O acesso à educação é um direito de todas as crianças e jovens, tendo como princípio a igualdade de oportunidades. Este exórdio é um desígnio difícil de alcançar, considerando as inúmeras variáveis internas e externas à escola.
Tenho vindo a afirmar o muito que já se fez e faz nas escolas e o muito que ainda há para melhorar por parte das instituições e professores. Mas há aspetos em que, por muito que a escola e os seus professores se esforcem, dificilmente se consegue obter resultados sem uma ação conjunta e devidamente concertada com outros responsáveis sociais.
Muito do insucesso escolar tem causas externas à escola, e esta, sozinha, tem muita dificuldade em ultrapassar problemas de ordem social, económica, cultural,… que estão encrostados em algumas famílias de onde alguns alunos são oriundos.
Sabemos, hoje, a importância dos estímulos sensoriais, da interação emocional e das experiências vividas para o desenvolvimento do cérebro nos primeiros meses de vida. Sabemos, também, que cada aprendizagem deve acontecer no tempo certo, sob pena de, mais tarde, poder haver muitas dificuldades na apreensão de conhecimentos.
Nos primeiros anos de vida, é de importância extrema o contexto familiar para o desenvolvimento da criança, inclusive o da aprendizagem e da linguagem. Quando este processo ocorre de modo inadequado pela não atuação e/ou má participação dos pais, o desenvolvimento da criança pode ficar comprometido.
Nos jovens, o enorme absentismo e a pouca valorização da escola por parte da família condena-os ao insucesso e ao abandono precoce.
Muitos dos alunos com insucesso e principalmente com absentismo elevado, provêm de famílias socialmente desfavorecidas, com alguma pobreza socioeconómica e, em que, por vezes, a miséria moral e existencial acontecem. Quando digo miséria moral, não estou a falar de qualquer valorização religiosa, mas sim de um problema cultural, da falta de valores de civilidade e de bons hábitos na educação dos filhos. Quantos de nós, professores, já presenciámos pais que tomam o pequeno-almoço na pastelaria ou no café e que mandam as suas crianças para a escola sem nada terem comido e sem nada para comer? Quantos de nós, professores, já presenciámos o descaso e a desvalorização que alguns pais fazem do absentismo dos filhos? Quantos de nós, professores, já ouvimos dos pais a frase “não sei o que é que lhe hei de fazer”?...
Assim, existindo outras pobrezas tão graves quanto a pobreza socioeconómica, as pobrezas de ordem moral e existencial, que também causam graves problemas a muitas crianças e jovens, bem como a toda sociedade, importa conjugar esforços para se tentar minimizar e ultrapassar este problema de origem cultural.
Percebe-se que a escola, por si só, não consegue resolver este tipo de problemas. No entanto, estou convicto de que, apesar da complexidade do tema, um trabalho em parceria com outras entidades com responsabilidade social, envolvendo algumas famílias, ajudaria a prevenir novas situações e a contribuir para uma maior igualdade de oportunidades das nossas crianças e jovens, em que a equidade se cumpra – Haja abertura e vontade para agir.
A pobreza, seja de que natureza for, não pode continuar a sentenciar os nossos alunos ao insucesso escolar.
Jorge Costa
Professor