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Município Abrantes
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História: Abrantes há 50 anos

27/04/2016 às 00:00

Cheguei em Abril de 1959, com 7 anos. Portanto, há 57 anos. A camioneta da mobília parou no então largo da feira, hoje Primeiro de Maio. Eu viera a dormir da Sertã até Abrantes e acordei com um sol aberto a iluminar a encosta de oliveiras onde hoje é a Rua de Angola. Entrámos no mercado diário e foi uma revelação. Na Sertã havia praça na rua umas três vezes por semana, nada parecido com o que se via ali, muitos lugares de venda, muita gente a comprar, tudo arrumado…

Depois fomos instalar-nos na casa já alugada, na Av. Dr. Solano de Abreu. Na rua, éramos muitos miúdos e brincávamos até muito tarde. À porta, vinha duas vezes por dia o carteiro, apenas uma ao domingo, e a leiteira, com a sua bilha, vendia leite por medida ao fim da tarde. Uma vez por semana (?) vinha também o “pitroline”, uma carroça com rodas de borracha (!) que vendia de tudo um pouco, até petróleo, e era uma animação para a pequenada. Também o amola tesouras era visita frequente e a carroça do lixo, sim, uma carroça, puxada por uma mula, vinha todos os dias buscar os lixos domésticos. Ao meio dia, durante a semana, ainda não havia “semana inglesa”, ouvia-se a sirene das Fundições do Rossio e quando havia incêndio ouvia-se a sirene dos bombeiros e havia dois ou três deles que iam do Bairro a correr para o quartel. E uma vez por ano, no tempo da feira, fazia-se ali o mercado semanal, no cabeço onde hoje é o bairro municipal.

A cidade, então só o cabeço e com 8.172 habitantes (1960), vivia ao ritmo da vida religiosa, com as duas freguesias em relativa concorrência. Missa ao domingo, Natal e Semana Santa como marcos estruturantes. Havia na cidade sete padres: Cónego Freitas (S. Vicente) e P. Catarino (S. João e Rossio), P. Jana (coadjutor de S. Vicente e RI2), P. Narciso (EICA e Colégio de Fátima), P. Manuel (Misericórdia), P. Américo (Colégio La Salle) e P. Pires, mais velhote (Casa de Saúde, salvo erro). As procissões eram a sério: Passos, Ramos, Senhor Morto e Páscoa, depois N. Senhora da Piedade (três no mesmo dia), e a do Corpo de Deus. Não tinha ainda força a devoção a N. S. de Fátima. As cerimónias litúrgicas eram quase os únicos acontecimentos a marcar, com força, a vida coletiva. No Natal, havia ainda três montras de brinquedos: a do senhor Leitão e as duas da Águia d’ Ouro. Maravilhosas!, é claro.

Além das datas religiosas, apenas a feira, as mortes por afogamento no Tejo, quase semanais, e os incêndios.

No Verão, ia-se a pé fazer praia ao Tejo, debaixo da ponte do comboio.

Nos meus primeiros anos de Abrantes, no sábado (?) ao fim da tarde, vinha a fanfarra do RI2, de Vale Robam, render a guarda ao convento de S. Domingos, onde tinham ficado alguns militares a marcar a propriedade: era um espectáculo. No castelo havia ainda outro quartel, pelo que só se podia ir visitar o museu sob condição.

No jardim da República havia um parque infantil, mas era caro, pagava-se um escudo (1$00) para entrar. A escola dos rapazes era nos Quinchosos e as das raparigas na R. Ator Taborda e na R. Luís de Camões. Ao cimo desta rua ficava a garagem dos Claras. Com o mercado diário e o hospital da Misericórdia, eram os três grandes centros da cidade. Na rua da Sardinha, o trânsito automóvel fazia-se nos dois sentidos.

Outros tempos…

 

Alves Jana

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