A arte rupestre está em destaque em Mação durante três dias com três eventos distintos.
Esta quarta-feira, dia 10, foi inaugurada a exposição sobre os 25 anos da descoberta da gravura rupestre no vale do Ocreza.
Junta-se o workshop europeu TupART e ainda a Assembleia Geral da Associação Caminhos da Arte Rupestre Pré-histórica (CARP).
Estes dois eventos internacionais levam ao auditório do Centro Cultural Elvino Pereira mais de meia centena de investigadores e gestores de sítios rupestres de vários países europeus.

Luiz Oosterbeek, professor coordenador no Politécnico de Tomar e responsável pelo Instituto Terra e Memória [e Museu de Mação] começou por enquadrar as descobertas do Ocreza começaram em 1972 com a construção da Barragem do Fratel.
Mas foi no ano 2000 que se redescobriu um complexo riquíssimo de arte pré-histórica em todo o vale do Ocreza. Não havia, na altura, conhecimento ou suspeita de poder haver gravuras rupestres ao ar livre abaixo do Douro. Com a identificação da gravura do “cavalo” abriu-se a porta para a arte rupestre de ar livre na Bacia do Tejo. Isso foi uma descoberta muito importante.
Luiz Oosterbeek
Sara Garcês, é arqueóloga e investigadora do Politécnico de Tomar, e do Museu de Mação. Explicou que a exposição leva o visitante a conhecer a história da história do Ocreza que será, provavelmente, o maior sítio de gravuras do paleolítico ao ar livre em toda a península ibérica
Sara Garcês

Aos jornalistas o responsável pelo Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo, Luiz Osterbeek, destacou que os investigadores encontraram um centro em Mação, “e eu garanto-lhe que não existe outro centro em Portugal, em lado nenhum, infelizmente, que dê estas condições. Por isso é que para aqui vêm os mestrados, por isso é que para aqui vem o doutoramento, por isso é que na sexta-feira vamos ter a Cátedra a ser inaugurada.”
Luiz Oosterbeek

Já o presidente da Câmara de Mação, José Fernando Martins, disse que há uma coisa que defende e está a discutir isso com o professor (Luiz Osterbeek), que é a política do retorno. “Nós temos que investir no Museu, mas, em simultâneo, temos que investir numa política de retorno para o concelho.”
O autarca explica que é preciso atrair outros investidores, porque com estes projetos “estamos a investir no turismo e o turismo cultural aqui é um passo importante. Mas depois falta a outra componente, que é a parte privada.”
E o autarca alude ao fato de haver pouca restauração e alojamento que possam “reter” os turistas e visitantes do Museu ou do património de arte rupestre. José Fernando Martins destacou a importância de todo este trabalho que leva o nome de Mação aos quatro cantos do mundo.
José Fernando Martins

A cultura liga-se ao turismo e para o autarca tem de haver ainda mais investimento, mas que traga mais retorno ao concelho.
Durante três dias, meia centena de investigadores, estão a debater estes temas e esgotam todo o alojamento existente no concelho de Mação.
A arte rupestre do Vale do Ocreza, 25 anos da sua descoberta

Numa nota de abertura da exposição, o presidente da Câmara Municipal revela que Mação se celebra, não apenas o marco se científico, mas também um ponto de viragem na valorização da nossa identidade arqueológica. Depois acrescenta que são marcas que resistiram ao tempo e convocam à reflexão e ao conhecimento.
A descoberta do complexo de arte rupestre do Vale do Tejo aconteceu em 1972 por causa da construção de uma barragem do Fratel que iria submergir amplas áreas da bacia do Tejo.
A redescoberta das gravuras no vale do Ocreza e a descoberta de arte paleolítica, em 2000, estão diretamente ligadas à construção de uma autoestrada, primeiro o IP 6 que é atualmente a A23.
A descoberta da arte rupestre do Ocreza foi, também, a redescoberta do museu de Mação. Está explicado na exposição que após dois anos de debate com a comunidade de Mação, no qual participaram mais de 800 pessoas, houve a mudança do nome para Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo.
A partir daí houve mais descobertas como a “alabarda do Casal da Barba Pouca”, as “gravuras de Cobragança” e outras.
Após as descobertas, num trabalho do Centro Europeu de Investigação da Pré-História do Alto Ribatejo, com coordenação de Luiz Oosterbeek e Laurent Caron, foram definidas três prioridades: proteção das gravuras; divulgação; e descoberta de novos conjuntos de arte rupestre.
Após 2021 foram iniciadas escavações arqueológicas e prospeção sistemática de modo a rever o conhecimento produzido nas últimas duas décadas e a profundidade a compreensão do contexto territorial das gravuras.
O sítio do Ocreza é um dos sítios de arte paleolítica ao ar livre mais relevantes da península Ibérica.
A primeira gravura paleolítica encontrada no vale do Ocreza foi um cavalo sem cabeça, no ano 2000, e foi também a primeira encontrada abaixo do Côa e na área do complexo de arte rupestre do Vale do Tejo.
Poucos meses depois, arqueólogos portugueses e internacionais referenciavam mais de 50 gravuras no vale do rio Ocreza de cronologia mais recente, que originaram visitas turísticas à zona.
Hoje, mais de uma centena de gravuras estão identificadas no vale do Ocreza, com diversas tipologias e cronologias, quatro das quais do Paleolítico Superior: a do 'cavalo do Ocreza', descoberta em 2000, a de um painel com vários animais, incluindo um auroque, em 2021, de novo um auroque, em 2023, e, em 2024, outro cavalo.
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