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ENTREVISTA: FILIPA MOTA (Hyubris) "Tudo o que faço é a concretização do meu sonho"

4/09/2017 às 00:00

Numa atuação dos HYUBRIS na RTP, José Carlos Malato dizia em direto que "se os anjos tivessem voz, esta poderia muito bem ser a voz de um anjo". Chama-se Filipa Mota, e é "a Fada" que dá voz aos HYUBRIS. Sem ninguém esperar, a banda de Tramagal voltou aos palcos em Janeiro deste ano na Gala Antena Livre & Jornal de Abrantes, que também os lançou em 2003. Um regresso muito desejado, depois de uma paragem de 4 anos onde aconteceu o nascimento dos filhos de alguns elementos da banda. Filhos esses que entretanto já dão os primeiros passos e já assistem aos concertos da família Hyubris! Era portanto, tempo de voltar aos palcos! 

Tranquila e feliz com a vida, Filipa Mota é assim mesmo…contagia confiança e felicidade! E esteve à conversa connosco…. no intervalo dos 10 concertos já dados desde o regresso, e com mais alguns agendados até final do ano.

 

Filipa, em 2017 estás de regresso aos palcos continuando a ser a "front woman" dos Hyubris, um projeto que está quase a chegar aos 15 anos de existência…Quando olhas para trás, para o inicio, o que é que te vem em primeiro lugar à memória?

Cantar sempre foi um sonho de infância…de adolescente! Mas acima de tudo é um sonho que me acompanhará toda a vida! Mesmo que um dia volte a “parar” este sonho perseguir-me-á eternamente. É sempre o que me vem à memória...o sonho de cantar.

Ser cantora, estar ligada às artes foi sempre então um sonho de menina...

Sim. Foi mesmo! Um sonho de menina…e cada passo que fui dando ao longo da vida foi nesse sentido. A música, o teatro e a dança sempre foram a minha motivação.

Lembras-te das primeiras músicas que te chamaram a atenção e que acordaram a cantora que havia em ti?

Sim, lembro… lembro-me muito bem do primeiro concerto a que assisti em pequena. Um concerto da Dulce Pontes… e ainda me lembro da sensação mágica de a  ver e ouvir cantar, ela dançava como se esvoaçasse.  

E qual foi a primeira música que te lembras de ter cantado para um público?

(Risos) Penso que no jardim de infância já era a protagonista na área das canções…Não me lembro é da canção ao certo, mas lembro-me que era uma musica infantil!

Nessa altura, algum dia te passou pela cabeça, que um dia no futuro, poderias ser a voz de uma banda rock?...Como é que te imaginavas enquanto cantora?

Sempre gostei de cantar, desde pequena que cantava e tocava viola no coro de igreja…e a recção das pessoas ao ouvir-me sempre foi muito positiva. Entretanto comecei a compor e a escrever musicas e sentimentos pessoais que efetivamente qualquer adolescente manifesta. A partir daí comecei a explorar este lado de compositora.

Depois, já na adolescência, a vida faz com que tu e o Jorge Cardoso (guitarrista) se encontrem e criem uma Amizade forte. Descobriram logo afinidades musicais? Nessa altura, o Jorge já estava a tocar com os “Lupakajojo”…

Sem dúvida…o Jorge Cardoso foi o meu grande “padrinho musical” ao convidar-me para fazer parte da banda…Inconscientemente até, ele mudou a minha vida por completo. E juntos na composição complementamo-nos.

E então, como é que surge a oportunidade e o convite para integrar o projeto? Nada fazia prever que os Lupakajojo fossem ter uma vocalista!

O convite surgiu na altura apenas para fazer coros na banda…ou melhor…segundas vozes. Aliás eu fui cantar apenas para experimentar…os meus pais nem sonhavam!! Ainda me lembro da primeira vez que os ouvi… para mim eles eram (e são) os meus ídolos! Identifiquei-me de imediato com a forma de ser e de estar de todos eles… são todos excelentes seres humanos, de uma sensibilidade incrível e sim…senti que tinha encontrado a química musical perfeita.

E assim encontras os “Lupakajojo” que viriam depois a formar contigo os Hyubris, além do guitarrista Jorge Cardoso, o baterista Lulla, o baixista Panda e o teclista João David. Uma banda de Heavy Metal…música da “pesada”…e dá-se a troca de vocalista e de nome. O Kaiser sai, (embora continuasse depois ligado a Hyubris) e entras tu como vocalista e nascem os Hyubris…Assim de repente, qual foi o primeiro impacto disto na tua vida?

Quando oficialmente me tornei a vocalista de Hyubris… senti que a minha vida ia mudar completamente… mas sobretudo o contentamento era maior…poderia  “ser tudo o que sou , tudo o que penso e aquilo que eu gostava de ser”.

Foi uma surpresa para ti, descobrires que a menina calma, afável…tranquila era afinal capaz de cantar "rock da pesada"?

(Risos) rock da pesada? O nosso rock até é bastante leve (Risos) O que ofereço em palco e sobretudo a minha transparência…eu sou tudo o que vê e o que possam sentir…calma mas também explosiva… mas sobretudo muito feliz e agradecida pela minha vida e pelas pessoas bondosas que me rodeiam.

E como achas que os rapazes da banda viram na altura a tua chegada?

Muito bem…foram e são sempre muito respeitadores e cordiais…até foram apresentar-se aos meus pais, dando a palavra de que eu estaria em boa companhia !! Mal eles sabiam (e eu) que no futuro iria casar com o baterista (Risos).

Nos primeiros tempos de Hyubris, ainda cantaste um pouco ao estilo dos Lupakajojo. Rock..pesado e em inglês, embora no Ep Desafio de 2003, já houvesse um tema em Português (Fadas, Creio nelas)…As fadas e os duendes entram aqui na tua vida…ou já lá estavam antes?

O mundo do imaginário sempre fez parte de mim…o contacto com a natureza…com os elementos primordiais…   e toda a mística de histórias, mitos e lendas sempre foi uma área de fascínio para mim. Adoro história… sobretudo a de Portugal mas também adoro a mitologia grega e celta. De certa forma, as fadas e duendes ou outros seres sempre fizeram parte da história do mundo eu apenas os transportei para “a parte mágica que há em mim e que vê o mundo com olhos de criança ”.

Como é que este mundo da fantasia entra na tua vida e como é que depois os transportas para a música dos Hyubris?

De uma forma muito natural… sempre gostei de ler, de escrever… ainda guardo comigo os diários de infância, autenticas bíblias de lamentações mas de muito romantismo! A poesia veio aliada à música… que se completam!! Muitas composições foram feitas em comum com o Jorge (guitarrista), precisamente pela necessidade de harmonia em que o poema nos transporta através da musica para o mundo da fantasia.

E porquê esse mundo da fantasia em letras de canções?

Porque a fantasia…a imaginação e a criatividade são parte de mim…são parte integrante dos Hyubris. É uma forma de “pintar o mundo de cor de rosa”, de tornar a vida ainda mais bela, mesmo que muitas letras e poemas falem de mitos, lendas ou coisas surreais, muitas vezes por traz delas esconde-se uma verdadeira historia ou sentimento pessoal.

E como é que os teus companheiros de banda receberam os novos Amigos e Amigas (as fadas e os duendes)?

Muito bem… já eram “amigos de infância” (risos).

E que outras influências tens quando escreves?

Escrevo sobretudo o que me vai na alma…por vezes em “código simbólico” mas está la tudo!! 

E as borboletas? O que representam?

As borboletas representam precisamente o sonho…a vontade de voar de ser livre… espalham magia e dão cor à minha vida, que tal como elas, tem passado por algumas metamorfoses!

Em algumas letras que escreveste, há uma clara referência à morte. Os temas “Rose on My Grave”, do início, e o mais recente “Ominorej”, que fala do teu próprio enterro, revelam um lado teu mais obscuro?

Sim…talvez…  mas a morte para mim é uma fase da “grande metamorfose da vida”… é precisamente uma transformação… “e nada vida nada se perde…tudo se transforma”  vejo a morte como uma fase…por que depressa haverá um renascer!

Há momentos especiais para escrever? Como é que acontece contigo?

De forma natural…mas sobretudo em contato com a mãe natureza ou em momentos de reflexão.

Entretanto, Hyubris é também Amor…foi na banda que encontraste aquele que é hoje o teu marido (Lulla), um amor que já deu frutos: a pequena Morgana. Como é que tem sido esta experiência de Amor Maior? O que tens aprendido com ela? O que mudou em ti?

Hyubris é Amor, porque entretanto Hyubris é também uma família…Além dos laços musicais que nos foram unindo ao longo dos anos, há grandes laços de grande Amizade entre todos e sobretudo Amor!! E desse laço de amor (com o Lulla) nasceu a Fada Morgana… que completou, com o chegar da primavera, dois anos. E é sem duvida o meu Amor Maior como referiste na pergunta: Um Amor Maior…e...é sem dúvida nenhuma “o melhor de mim” um amor que não se consegue descrever… é maravilhoso ser-se Mãe…é uma bênção tê-la na nossa vida!!

A tua vida profissional, é dedicada às crianças…uma relação que naturalmente não é apenas profissional, pois não?

Pois...ser educadora de infância…nem interpreto como profissão… é mais…uma missão muito maternal que sempre existiu em mim e que começou muito cedo, logo quando comecei a “brincar com bonecas”. É um privilegio estar o dia inteiro rodeado destes “seres mágicos” que desabrocham o que de melhor existe em nós e é essa a convicção da minha profissão… dar o melhor do que sou … porque elas são o melhor que existe e já dizia Fernando pessoa “ Grande é a poesia,  a bondade e as danças… mas o melhor do mundo são as crianças”.

Voltando à música, a “Mulher do Rio” que escreveste em homenagem à tua avó, deixa espreitar…ou se preferires, deixa revelar uma fadista escondida em ti?

É uma canção que surgiu assim...o fado está na alma de qualquer português! Fala da minha avó que era pescadora. Daí "Mulher do Rio". O Panda com a guitarra portuguesa acaba por lhe dar esta sonoridade de fado, que é tão nosso. No cd contámos com a participação do Coro da SAT que gravou na igreja de Constância. Emociono-me muito com a "Mulher do Rio".

E entretanto…2017 marca o regresso dos Hyubris aos palcos, após uma paragem de 4 anos em que alguns elementos da banda foram pais, casaram, etc. Este era um regresso muito desejado não era?

Muito desejado mesmo…à medida que os anos foram passando o sentimento de saudade foi-se intensificando…ate chegar o dia em que tivemos que dizer BASTA!! Agora, cerca de 10 concertos depois ficamos com a clara noção de que realmente as pessoas tinham saudades nossas. E demonstram-no de uma forma incrivel.              

Alguns desses fãs, tiveram medo que a paragem dos Hyubris fosse definitiva. E tu? Tiveste esse receio também? Ou sempre acreditaste que o regresso acabaria por acontecer quando os filhotes dessem os primeiros passos (tal como agora veio a acontecer)?

Sempre acreditei no regresso, claro!… Os nossos amigos e fans também sempre nos fizeram acreditar nisso. A paragem aconteceu naturalmente, porque tivemos os nossos filhos e as vidas mudaram, mas mesmo durante a paragem, a família Hyubris cresceu e sempre existiu a vontade de voltar, claro!

Em 2003, foram revelados à região na Gala da rádio Antena Livre, e o regresso este ano, foi também anunciado na vossa atuação surpresa na Gala deste ano em Janeiro, uma vez que ninguém sabia que iam fechar a Gala e anunciar o regresso. Sem ninguém esperar, eis que surgem em palco os Hyubris e “gritam”: estamos de volta. “Metamorfose” é o novo conceito com que apresentam este regresso…Queres falar sobre esta Metamorfose?

Os Hyubris sofreram uma metamorfose… estivemos quatro anos em casulo mas agora “o bater das nossas asas é forte” e estamos de novo a voar, precisamente numa nova fase…é o renascer da borboleta. Que também ela é um símbolo da nossa vila “Tramagal”. Tudo está interligado… tudo acontece no momento certo.

Depois da Gala Antena Livre & Jornal de Abrantes, o novíssimo espetáculo de 2017 estreou com uma super produção nas Festas de Nossa Senhora da Boa Viagem em Constância, que também repetiram nas festas da cidade e já em vários pontos do país…. Foi fácil para ti controlar a emoção quando voltaste a ver aquela moldura humana que se pode ver de cima do palco?

Foi como se o tempo tivesse parado e voltasse em cada atuação.…todos os tempos se voltaram a encontrar. Com as mesmas pessoas…o público feliz e alegre cantava as letras e aplaudia…foi como se não houvesse paragem…foi mais um “déjà-vu”. O que nos deixa bastante felizes e com coragem para continuar este novo desafio.

Depois do espetáculo de regresso, já nos camarins…o que aconteceu?

Foi a celebração total… as pessoas quiseram vir falar connosco e dizer nos que estavam à nossa espera…e que valeu a pena esperarem por nós, pois identificam-se com a nossa musica e forma de estar na vida. No fundo deram-nos força para continuar a sermos quem somos e a fazermos a música de que gostamos. O regresso dos Hyubris só faria sentido desta forma,  em família e com os mesmos elementos da banda: músicos, técnicos, animadores, bailarinas e com o apoio das mesmas pessoas que sempre nos fizeram acreditar neste sonho.

Entretanto, a prova de que as pessoas tinham saudades é que desde o incio do ano já fizeram vários espetáculos e têm outros marcados até final do ano. É bom este regresso intenso à estrada à semelhança do que aconteceu de norte a sul do país desde 2003?

É maravilhoso, claro..

Filipa, o que é que te move na vida e na música?

O sonho…tudo o que faço é em função da concretização do sonho.

O que te deixa triste? E feliz?

A maldade…insensibilidade…deixam-me triste…Feliz…a Verdade, o Amor, a Bondade e a Simplicidade!

 

Filipa Mota à conversa com Paulo Delgado

 

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