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A música e o legado do Duo Ouro Negro vão ser celebrados em concerto em abril

23/03/2019 às 00:00

Vários músicos juntam-se no dia 20 de abril, no Casino Estoril, nos arredores de Lisboa, para celebrar a música e o legado de Duo Ouro Negro, constituído em 1956 em Angola, e que foi “pioneiro no multiculturalismo”.

O espetáculo, no dia 20 de abril, no salão Preto e Prata do casino, idealizado pelo produtor Ricardo Santos, junta músicos como Paulo Flores, Bonga, José Cid, Shout!, Luciana Abreu, Nelo de Carvalho, Dany Silva, Don Kikas.

Em declarações à agência Lusa, Ricardo Santos afirmou que o espetáculo, que terá posteriormente um caráter itinerante, é uma tentativa de “homenagear o Duo Ouro Negro, que foi um projeto magnífico, que teve uma duração de cerca de 30 anos, e que nunca foi reconhecido”.

Ricardo Santos afirmou que se vão “reavivar memórias” e fazer “uma homenagem que nunca se fez nem em Portugal, nem em Angola, a um dos mais internacionais grupos”.

Nascidos em Benguela, no sul de Angola, em 1956, o Duo Ouro Negro, formado por Raul Indipwo e Milo MacMahon, veio para Portugal em 1959, e, “ao longo de três décadas, desenvolveu uma carreira internacional na indústria da música”, como assinala a Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX, coordenada por Salwa Castelo-Branco.

O duo abordou vários estilos musicais, “resultado do cosmopolitismo dos seus elementos” e da sua capacidade em expressar diferentes culturas nacionais de Angola, apresentando nas suas atuações vários traços étnicos, segundo a Enciclopédia.

Além de português e das diferentes línguas angolanas, o grupo gravou em francês, temas como “Sylvie” ou “Le Palmier”, entre outros, e abordou também repertórios latino-americanos, de expressão hispânica, o brasileiro e até norte-americano, onde nas suas diferentes digressões tiveram contacto com a luta pelos Direitos Civis da população negra.

O duo protagonizou “uma das carreiras da música popular em Portugal de maior visibilidade internacional”, lê-se na Enciclopédia da Música Portuguesa.

O Duo Ouro Negro “foi efetivamente o grande embaixador da música angolana e africana no mundo”, disse por seu turno, Ricardo Santos à Lusa.

Fruto das suas viagens por Angola, o grupo foi introduzindo diferentes expressões culturais nas suas músicas, assim como instrumentos autóctones, nomeadamente o ‘kissange’, o 'dizanka’, o ‘exhatakata’, entre outros.

“O seu papel foi decisivo para o desenvolvimento da linguagem musical diversificada”, atesta a enciclopédia coordenada por Salwa Castelo-Branco, referindo que “a fase de recriação de géneros em línguas angolanas, depois em português, no contexto da época, que favorecia a mestiçagem cultural”.

“É importante que as pessoas não se esqueçam do Duo Ouro Negro", que organizou "o primeiro festival de música africana em Portugal", disse o produtor, que convidou a participarem no espetáculo de 20 de abril, “os artistas que mais representam a música lusófona”, e gostam do Duo Ouro Negro, tendo logo à cabeça Bonga, Paulo Flores e Dany Silva, além de José Cid, com mais de 50 anos de carreira.

No casino “vai ser [interpretado] repertório única e exclusivamente do Duo Ouro Negro, e tentar tocá-lo o melhor possível”, disse Ricardo Santos à Lusa.

O grupo assinalou vários sucessos, um dos últimos foi “Vou levar-te comigo” (1979), numa altura em que se acreditou na paz em Angola, e protagonizou êxitos como “Muxima”, “Eliza”, “Maria Rita”, “Amanhã” ou “Kurikutela”, entre outros.

O Duo Ouro Negro desenvolveu uma carreira internacional, na época só comparável à de Amália Rodrigues, com várias digressões pela Europa, Japão, América Latina, Estados Unidos, Canadá e Austrália.

O grupo gravou mais de cem fonogramas. Em 1967 ganhou a Medalha de Ouro do II Festival da Música Popular do Rio de Janeiro e, em 1972, depois de se terem apresentado no Festival de Vilar de Mouros, com “Blackground”, ganharam o Prémio da Imprensa e a Galete d’Argent, no Festival de Kuokke Le Zut, na Bélgica.

Em 1970 atuaram na Exposição Universal em Osaca, no Japão e, entre os diversos palcos que pisaram, destacam-se ainda, entre outros, o Waldorf Astoria, em Nova Iorque, o Olympia, em Paris, ou o Canecão, no Rio de Janeiro.

O Duo Ouro Negro - Raul Indipwo (1939-2006) e Milo Mac (1941-1986) – gravou álbuns em França, Estados Unidos e Argentina, e atuaram em locais, à época, remotos, para a música lusófona, como o Afeganistão, Finlândia, Alemanha, Canadá ou Tailândia.

Em 1996, o Governo do Canadá condecorou, na mesma cerimónia, o músico Raul Indipwo e a fadista Amália Rodrigues.

“Esta homenagem, que nunca foi feita, vai ser essencialmente de afetos e para lhes dizer ‘obrigado’”, rematou Ricardo Santos.

Lusa

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