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Aniversário: “Farei tudo para que o Orfeão de Abrantes faça a comemoração dos 100 anos” - Elisabete Pereira

18/11/2019 às 00:00

O Orfeão de Abrantes foi fundado a 20 de Janeiro de 1929. Celebra este ano o seu 90º aniversário e ainda vai realizar um Concerto de Advento que irá encerrar as comemorações.

Elisabete Pereira é a presidente da Direção desde janeiro de 2005. Falámos sobre o dia-a-dia da Associação Cultural Orfeão de Abrantes, a história do grupo e tentámos visualizar o futuro.

 

São 90 anos que se confundem com a história da cidade. Como começou e porquê?

Temos documentos que comprovam o início do Orfeão com o primeiro concerto a 20 de janeiro de 1929. Iniciou como Orfeão Abrantino, com centenas de coralistas mas temos que nos reportar a uma altura em que não proliferavam muitas atividades. Estamos no Estado Novo, em que estas demonstrações de grande força eram bem-vistas.

 

Qual foi o evento?

Foi um concerto no extinto Cine-teatro da Misericórdia, em Abrantes. Arrebatou toda a população em Abrantes e arredores porque, ao longo dos anos fomos percebendo que as conjunturas políticas e sociais têm muito a ver com este tipo de demonstrações. Mais tarde, depois de tudo estar devidamente fomentado, vieram as digressões. E estas digressões que o Coro fazia, eram demonstrações políticas e sociais enormes. Envolvia-se toda a população, alugavam-se autocarros que levavam pessoas para acompanhar o Orfeão Abrantino e isso tinha por trás o apoio do aparelho do Estado.

 

Desde essa época, o Orfeão nunca mais parou ou teve interrupções?

Teve interrupções e houve alguns flirt's com outros grupos que também se chegaram à frente. E é claro que houve vários maestros. Uns estiveram um ano, outros estiveram um bocadinho mais e outros estiveram mais ainda. Sempre que essas mudanças aconteciam, provocavam sempre alguma instabilidade e paragens. As próprias Assembleias Gerais que se realizavam nessa altura também eram bastante efusivas e, até certo ponto, demonstravam que as pessoas tinham uma avidez enorme de estarem presentes nas decisões destas instituições. Instituições que eram culturais, e que continuam a ser, mas que na altura projetavam o nível social.

 

E também já teve várias designações…

Sim, foi Orfeão Abrantino, depois foi Orfeão Abrantino Pinto Ribeiro, em homenagem ao Pinto Ribeiro que tinha sido maestro. Curioso também, e na sequência do que dissemos, todos os maestros até ao Henrique dos Santos e Silva eram militares. Todos. Já com o Henrique dos Santos e Silva, que fez um trabalho magnífico, passou a ser Orfeão de Abrantes.

 

Quantos elementos compõem atualmente o Orfeão?

A Associação Cultural Orfeão de Abrantes é um todo. Tem um conjunto de sócios, que será à volta de uma centena, e temos ainda os nossos alunos. Em termos de grupo coral, somos agora cerca de 30, mas também temos outros grupos, como o Cant’Abrantes e o Grupo de Cavaquinhos que vão gerando um conjunto de pessoas que também fazem parte dos orfeonistas de Abrantes.

 

O que é que vos continua a mover?

Tenho quase a certeza que é o gosto pelo voluntarismo nesta questão da cultura. Porque ninguém que está ali aufere qualquer remuneração, mas fartamo-nos de trabalhar. Não somos mosqueteiros, mas quase. (risos)

 

Qual a maior dificuldade nos dias de hoje para levar para a frente uma Associação como o Orfeão?

São variadas. Uma delas é chamar as pessoas. É a minha preocupação primeira. Há outras, claro, mas andamos a tentar angariar pessoas para o Coro Misto do Orfeão de Abrantes porque os outros grupos estão a trabalhar conforme é necessário mas o Coro Misto vai tendo uma falha de vozes. É que nós vamos envelhecendo. E os mais novos que entraram aos 15 ou 16 anos, quando chegam aos 18, 19, 20, saem de Abrantes para irem estudar para fora (este ano temos três elementos que foram para a faculdade).

 

Os jovens têm pouco interesse em integrar este tipo de grupos como o Orfeão?

Sim, muito pela história de repertório que nós temos. Se optássemos por fazer uma coisa mais moderna, provavelmente chamaríamos mais pessoas de idades mais jovens. Mas esse não é o nosso objetivo. Nós somos um coro polifónico que executa peças desde autores da Renascença até aos nossos dias. E é isso que nós temos que fazer, quer seja a capela, quer com música. O que temos feito ultimamente é enveredar pela componente do piano. Até 2016 tínhamos muito poucas peças acompanhadas ao piano, porque não era objetivo do maestro Rui Picado (um excelente maestro que nos ensinou imenso) que gostava muito da música a capela. Atualmente, com o maestro Tiago Rodrigues, estamos a optar por ter música, instrumentais. Piano e não só.

 

Isso significa que o repertório está a ser alterado?

Está a levar uma volta com muito cuidado, mas que é necessária. É uma volta que demonstre que nós estamos na história e estamos também a progredir um bocadinho até na nossa própria forma de sentir as coisas.

 

Poderá ser um pouco mais atrativo?

Poderá ser. E é dentro dessa perspetiva que fiz um apelo muito grande e muita divulgação no início do ano letivo. Fui, inclusivamente, à ESTA (Escola Superior de Tecnologia de Abrantes), falar com a ESTATuna e chamar os seus elementos. Têm um trabalho de vozes no nosso coro e poderia ser um intercâmbio interessante se, depois, pudessem ir, acompanhar e integrar. Para já, vamos recrutando nos nossos locais de trabalho e nos nossos ciclos de amizade.

 

Já o referimos nesta conversa porque faz parte desta história… em abril de 2016, a morte do maestro Rui Picado foi um golpe duro para o Orfeão...

Foi. Foi muito duro e de duas formas. Não podemos esquecer que o Rui Picado foi maestro do Coro Misto do Orfeão durante 35 anos. Isto significa que houve elementos que começaram em pequeninos com o Rui Picado, cresceram, tornaram-se adultos… foi uma vida de entrega. Portanto, quando ele desapareceu, foi um choque tanto para aqueles que estavam habituados a tê-lo à frente do Coro, como para o resto do grupo. Mas, felizmente, o Tiago começou connosco antes de o Rui falecer. O Concerto de aniversário, com o Rui doente, já foi com o Tiago Rodrigues. Foi uma transição muito complicada e penso que ainda há coralistas que não ultrapassaram esta situação. Daí a tentativa de também chamar outras pessoas para trabalhar com os que lá estão e com o maestro para continuar a levar isto para a frente.

 

O Orfeão é uma família…

É. Somos bem-dispostos, alegres, às vezes nos ensaios somos um bocadinho mal-comportados, mas isso faz parte do todo. E ainda bem que é assim.

 

Mas a Associação Cultural Orfeão de Abrantes tem outros grupos, como o Cant’Abrantes e o Grupo de Cavaquinhos. Todos com um estilo diferente...

Sim, apesar do Grupo de Cavaquinhos e o Cant'Abrantes só se dedicarem à música popular tradicional. E, felizmente, toda a gente gosta deste tipo de música. Nos cavaquinhos gostávamos que enveredasse pela parte instrumental e o grupo está a fazer um trabalho magnífico com o nosso mestre António Tomás (o homem dos sete instrumentos), que também ensaia o Cant'Abrantes. São grupos que têm muita atividade, especialmente no Verão.

 

E depois há a Escola de Música...

Que, para mim, é uma valência muito importante e à qual sempre dei o maior valor porque tenho a noção que a Escola de Música é o fermento de tudo. Se os nossos alunos não aprenderem música e não tiverem o gosto pela música, depois não podem enveredar por nenhuma das outras valências que temos e que eles poderão, eventualmente, integrar. Temos alunos de canto que podem integrar o Coro Misto, por exemplo.

 

A Escola de Música tem quantos alunos?

Neste momento, temos entre 35 e 40 alunos nas diversas disciplinas. Temos Canto, Piano, Bateria, Saxofone (todos os instrumentos de sopro porque temos professores para as dar), Violino, Violoncelo, Guitarra...

 

Onde funciona a Escola de Música?

Essa é uma pergunta difícil. A Escola de Música funciona na sede. E a sede é um open space, ou seja, é uma sala grande na Rua Capitão Correia de Lacerda, quando se sobe para o Castelo. É um 1º andar, em baixo é o Sporting Clube de Abrantes, e é apenas um salão e uma sala mais pequenina. E é onde se faz tudo.

 

Assim sendo, não pode haver aulas de música em simultâneo...

Mas há, por incrível que pareça. Há formação musical num sítio, pode haver guitarra e pode haver piano. A questão da bateria, à segunda-feira é dada numa hora em que não há mais nenhuma atividade e também ao sábado. Mas ao sábado de manhã também há formação musical na salinha que temos e onde se fecha a porta e tenta-se abstrair da bateria. E isso é muito mau. É muito difícil gerir esta situação porque também temos algum trabalho administrativo para fazer e com a vinda da Escola de Música deixámos de ter aquele espaço e aquele momento mais privado para tratarmos de alguns assuntos. Temos aulas de piano que terminam às 20:30 horas e temos que montar tudo para que, às 21 horas, possa haver ensaio do Canta'Abrantes... o mesmo acontece quando há ensaio do Grupo de Cavaquinhos. É, portanto, uma gestão extremamente complicada.

 

Já pensaram em encontrar um outro espaço, uma nova sede que sirva os vossos propósitos?

Já pedimos ajuda. Sabemos que a Câmara de Abrantes, na pessoa do vereador Luís Filipe Dias, está preocupada com esta situação. Mas eu tenho que lembrar que foi o Município que nos pôs a Escola de Música nas mãos e há aqui uma corresponsabilidade muito grande. A Escola de Música funcionou sempre no Edifício Carneiro. Quando, dadas as circunstâncias das obras, tivemos que sair, nós e as outras associações, as outras foram encaminhadas para outros locais. Nós ficámos na sede. Houve situações de desajustes que fizeram com que ficássemos ali. Desde o ano letivo 1990/91, o Município de Abrantes deu início ao funcionamento da Escola de Música de Abrantes, ainda no Convento de S. Domingos com as mesmas disciplinas que ainda hoje existem. Posteriormente, em agosto de 1992, e no seguimento de uma reunião proposta pela Câmara, foi apresentado um primeiro protocolo que foi celebrado logo a seguir e assinado pelo presidente da Câmara, dr. Humberto Lopes, e pelo senhor Manuel Dias, presidente da direção na altura. Esse protocolo atribuiu ao Orfeão de Abrantes a gestão da Escola de Música. Houve entretanto outro protocolo assinado em 1995, para dar continuidade ao anterior, desta feita assinado pelo presidente da Câmaras, dr. Nelson Carvalho e pelo presidente da direção do Orfeão, professor Mário Pissarra. Então, é ou não é da responsabilidade da Câmara também dar melhores condições? Eu acho que era de bom tom podermos ter uma sede que servisse as nossas valências. Atualmente, no edifício onde estamos, o Sporting não tem ali nenhuma atividade. Mas o edifício pertence à família Moura Neves que em tempos esteve de acordo em ceder aquele edifício para o Sporting Clube de Abrantes e para o Orfeão. A minha direção tem um interesse grande em transformar aquele edifício num Centro Cultural de Música, que ficava fantástico naquele local. Esse é o meu maior desejo.

 

Mas foram feitos contactos nesse sentido?

Sim e tanto o vereador como o Sporting sabem dessa nossa pretensão. Claro que é preciso fazer mais para tentar que a situação seja desbloqueada. Se a solução não passar por aqui, o que eu tenho pedido ao Município é que com a futura abertura do Centro Escolar urbano, com a deslocação dos alunos das escolas dos Quinchosos e da Nº2, que um desses edifícios nos sejam também disponibilizados. Mas esta só em alternativa se a primeira não puder ser concretizada.

 

O que é que ainda está previsto no âmbito da comemoração dos 90 anos do Orfeão?

Desde o início do ano, já fizemos duas atividades. Um concerto no dia 20 de janeiro, data do aniversário, na Igreja da Misericórdia com o Conservatório de Música de Santarém. Já em outubro, também na Igreja da Misericórdia, organizámos o 2º Concerto do Ciclo de Recitais, desta feita, "Viagem por Quatro Sonoridades Barrocas - 4 Géneros", com o Quinteto Opus 28 + Vento D'Arco e com a Soprano Maria João Sousa. No dia 30 de novembro, faremos o último concerto do aniversário a que demos o nome de Concerto de Advento. Vamos fazer este concerto com um coro de muito perto de nós, o Charales Chorus, que pertence ao Centro de Artes e Ofícios de Minde, do maestro João Roque Gameiro. Em princípio, este concerto será na Igreja de S. João.

Em dezembro, no dia 7, vamos fazer nas Caldas da Rainha um Concerto de Natal.

 

Onde vê o Orfeão de Abrantes daqui a 10 anos, na comemoração do centenário?

Não sei mas garanto a todos os abrantinos e aos orfeonistas que da minha parte eu farei tudo para que o Orfeão de Abrantes faça a comemoração dos 100 anos. Provavelmente já não será comigo mas com alguém que se chegue à frente para engrandecer este trabalho cultural magnífico que se tem feito com grande esforço mas que a mim, pessoalmente, me dá um grande gozo.

 

Patrícia Seixas

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