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Milhares de estudantes voltaram às ruas de 51 localidades em Portugal e na próxima querem greve geral

24/05/2019 às 00:00

Milhares de estudantes voltaram às ruas de 51 localidades em Portugal em dia de protesto global contra a inação dos governos no combate às alterações climáticas e novas manifestações vão ser programadas para setembro, pedindo uma greve geral.

Em Lisboa, a organização da greve climática estudantil estima que mais de 12 mil pessoas participaram na marcha entre a rotunda do Marquês de Pombal e a Assembleia da República, onde foi lido um manifesto a exigir a declaração de emergência climática, a meta da neutralidade carbónica até 2030 e "uma enorme vontade política" aos decisores europeus e portugueses.

Além dos estudantes, do básico ao superior, também compareceram pais e avós, dirigentes de organizações ambientalistas e alguns políticos, como o líder do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), André Silva, e o cabeça de lista desta força política às europeias de domingo, Francisco Guerreiro.

A mensagem dos estudantes era justamente dirigida aos políticos, em particular ao ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, que na semana passada afastou no parlamento a possibilidade declarar emergência climática, alegando que é simbólica e que Portugal já faz mais do que os dois países que fizeram essa declaração, a Irlanda e o Reino Unido.

"Se é apenas simbólica, porque não declará-la e tomar medidas que tenham um impacto positivo?", questionou Beatriz Farelo, uma das organizadoras do protesto, acrescentando que é preciso que “o Governo português deixe de ser cobarde”.

Na sequência de um apelo já feito de véspera pela ativista sueca Greta Thunberg, de 16 anos, que iniciou no ano passado junto ao parlamento da Suécia o movimento dos estudantes pelo clima, os organizadores do protesto em Lisboa pretendem que a próxima manifestação, prevista para 27 de setembro, seja acompanhada por uma greve geral, mas as duas centrais sindicais já afastaram essa possibilidade.

Pela segunda vez, os estudantes portugueses aderiram à greve climática estudantil internacional, que hoje se realizou em mais de 100 países e que em Portugal se alargou a 51 localidades.

No Porto, o protesto reuniu cerca de mil pessoas, de acordo com a PSP, num desfile iniciado na praça da República, deixando apelos como "Há medidas a tomar e o governo anda a brincar" e "A nossa a luta é todo o dia, pela água, clima e energia” e levando cartazes onde se lia "Faltei à aula de história, para fazer história" e "Quando é que deixou de ser prioritário sobreviver?".

"Esta é uma causa que tem de ser defendida por todos os jovens do país, visto que os adultos não conseguem tomar decisões certas", disse Ana Sampaio, 17 anos, aluna da Escola Secundária José Régio, em Vila do Conde, que voltou a aderir à greve depois do último protesto global, a 15 de março.

“Não há planeta B” foi uma das palavras de ordem mais comuns aos protestos em várias localidades do país, bastante expressivos em cidade em Viseu, com 500 pessoas, e em Sines, onde a GNR estima terem participado 400 pessoas do litoral alentejano, exigindo o encerramento da central termoelétrica local, movida a carvão.

“Temos a Central Termoelétrica de Sines, cujo encerramento defendemos, e muitas outras fábricas”, como as “da Repsol ou da Galp”, disse à agência Lusa Duarte Colaço, um dos porta-vozes da manifestação em defesa do planeta.

Segundo este aluno, que frequenta o 11.º ano da Escola Secundária Poeta Al Berto, de Sines, trata-se, pois, de “um concelho muito poluidor” e, “de manhã e à noite”, isso nota-se: “Cheira mesmo muito mal, a enxofre e a gases tóxicos, o que não é muito agradável".

Apesar de considerar a greve climática “a mais justa das lutas”, o ministro do Ambiente foi recebido por um protesto de uma dúzia de estudantes, que se deitaram no chão à sua passagem, quando se diria para um encontro precisamente sobre alterações climáticas, em Coimbra, e que traziam cartaz onde se podia ler "O ar que respiras é mais valioso que o petróleo que extrais”.

À margem do evento, João Matos Fernandes aproveitou para anunciar a antecipação para 2022 do encerramento da outra central termoelétrica a carvão do país, no Pego, concelho de Abrantes, mas quanto a Sines mantém-se o prazo de 2030.

No mesmo local, Filipe Duarte Santos, presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável e especialista em alterações climáticas, referiu-se ao protesto como um alerta para o mundo.

"É extraordinário termos chegado a este ponto. Precisamos de heróis de 16 e 17 anos que se estão a sacrificar para chamar a atenção para um problema que nós sabemos resolver e, nesse aspeto, é algo que nos interpela a todos e que também nos dá esperança", vincou Filipe Duarte Santos.

Na véspera da greve climática estudantil, a Confederação Portuguesa de Associações de Defesa do Ambiente alertou para “tentativas de infiltração”, no movimento estudantil, “de organizações ligadas a interesses ideológicos e políticos de vários carizes”.

A greve às aulas "como alerta" para os perigos das alterações climáticas juntou, em Braga, cerca de 250 estudantes, que entre ‘slogans' ambientais e uma volta pela cidade lamentaram justamente o "aproveitamento político" da manifestação e a presença de bandeiras do Movimento Alternativa Socialista (MAS).

"Destacámo-nos de qualquer partido, não aceitámos qualquer contribuição, não apoiámos qualquer tipo de partido. Eles estão a tentar beneficiar da associação com este ambiente jovem, esta é uma ‘manif' pacífica e não podemos condenar a liberdade de expressão de ninguém, mas é óbvio que não apoiamos, mas também não podemos proibir", explicou à Lusa um dos organizadores da manifestação, Bernardo Almeida.

Apesar dos traços comuns das manifestações, algumas optaram por lhes conferir toques de originalidade, como o alerta em Ponta Delgada de que “assim nem as vacas dos Açores são felizes” ou na Covilhã, onde duas centenas de jovens da Universidade da Beira Interior (UBI) e das escolas secundárias da cidade se vestiram-se de negro em sinal de luto pelo planeta e marcharam em silêncio para exigir soluções para as questões climáticas.

"A gritar ninguém nos ouve. Vamos em silêncio para nos fazermos notar. Tem mais impacto o silêncio, se não ninguém nos ouve", explicou à agência Lusa, Daniel Pais, estudante da UBI e responsável pelo Movimento Académico de Proteção Ambiental da UBI.

Embora a greve seja dos estudantes, muitos adultos, entre pais e professores, quiseram deixar o seu apoio às faltas não justificadas que os alunos receberão nas escolas, por ser um “assunto urgente e premente, segundo Helena Marques, professora bibliotecária do Agrupamento de Escolas Grão Vasco, em Viseu, outros foram apontados como exemplos de incompreensão.

“Uma professora minha disse que eu era ‘demasiado criancinha e demasiado idealista para fazer esta greve’”, contou Maria Inês Teixeira, 17 anos, uma das organizadoras do protesto em Ponta Delgada.

A greve climática estudantil em Portugal foi, segundo Francisco Ferreira, dirigente da associação Zero, uma das maiores manifestações pelo ambiente de sempre no país, em paralelo com a saída de milhares de estudantes nas principais cidades europeias.

Em Estocolmo, na Suécia, Greta Thunberg encabeçou uma manifestação de cerca de quatro mil jovens e à televisão sueca disse que a data de hoje para a greve, quando termina a campanha para as eleições europeias, foi escolhida conscientemente.

“Pensamos que isso difunde a mensagem de que esta é uma eleição muito importante, e que deveria ser sobre a crise climática", afirmou.

Lusa

 

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