O concelho de Abrantes foi dos mais fustigados, na sub-região do Médio Tejo, com consequências da Depressão Cláudia que está a afetar o tempo no continente até ao próximo sábado.
Esta tempestade provocou um número elevado de inundações de estradas, habitações e garagens no concelho, tendo provocado três desalojados que vão passar na noite nas instalações dos Bombeiros Voluntários de Abrantes. Trata-se de uma família, residente em Alferrarede, que viu a sua casa ficar inundada com a subida das águas das ribeiras. Ao que conseguimos saber a água inundou praticamente todo o rés do chão, de modo que torna a casa inabitável por alguns dias, até resolução do problema.
Créditos: Elsa Mari
Este é um dos vários casos que estão a ser acompanhados pelos serviços de Ação Social do Município que tinha mais situações sinalizadas. Foram casas que tiveram a água a entrar, mas que não implicam a necessidade de realojamento destes cidadãos. São, por isso, considerados como deslocados durante um período de tempo, mas podem depois regressar aos locais onde vivem.
Para estes casos mais graves, o Quartel dos Bombeiros de Abrantes tem uma capacidade de alojamento temporário para 12 pessoas, numa das suas camaratas.
Caso exista uma situação mais grave pode ser ativada uma célula do Regimento de Apoio Militar de Emergência (RAME) que poderá instalar uma tenda para situações emergentes.
Desta manhã há ainda a registar o socorro de quatro automobilistas que ficaram presos em lençóis de água ou nas zonas em que as ribeiras atravessam estradas ou ruas.
Ainda em Alferrarede na rua António Correia Pires os moradores queixa-se das obras feitas no início de outubro. Toda a zona do Tapadão foi pavimentada e agora nesta rua ficou com o alcatrão ao nível dos passeios e a água entra nos quintais e algumas habitações.
Rosinda Santos contou à Antena Livre que nunca lhe tinha acontecido isto, antes destas obras, por isso estava, visivelmente, zangada. Desde a manhã que andava a tentar tirar a água da sua propriedade.
Rosinda Santos

Uma das situações mais complexas foi a ribeira de Casais de Revelhos que transbordou de uma forma que, dizem os moradores, nunca antes tinha acontecido com esta violência. Durante a manhã os cidadãos ficaram impedidos de sair da aldeia, porquanto o acesso a Sardoal também estava inundado.

Os Casais de Revelhos têm uma das situações mais complicadas, já que o abastecimento de água está condicionado. Às 14 horas, segundo o presidente da Câmara de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos, os Serviços Municipalizados estavam a trabalhar em contra-relógio para repor a ligação e evitar que os reservatórios ficassem vazios. Às 15 horas já alguns moradores davam conta que os caudais da ribeira tinha diminuído e que já era possível o acesso de Alferrarede e A23 à aldeia.
Manuel Jorge Valamatos, presidente CM Abrantes
De registar ainda a inundação da Escola do 1.º Ciclo do Ensino Básico de Tramagal. A água entrou e inundou uma cave. Como a escola está em pausa escolar, prevê-se que não haja aulas na próxima segunda-feira, dia 17, por forma a que possa ser feito o escoamento das zonas inundadas e a limpeza.
Para já, segundo Isabel Alves, diretora do Agrupamento de Escolas n.º 2 de Abrantes, há garantia de que a Associação de Pais vai ter o ATL a funcionar segunda-feira para os pais que não possam ficar com as crianças em casa.
A diretora indicou ainda que na segunda-feira será feita nova avaliação dos eventuais estragos e da operacionalidade do estabelecimento de ensino.
Isabel Alves, diretora Agrupamento Escolas n.º 2 de Abrantes
No concelho há a registar problemas com a Ribeira de Rio de Moinhos, a água saiu do leito, inundando terrenos já próximos de Rio de Moinhos, havendo ainda algumas zonas da estrada que liga Rio de Moinhos a Pucariça com avaliação dos serviços do Município.
A Estrada Nacional n.º 3, em Carvalheiros, entre Alferrarede e Mouriscas, tem um troço com a circulação apenas num sentido pela queda de uma barreira. É uma situação que deverá ser resolvida pela Infraestruturas de Portugal, entidade que tem a responsabilidade daquela via.
Depois, por todo o concelho, há outras situações pontuais e menos gravosas, sendo que depois do socorro às situações mais urgentes os Bombeiros Voluntários de Abrantes colocaram no terreno equipas para perceber que outras situações necessitam intervenção, mas sobre as quais não houve queixas.
Os Bombeiros Voluntários de Abrantes tiveram a primeira queixa, ou pedido de apoio, às 07h07 minutos desta manhã. Os pedidos de socorro são feitos via Bombeiros ou Proteção Civil Municipal. Ambas as estruturas colocam os operacionais nos terrenos, assim como a divisão de logística e de obras do Município de Abrantes, porquanto há situações que carecem de outro tipo de intervenções.
Os Bombeiros de Abrantes vão ter ainda alguns dias de trabalho porque há muitas garagens ou caves a necessitar de moto bombas para retirar a água que se acumulou.
Sardoal: Talude da antiga EN2 oferece “muita preocupação”
Em Sardoal, a situação não foi muito diferente. O presidente da Câmara e responsável pela Proteção Civil no concelho disse à Antena Livre que foi “uma manhã bastante atribulada, quer para a Proteção Civil, quer para os Serviços Operacionais, quer para as nossas Juntas Freguesia, quer para as pessoas particulares que sofreram um pouco esta intempérie que assolou aqui o nosso território”.
Pedro Rosa ainda não conseguia “contabilizar quantos milímetros cúbicos é que há a registar, mas foi de facto muita água” e acrescentou que “por mais que tivéssemos os sumidouros e as linhas de água limpas, não seria suficiente para abarcar com toda a água que caiu”.
Relativamente a estragos provocados pela chuva, o autarca congratulou-se por não haver pessoas feridas e disse que o que há “a lamentar neste momento são apenas danos materiais, felizmente”. O Município e as restantes entidades ainda estão a contabilizar e a avaliar os prejuízos. Pedro Rosa confirmou que a Câmara reuniu “ao início da tarde com todas as Juntas de freguesia, com os Serviços Operacionais, com o Gabinete Técnico da Câmara e a Proteção Civil. Estamos a fazer esse levantamento e até mesmo a analisar”.
No concelho de Sardoal registaram-se “algumas inundações em residências, queda de muros particulares, queda de muros que, penso eu, são da nossa responsabilidade, alguns aluimentos de taludes junto às estradas - ainda estamos a analisar o aluimento de um talude da antiga EN2 que nos oferece muita preocupação, mas são muitos prejuízos”. Pedro Rosa relatou que “ainda agora cheguei de uma casa particular, onde duas viaturas automóveis ficaram completamente destruídas”.
Pedro Rosa, presidente CM Sardoal
Quanto ao aviso do Município para que não se circule no traçado original da En2, Pedro Rosa explicou que “cortámos o acesso entre a aldeia de Andreus e o início da freguesia de Santiago de Montalegre. Também já apelámos à Associação dos Municípios da Rota da EN2 que também colocassem o aviso nas redes sociais, para desincentivar as pessoas a virem por este percurso e optarem pelo percurso da variante”. Segundo o presidente da Câmara Municipal, “temos uma outra estrada que ainda está a ser objeto de limpeza, para já apenas uma limpeza que permita a circulação rodoviária. Temos outras, um pouco por todo o concelho, onde houve aluimentos de terras, de taludes, de estradas... portanto, estamos no terreno até que haja luz e até que o trabalho não se acabe”.
Vila de Rei: Danos graves nas Praias Fluviais do Penedo Furado e do Bostelim
Em Vila de Rei, a quantidade de água que caiu deixou um rasto de destruição que ainda nem sequer é visível.
Paulo César Luís também declarou à Antena Livre que “durante o dia de hoje tivemos alguns pontos onde existiram algumas cheias, algumas derrocadas e foi necessário proceder à interrupção de algumas vias de comunicação”.
Os serviços estiveram no terreno e, segundo o presidente da Câmara Municipal, “até ao momento, conseguimos proceder à limpeza e à dotação de capacidade de circulação de todas as infraestruturas rodoviárias, com exceção de uma, nomeadamente junto à aldeia da Lousa, onde julgamos que durante a manhã de amanhã estará restabelecida a circulação automóvel. Esta situação decorre em virtude de um deslizamento de barreiras que é necessário retirar. Contudo, conseguimos até ao momento debelar todas as situações que afetam particulares, mas também o domínio público, e estamos em crer que durante o dia de amanhã conseguimos finalizar todos os trabalhos de consolidação destas anomalias”.
Fazendo a contabilização dos estragos, Paulo César Luís disse que “há a registar um conjunto de danos graves, nomeadamente na Praia Fluvial do Penedo Furado e na Praia Fluvial do Bostelim. Também algumas pontes e açudes cuja visualização e contabilização dos estragos só será possível aquando da redução dos caudais, mas que oportunamente iremos quantificar e orçamentar”.
No que respeita a prejuízos de particulares, o autarca confirmou que “houve algumas inundações, nomeadamente em garagens, cujos sistemas de libertação de água foram insuficientes para a quantidade de água que estava a entrar”. O presidente da Câmara confirmou que “essas situações foram resolvidas pelos Serviços Municipais de Proteção Civil, muito pela pronta atuação dos Bombeiros Voluntários e também pelo Serviço de Sapadores Florestais”. Paulo César Luís deixou ainda a nota do “esforço e empenho” dos Serviços Municipais de Proteção Civil, que “têm conseguido debelar todas as situações que têm surgido”.
Paulo César Luís, presidente CM Vila Rei

Praia Fluvial Bostelim

Penedo Furado
Relativamente a inundações em habitações, Paulo César Luís disse não ter “registo de nenhuma casa, nem de nenhum habitante de Vila do Rei que tenha a necessidade de ser realojado em virtude de alguma cheia que tenha ocorrido”.
Médio Tejo: Uma centena de ocorrências com Abrantes registar mais 30 e sardoal 14
O Médio Tejo foi uma das sub-regiões mais afetadas pela Depressão Cláudia, com um registo de 95 ocorrências, sendo que a maior parte, 65, aconteceram entre as 8 da manhã e o meio-dia.
De acordo com dados das 16 horas, do comando Sub-regional do Médio Tejo, Abrantes foi o concelho com mais ocorrências, 33, seguido de Sardoal, 14, e Ourém, 12.
A inundação de estruturas foi a tipologia de ocorrências com maior número, sendo estradas ou casas e garagens. Houve ainda várias quedas de árvore e também busca e resgate de quatro automobilistas, todos no concelho de Abrantes.
David Lobato, comandante sub-regional do Médio Tejo, indicou que muitas vezes o cidadão facilita a passar em zonas inundadas e depois pode ter problemas, quando nestes casos a cautela é sempre a melhor conselheira.
David Lobato, comandante sub-regional ANEPC
O aviso laranja para Santarém foi desativado e passou a amarelo até às 21 horas desta sexta-feira. De notar que Santarém esteve em aviso laranja durante as primeiras horas da manhã, passou a vermelho entre as 9 e as 10 horas, baixou para laranja e, já esta tarde, para amarelo.
Mesmo assim é expetável que ainda possam ocorrer alguns episódios de chuva, que pode ser por vezes forte.
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