Há cinco lojas do centro histórico de Abrantes que aderiram ao desafio de outros tantos grupos de alunos da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes para lhes ser “construído” um plano de marketing e promoção de marca.
Este foi também o desafio laçando pela professora Ana Filipa Joaquim à turma do 3.º ano da Licenciatura em Comunicação Social (ramo de Comunicação Empresarial) e que contou com uma apresentação pública. A parceria incluiu ainda o AGORA Abrantes [projeto de gestão dos Bairros Comerciais Digitais].
A professora explicou que o objetivo, para além da componente académica e formativa, pretende “tirar a escola da sala de aula e trazer a comunidade para a escola e a escola para a comunidade.”
E continua a referir que “às vezes, os alunos não têm noção do que é que se passa exatamente na realidade. E aqui, quando os alunos estiveram a fazer este projeto, disseram aquilo que na vida real acontece, que é não conseguem falar com a pessoa, não há orçamento, não sabem qual é o objetivo que querem de comunicação. Aqui é dar-lhes um cheirinho, ainda sem grandes consequências, do que é a vida real. Dar-lhes aquilo que se chama na gíria calo e fazer com que eles, os alunos, compreendam as dificuldades da vida real. E também os comerciantes percebam que têm aqui na escola um parceiro que os pode ajudar a dinamizar também os seus negócios.”
Ana Filipa Joaquim gostaria de ter tido na apresentação os parceiros, para além dos institucionais, como Município e AGORA Abrantes.
E explicou o conceito do trabalho. “A ideia era os alunos fazerem propostas adequadas ao mercado, adequadas aos comerciantes, para os comerciantes poderem usufruir e poderem ter aqui, digamos, uma consultadoria de marketing gratuita. E ara os alunos perceberem o que é que resulta e o que é que não resulta, num ponto de vista académico, num ponto de vista científico e profissional.”
As apresentações sobre a Red Door Tattoo Studio, Spa do Pet, Barbearia Clandestina, Janela dos Sabores e Micasa incidiu muito sobre o digital e a docente refere que gostaria “de ter visto mais parte humana, parte tradicional propriamente dita da comunicação. É um caminho, é um caminho como outro qualquer. Vamos tentar, na próxima edição, fazer isto um bocadinho mais tradicional também.”
Ana Filipa Joaquim, docente ESTA

De todos os grupos, duas alunas, de grupos diferentes, explicaram a experiência académica que pode ter aplicação direta na vida destes negócios.
Stephanie Dias começou por explicar o que fizeram, depois de receberem a proposta de trabalharmos em conjunto com uma campanha que já existia, que era o “Agora Abrantes” [projeto dos bairros comerciais digitais]. “Quando nós entrámos dentro daquilo que era o projeto, verificámos existirem muitas lojas aqui do centro histórico, muitas delas que nós também não conhecíamos. Portanto, este contacto com o mercado de trabalho e com as diferentes lojas que existem, nós conseguimos perceber que existiam muitas dificuldades e que existiam coisas que poderiam ser trabalhadas de forma mais direta.”
Já Helena Van-Dúnem sobre a facilidade de chegar aos empresários frisou que “a verdade é que tem muita gente que já está um pouco desmotivada com as coisas, porque hoje em dia está tudo muito atualizado, a pessoa já não tem tanta interesse em andar pelo centro histórico.” Helena confirmou o que a colega já tinha referido, descobriram no centro de Abrantes muito mais lojas que as que pensavam que existiam porque “não olhamos à nossa volta, estamos muito focados no que está na nossa mão, por isso foi um pouco mais complicado de ter estas conversas, de tentar ter ideias inovadoras.”
Os vários grupos, confidenciaram foram “superbem recebidos em todas as lojas.”
Os proprietários das lojas “estiveram à vontade para dizer aquilo que estava errado e aquilo que queriam melhorar, mas realmente aqui a falta de tempo é uma das maiores dificuldades que nós sentimos para nós e para as lojas para poderem trabalhar aquilo que nós queríamos que elas trabalhassem.”
E um dos problemas anotado é a falta de tempo para poderem conciliar a gestão dos espaços com o acesso e gestão de redes sociais, por exemplo.
Já sobre o futuro, e a aplicabilidade destes trabalhos, ambas referiram que o maior interesse dos comerciantes é ter pessoas nas lojas, e que os grandes “impulsos” destes projetos de comunicação aporta mais ao uso das redes sociais. “O digital acaba por ser uma forma de atrair as pessoas a ir ao local, mas para eles acaba por ser uma barreira porque eles querem mesmo é que as pessoas passem, vejam, entrem, conheçam. Portanto, acho que essa diferença para nós foi, um bocadinho, um choque no sentido de que nós estamos muito habituados a ir pesquisar o que é que queremos comprar, o que é que queremos ver e eles querem um público mais atencioso.”
Stephanie Dias conclui a dizer que os trabalhos mostraram “lojas com conteúdos bastante interessantes que merecem a atenção das pessoas, sobretudo a nossa que trabalhamos por elas.”
Já Helena Van-Dúnem sorri e concluiu com um: “era engraçado ver as coisas que nós criámos nas redes sociais deles, por exemplo. Ia ser interessante ver os comerciantes a tentarem fazer a diferença e mudarem através do projeto.”
Stephanie Dias e Helena Van-Dúnem, alunas ESTA

O presidente da Câmara de Abrantes esteve presente na apresentação pública destes cinco trabalhos que incidiram sobre cinco empresas, ou negócios, instalados no centro histórico de Abrantes. Mas o autarca começou por promover a nova Escola, cujas obras já se iniciaram. E, convidando estes alunos (estão no último ano) para a inauguração deixou no ar a expectativa que a nova escola permita criar mais cursos, atrair mais alunos e melhorar a formação ministrada.
Depois incidiu o seu olhar sobre o projeto, também ambicioso, para o centro histórico, “de reativação, de dinamismo para o centro histórico, utilizando aqui a base, as questões das novas tecnologias, do mundo digital, em torno da dinamização de centros históricos, não é só o nosso. As grandes superfícies exercem um desafio incrível, porque as grandes superfícies tiram dentro dos centros históricos e os centros históricos que não têm muito potencial turístico, os centros históricos têm dias difíceis a competir com as grandes superfícies.”
Manuel Jorge Valamatos disse que é necessário fazer “transformações dos nossos centros históricos e introduzir novas ideias, novos instrumentos capazes de atrair pessoas para o dinamismo económico que urge acontecer. Foi por isso que lançámos o ‘Agora’, é um projeto ambicioso com fundos comunitários que nos permite dinamizar, introduzir o mundo digital, mas também a comunicação. Introduzir novas linguagens de comunicação capazes de atrair pessoas.”
E concluiu a intervenção com uma mensagem para estes jovens que estão a terminar a licenciatura “o que marca a diferença é a qualidade das pessoas que saem das instituições. Melhores do que alguns que saem de faculdades que estão no topo dos rankings disto e daquilo. São as pessoas é que contam. A qualidade das pessoas e a sua competência.”
Manuel Jorge Valamatos, presidente CM Abrantes

E a professora Ana Filipa Joaquim lançou a apresentação dos trabalhos finais com uma explicação: “Eu não sou de cá, o que seria muito complicado às vezes envolver a comunidade que não conheço nada nem ninguém” e frisou ir conhecer, nesta apresentação, os trabalhos propostos.