Lisboa, tinha manifestado a intenção de não se “deixar cair na tentação” da política.

“Se isso acontecer, deem-me uma corda para me enforcar”, disse.

Mais tarde, alegou que essa declaração foi uma nota de humor. Para os seus adversários, porém, simbolizou as suas contradições políticas.


Lusa

Partilhar nas redes sociais:
Partilhar no X
PUB
Capas Jornal de Abrantes
Jornal de Abrantes - novembro 2025
Jornal de Abrantes - novembro 2025
PUB