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Destruído um ninho de vespa asiática em Portela - Fontes [com áudio]

9/09/2019 às 00:00
Mário Lourenço prepara o produto para exterminar o ninho

Na aldeia de Portela, freguesia de Fontes, a poucos metros da albufeira do Castelo de Bode, João Maria Alves começou a ver as vespas negras a rondar a sua casa. Nos finais de agosto este homem, conhecedor dos ofícios da apicultura, viu que andavam ali, por perto da sua casa. Vespas asiáticas em quantidades fora do normal.

João Alves vai para o quintal, onde tem um arbusto florido alto. “Está a ver aqui? São estas. São das velhacas”. E ao mesmo tempo aponta para as vespas pretas que andam nas flores daquele arbusto. Todas negras. Não se vê uma abelha ou uma vespa daquelas que nós conhecemos. Só a espaços aparece pelo meio das outras uma mais amarela. “Esta não é das velhacas. Esta é das que nós temos por cá. Olhe, viam-se pouco, mas agora vêm-se mais”, explica João Alves enquanto segue para o arbusto.

Venham. Não tenham medo. Elas não fazem mal. Ando aqui e não tenho problemas. Olhe, até as apanho aqui com este camaroeiro”, diz o homem ao mesmo tempo que agarra naquele objeto de rede. E de repente começa a “caçar” uma a uma. Apanha-as com o camaroeiro e, depois, tem de as pisar. “Não são fáceis de matar”, garante João Alves ao mesmo tempo que apanha uma, já morta, para nos mostrar como é a velutina. “São todas pretas, só têm uma lista amarela no rabo. Mas sabe como se conhecem melhor? Têm as patas amarelas. Basta olhar para as patas. Não tenha medo. Quer levar uma?”

João Alves convive com as vespas asiáticas no quintal. Matá-las até poderia ser um passatempo, mas diz que não tem tempo para esse labor. Por isso, como já teve colmeias, começou a estudar os voos das vespas. “Quando saíam daqui vi que iam para aquele lado...”, e aponta para uma horta do outro lado da estrada. Ali numa laranjeira bem alta, lá no topo, está o ninho. Uma bola castanha que só se identifica quando percebemos que ele está lá. A olho nu, podemos olhar e não o vemos. Ou pelo menos não o identificamos.

João Alves viu o ninho e não teve meias medidas, ligou para a Proteção Civil de Abrantes, como dizem que deve ser feito.

Eu podia tratar dele. Tenho um fato do tempo que tinha abelhas”, vincou, ao mesmo tempo que avança em direção à horta. “E ali, para os lados do Maxial, deve haver outro ninho”, explica, com a convicção de quem tem a certeza. “É que as vespas tanto saem em direção à laranjeira como para o lado oposto, em direção ao Maxial”, indica o homem, sempre com uma boa disposição notável.

Um ninho para exterminar na Portela (Fontes)

A 3 de setembro João Alves, cerca das 10:00, recebe em sua casa a coordenadora municipal da Proteção Civil de Abrantes, Inês Mariano, e Mário Lourenço, o exterminador de ninhos de vespa.

João Alves, que já esperava a visita, saudou-os e de imediato convidou a entrar na sua propriedade para explicar aquilo que tem vindo a observar e a fazer.

Aponta para o chão, onde estão umas dezenas de velutinas que ele matou com o seu “camaroeiro de rede”.

Mário Lourenço começa a ver a quantidade de vespas e confirma que deve haver um ninho por perto. Um ou até mais do que um, porque, de vez em quando, vê-se duas vespas asiáticas à briga: “Quer dizer que podem ser de colónias diferentes”.

Enquanto vamos andando até à horta, João Alves conta as suas experiências e revela que há por ali, Fontes, muita gente com “armadilhas” para apanhar as “velhacas”. Garante que as conversas no café incidem muito sobre estes insetos que vieram lá do outro lado do mundo. E há “xaropes” para atrair as vespas. O problema é que essas armadilhas apanham as velutinas e outras que por ali podem andar.

Ao chegarmos à horta, João Alves aponta para a laranjeira. “Lá está ele. Ali em cima”.

E lá estava a bola castanha. No topo da árvore.

Mário Lourenço deu a volta à laranjeira para observar aquele ninho. Antes de vestir o fato de proteção revela a forma como o vai exterminar. “Isto tem de ser com veneno. Vou deixar lá dentro o produto para elas absorverem. Vão acabar por morrer todas. E se uma dose não resultar, daqui a dois ou três dias repetimos o processo e este fica eliminado”.

Quando questionado sobre o método, o “exterminador”, de Mação, revela que se destruir ou queimar o ninho, todas as que estão fora “podem ser potenciais rainhas e fazer novos ninhos”. Ou seja, uma exterminação mal feita pode propagar a espécie, em vez de a eliminar.

Mário confirma que tem eliminado muitos ninhos. Depois delas estarem mortas o ninho pode então ser destruído. Ou então ficar no mesmo sítio porque não volta a ser utilizado.

Mário veste o fato de proteção. “Se não nos metermos com elas, não nos fazem mal. Mas se abanamos o ninho, mesmo sem querer, então aí sim, tornam-se muito agressivas”.

Neste caso tudo correu de forma normal e rápida. Cinco minutos bastaram para fazer o serviço.

O Mário Lourenço embebeu uma guita no veneno e usando uma cana de pesca, das diretas, esticou-a até ao ninho. Depois, com mestria de quem sabe o que faz, escolheu um dos respiradores (o ninho tem a entrada das vespas e respiradores) e deixou lá o produto.

 

À distância, Inês Mariano e João Alves acompanharam o procedimento. “Pronto. Está feito. Senhor João agora é ir vendo a atividade do ninho. Se daqui a dois dias ainda tiver atividade, ligue que venho cá dar outra dose. Mas não tire o ninho”, explica Mário.

Depois do trabalho feito, seguimos até ao quintal do João Alves. Ali ele mostra com orgulho a sua armadilha. Um garrafão de plástico que está pendurado no meio do arbusto com um cocktail doce que as vespas gostam. Entram no garrafão e já não saem. Acabam por morrer.

Mário Lourenço explica que as vespas procuram o açúcar e a proteína. Por isso podem comer fruta e, por exemplo, carne ou peixe.

Mário observa os voos das velutinas e confirma o que o senhor João já tinha dito. “Há para ali [aponta para os lados do Maxial] outro ninho. Mas pode ser longe, pode estar a dois quilómetros”, garante enquanto revela que as vespas crabro (europeias) são agora mais vistas porque as asiáticas as vão empurrando para outros territórios. Para mais próximo das zonas habitadas, porque as crabro sempre andaram mais no meio do mato. Mário explica também que as asiáticas não matam só as abelhas comuns. Matam os outros insetos porque precisam de proteína, para além dos açúcares.

Elas (as velutinas) fazem os ninhos perto de água ou de colmeias. Normalmente em zonas altas”, diz Mário Lourenço, ao mesmo tempo que Inês Mariano justifica a afirmação do técnico. “Na mata não identificamos. Mas nos trilhos das caminhadas ou nas hortas as pessoas estão mais atentas e vão-nos informando”.

A responsável da Proteção Civil confirma que o número de casos tem vindo a aumentar. “Só este ano, até agora [9 de setembro] são quase 40 ninhos destruídos no concelho. E há casos de ninhos de outras vespas que não são das asiáticas, mas que as pessoas nos reportam”. Inês Mariano garante que há uma receio maior em relação a esta espécie, mas teme que nas zonas mais rurais possa haver a destruição de ninhos pelos apicultores ou agricultores que não ficam registados.

Haverá casos desses. Mas pedimos é para que nos informem quando detetarem algum ninho. Vamos lá ver e tratamos dele. O anterior a este (em Portela) foi em Bemposta. E temos mais casos reportados”, salientou a coordenadora da Proteção Civil de Abrantes.

Quanto às armadilhas para apanhar os insetos, Mário Lourenço explicou, em 30 segundos, como se pode reutilizar duas garrafas de plástico das águas de litro e meio. Corta-se uma três dedos abaixo do gargalo. Na outra faz-se um furo quatro dedos acima do meio e depois enfia-se lá o gargalo da outra garrafa. Faz uma espécie de funil. Depois deita-se a calda açucarada e coloca-se por onde voam as vespas. Estas entram em busca dos açúcares e não conseguem sair, porque tentam sempre sair por cima. Quando se cansam caem no líquido e morrem. “Podem colocar a calda e um bocadito de carne, que elas também querem proteína”, explica o Mário Lourenço.

João Alves observa com atenção a armadilha feita ali, na hora. “Daqui a bocado, depois de almoço, vou ao café às Fontes e já levo para mostrar”, diz com o orgulho de quem tem uma novidade para contar aos amigos.

E depois não tem problema em dar a receita do cocktail que usa para por nas armadilhas (garrafões de plástico), que tem penduradas no arbusto do quintal. “Dou a receita pois, aquilo é cá uma pomada. Um litro de vinho tinto, meio litro de Coca-Cola, meio quilo de açúcar amarelo, meio litro de vinho branco fervido com açúcar amarelo, até este derreter, e um cálice de vinho do porto. Aquilo é tão bom, tão bom. E temos lá a receita para que todos possam fazer”, diz, entre risos, João Alves, ao mesmo tempo que, garante, “isto anda aqui há uns meses”.

Inês Mariano espera que quem localize os ninhos de vespa informe os serviços de Proteção Civil e que não tentem destruí-los por meios próprios.

 

Vespa asiática chegou a Portugal em 2011

Segundo os dados do ICNF - Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, a vespa velutina é uma espécie não indígena e é predadora das abelhas europeias, produtoras de mel. A vespa asiática é originária das regiões tropicais e subtropicais do norte da Índia, leste da China, Indochina e da Indonésia. A sua introdução, supõe-se que involuntária, na Europa ocorreu em 2004, em França. A sua presença foi confirmada em Espanha em 2010, na Bélgica e em Portugal em 2011 e em Itália em 2012. Os especialistas dizem que a sua progressão na Europa tem sido de 100 quilómetros por ano. Em Portugal os números indicam uma progressão de 70 a 80 quilómetros por ano. Se a vespa velutina entrou pelo norte do território, desde 2018 que tem sido avistada na região centro. Este ano foram identificados dezenas de ninhos desta vespa na região do Médio Tejo. E em Abrantes, concretamente desde o início do ano até ao final de agosto, já tinham sido destruídos cerca de 40 ninhos a norte e sul do Tejo.

Ainda segundo a Direção Geral de Alimentação e Veterinária a vespa velutina constrói ninhos de grande dimensão, em locais isolados e em locais altos. Os especialistas indicam ainda que preferem locais com água por perto ou com outras colmeias nas proximidades.

Esta espécie distingue-se da vespa crabro (a europeia) pela coloração do abdómen (mais escuro e com uma lista amarela) e pelas patas (amarelas, no caso das asiáticas).

A vespa velutina é uma espécie carnívora e predadora das abelhas, mata-as mesmos nas colmeias. Em termos de saúde pública podem ser mais agressivas que as europeias se sentirem os ninhos ameaçados. Dizem os especialistas que podem fazer perseguições de algumas centenas de metros.

Texto e fotos de Jerónimo Belo Jorge

 

Ligações:

Conhecer as vespas e as diferenças entre as vespas que temos em Portugal e a velutina (ICNF – Instituto Conservação da Natureza e Florestas)

Plano de ação para a vigilância e controlo da Vespa velutina em Portugal (DGAV - Direção Geral da Alimentação e Veterinária)

 

 

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