Uma auditoria às contas do município, a criação da polícia municipal e justiça social são as prioridades do novo presidente da Câmara do Entroncamento, Nelson Cunha, eleito pelo partido Chega nas autárquicas de 12 de outubro.
“O primeiro passo será uma auditoria externa, independente, às contas e compromissos do município. Não se trata de desconfiança, mas de garantir rigor e transparência para podermos planear o futuro com dados concretos”, afirmou à Lusa Nelson Cunha, sublinhando que a medida visa informar o executivo, a oposição e os munícipes sobre a realidade financeira do concelho do distrito de Santarém.
O autarca, de 35 anos, que tomou posse na sexta-feira, iniciou esta semana as funções de presidente do município com uma agenda de prioridades, desafios e projetos estratégicos definida para os próximos quatro anos e onde a “transparência financeira, segurança, fiscalização dos apoios sociais, habitação e integração de minorias” constituem eixos centrais do mandato.
A segurança é considerada uma “prioridade máxima” pelo autarca, que pretende avançar com a criação de uma Polícia Municipal estruturada e equipada, uma das ‘bandeiras’ do programa eleitoral que apresentou, com sete operacionais numa primeira fase.
“Não é apenas uma questão de presença armada, é uma questão de autoridade, prevenção e proximidade às pessoas”, explicou.
Os cálculos preliminares apontam para um investimento no primeiro ano de implementação do projeto na ordem do meio milhão de euros, valor que engloba equipamentos, viaturas e reabilitação da antiga esquadra da PSP para instalar a polícia municipal, a par de formação, fardamento e vencimentos dos agentes.
Outro eixo do mandato é a “fiscalização rigorosa dos apoios sociais”, em linha com as diretrizes do partido.
“Vamos fazer um levantamento para perceber a realidade, avaliar os apoios e garantir justiça social. Não se trata de cortar apoios a quem precisa, mas de atuar com rigor e critério”, esclareceu Nelson Cunha, que assegurou uma postura de governação inclusiva.
“Vou governar para todos, independentemente de raça, credo ou minorias. A minha missão é estar próximo das pessoas, conhecer a realidade de todos e agir com justiça social”, afirmou, destacando a importância de integrar imigrantes e residentes na vida local e de disponibilizar habitação suficiente para quem quer trabalhar e contribuir para a cidade.
Nelson Cunha revelou ainda que quer assumir os pelouros de Proteção Civil e Urbanismo e pretende fazer um acompanhamento próximo de todas as áreas do município, reunindo-se regularmente com chefes de departamento e vice-presidente.
O plano estratégico para o mandato contempla igualmente intervenções imediatas na limpeza urbana e reorganização de serviços, bem como uma visão de médio e longo prazo centrada na criação de emprego, fixação de jovens e dinamização socioeconómica do concelho.
Questionado sobre a relação com André Ventura e as posições públicas do líder do Chega, Nelson Cunha adotou um tom moderado.
“As opiniões são pessoais. O meu foco é a justiça social, servir a população e agir com ética. Vou conciliar os valores do partido com a prática de governança local, com diálogo e proximidade às pessoas”, afirmou.
Sobre as declarações controversas de André Ventura relativas a Salazar, o autarca defendeu que o passado deve ser valorizado apenas pelo que foi construtivo, mas que a democracia atual deve ser preservada.
O novo executivo da Câmara do Entroncamento é constituído por três eleitos do Chega, dois do PSD e um do PS.
Na Assembleia Municipal, a oposição conseguiu eleger a presidência da mesa, após o PSD ter apresentado uma lista alternativa à do Chega e que contou com o apoio do PS.
Sem maioria no executivo, Nelson Cunha salientou que “o diálogo é crucial”, assegurando que irá “trabalhar com seriedade e transparência”, respeitando as decisões da Assembleia Municipal.
Com 37,34% dos votos, o Chega conquistou o município ao PS, que governava o concelho e ficou na terceira posição nas eleições de dia 12, atrás da coligação PSD/CDS-PP.
Nas eleições de 2021, o PSD tinha conquistado três mandatos, o PS três e o Chega apenas um.
A Câmara do Entroncamento é uma das três que o Chega conquistou nas autárquicas de dia 12, a par de Albufeira, no distrito de Faro, e de São Vicente, na ilha da Madeira.
Lusa