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Médio Tejo: 47% dos 206 fogos rurais deste ano tiveram origem criminosa e 42% por negligência

6/11/2025 às 19:51

Quase metade dos incêndios rurais registados este ano no Médio Tejo teve causa intencional. Logo a seguir, em números muito próximos, seguem-se os fogos com origem negligente.

Os números foram apresentados na tarde desta quinta-feira, em Ourém, numa reunião Centro Coordenador Operacional Subregional do Médio Tejo. As informações referentes ao período até 15 de outubro, quando terminou do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR) foram avançados pelo comandante sub-regional de Emergência e Proteção Civil, David Lobato.

O comandante sub-regional foi mostrando os quadros com o resumo dos números de 2025, sendo que o primeiro dado foi o de que a sub-região registou 206 ocorrências, de que resultaram 113,235 hectares ardidos no Médio Tejo. Os segundos números mais baixos desde 2020, apenas superados pelo ano 2021.

Os Incêndios

Até 15 de outubro, o concelho de Ourém foi o que registou maior número de incêndios rurais (69), seguindo-se Abrantes (60), Tomar (19), Torres Novas (12), Constância (10), Alcanena (8), Ferreira do Zêzere e Sardoal (7), Barquinha (6), Entroncamento (5) e Mação (3).

Já em área ardida Abrantes lidera a tabela (68,982 hectares), seguindo-se Torres Novas (17,706 hectares) e Ourém (13,773 hectares).

As causas

Do total de incêndios rurais nesta sub-região, e também até 15 de outubro, 95 foram intencionais, ou seja, derivado de ação criminosa. 81 tiveram causa negligente e registou-se, ainda, quatro situações de reacendimento.

“Quase 50% das ocorrências são de origem intencional”, frisou David Lobato, esclarecendo que, neste âmbito, Ourém foi o concelho com maior número (46) e logo depois Abrantes (25).

No caso dos incêndios com causa negligente, Abrantes lidera (25) e logo depois surge Ourém (16).

Apenas dois incêndios de um total de 206 tiveram causa natural, de acordo com os dados disponibilizados.

E há também 16 que ocorreram com causas desconhecidas. Por outro lado, os números do DECIR do Médio Tejo revelam que 97% de todos os incêndios foram investigados, havendo apenas algumas ocorrências em Ourém e Sardoal que não têm as investigações completas.

As comparações com o passado
Comparativamente ao histórico dos últimos cinco anos (2020 – 2024), o Médio Tejo teve menos 19% de ocorrências de incêndios rurais e menos 95% de área ardida relativamente à média anual deste período.

De acordo com David Lobato, 2025 é ainda o segundo ano com menos ocorrências e menos área ardida desde 2020.

O melhor ano em termos de incêndios rurais (201) foi 2021, também com menos área ardida (87,43 hectares).

Em sentido inverso, o pior foi 2020 (313 incêndios rurais), mas em termos de área ardida foi 2022 com 8.066,85 hectares (292 incêndios).

Prevenção e pré-posicionamento

Nesta reunião, o comandante sub-regional do Médio Tejo destacou que para o território ter registado estes números houve vários fatores a contribuir. A antecipação e monitorização, exemplificando com o pré-posicionamento de meios, o reforço de equipas, o alargamento dos períodos de vigilância, a disponibilização de meios técnicos (máquinas de rasto, ‘kits’ de juntas de freguesia ou reservatórios de água), envio de notificações SMS, declaração de situação de alerta, reuniões diárias do Centro Coordenador Operacional e difusão de avisos à população via órgãos de comunicação social, entre outros aspetos.

E depois “mostrou” o mapa do território com a cobertura dos pré-posicionamentos de todas as forças de Proteção Civil e destacou o trabalho de sapadores florestais e das carrinhas das Juntas de Freguesia equipadas com kits para uma primeira intervenção mais rápida. “Um incêndio a começar apaga-se com um balde de água”, explicou David Lobato dizendo que as equipas das juntas de freguesia deveriam disseminar-se por todo o território. E deu os exemplos de Abrantes, Tomar e Ourém que têm investido nesta matéria.

Há um vazio no mapa no concelho de Torres Novas, que já está a ser articulado, e o novo presidente da Câmara de Mação já disse numa reunião feita esta semana naquele concelho que vai querer ter equipas locais de Proteção Civil com viatura e kits de primeira intervenção em todas as freguesias.

David Lobato explicou que nos dias de risco muito elevado ou máximo, neste verão foram 49, se existir uma teia de bombeiros, a principal força da Proteção Civil, mas dos sapadores, juntas de freguesia, AFOCELCA, INCF e outras entidades a cobrir o território aumenta, substancialmente, a resposta rápida de primeira intervenção e aumenta também a dissuasão de cidadãos que circulam na floresta e que podem ser potenciais incendiários.

“Ganhamos, antecipando”, resumiu David Lobato, que realçou ainda não haver vítimas mortais, nem feridos graves.

Aos jornalistas, o comandante sub-regional reconheceu que “o Médio Tejo tem um grande problema, que é o ‘incendiarismo’”.

Considerando que tem sido feito “um trabalho extraordinário” pela Guarda Nacional Republicana, Polícia Judiciária e Grupo de Redução de Ignições (composto por elementos daquelas polícias e Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas), com suspeitos identificados e detidos, sobretudo em Ourém, David Lobato admitiu, contudo, ser necessário “apostar ainda mais na sensibilização com os municípios, ir às freguesias e, se calhar, abaixo das freguesias, à própria aldeia”.

O combate

Quanto ao trabalho de combate, salientou a importância de ter “uma dispersão de meios pelo território todo” com equipas pré-posicionadas, sustentando que, por isso, o Médio Tejo não teve grandes incêndios este ano, para assinalar ainda que esta região tem vindo “a diminuir o número de ignições e também a área ardida”.

No Médio Tejo foram quatro ocorrências a necessitar de ataque ampliado, quer dizer, quatro incêndios que escaparam à resolução nas primeiras horas, ou seja, com a primeira intervenção. Em Abrantes, no sul do concelho, a 22 de junho aconteceu uma dessas ocorrências (69 meios, 228 operacionais e 39,08 hectares de área ardida) e em Mouriscas a 12 de outubro uma segunda que envolveu 86 meios, 246 operacionais e 1,76 hectares de área ardida. Ambos ocorreram por negligência. Os outros dois registaram-se em Torres Novas (29 junho) e Ourém (21 de setembro) também por negligência.

Mesmo assim, e apesar de todo este esforço no território, o Comando Subregional do Médio Tejo registou até 15 de outubro 91 intervenções fora desta área, sendo a Lezíria do Tejo (30) e a Região de Leiria (29) os territórios com mais presenças dos operacionais do Médio Tejo.

A lista não é curta, seguindo-se a região de Coimbra (11) Beira Baixa (9), Alto Alentejo (4), Beiras e Serra da Estrela e Viseu Dão e Lafões (2) e depois Algarve, Alto Minho, Douro, e Tâmega e Sousa com uma intervenção cada.

O comando sub-regional do Médio Tejo abrange os concelhos de Abrantes, Alcanena, Constância, Entroncamento, Ferreira do Zêzere, Mação, Ourém, Sardoal, Tomar, Torres Novas e Vila Nova da Barquinha e conta com 13 corporações de Bombeiros, pois o concelho de Ourém tem três, a sede de concelho, Caxarias e Fátima.

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