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Portugal Air Summit: A rapariga que viajou sozinha pelo mundo num avião monomotor

31/05/2019 às 00:00

Depois do primeiro dia de Portugal Air Summit, marcado pelo protesto de um grupo de manifestantes contra a construção do aeroporto do Montijo, aconteceu esta sexta-feira, dia 31 de maio, o segundo dia da maior cimeira aeronáutica da Europa, que tem lugar até dia 2 de junho de Ponte de Sor

As honras da casa couberam ao secretário de Estado da Economia, João Neves, que classificou o Portugal Air Summit (PAS) como uma iniciativa “de grande importância para o país e para todos os participantes nacionais e internacionais, que trocam experiências e visões sobre o futuro”, considerando que este evento transforma o concelho de Ponte de Sor no “centro da indústria e serviços associados às atividades aéreas”.

João Neves referiu a existência de “novas exigências em termos de mobilidade aérea” e defendeu que a “revolução dos transportes abriu um conjunto de novas áreas de valor económico para regiões onde a procura regional sofreu uma explosão à escala global”.

O secretário de Estado da Economia ressalvou a importância de “encurtar as distâncias e promover uma mais célere migração entre comunidades, que tem máxima expressão no papel das ligações aéreas” e disse que, com a mudança de século, foram e continuam a ser várias “e muito expressivas inovações tecnológicas”, como é o caso da área do espaço. Distinguiu ainda a dimensão estratégica “cada vez mais reconhecida no setor aeronáutico”, que está “em franca expansão”, com um crescimento a nível europeu de “11% ao ano, e em que Portugal se assume como uma geografia cada vez mais apetecível, com condições de mercado muito competitivas”.

O governante falou ainda sobre o futuro, dizendo que “para Portugal, a missão deverá passar por dar resposta a um mercado cada vez mais competitivo, pela adaptação à crescente utilização de tecnologias e pela criação de condições para o ganho de valor e escala na cadeia de abastecimentos”.

Falou ainda do reconhecimento pelo IAPMEI, a nível de competitividade do cluster AED Cluster, uma plataforma dinamizadora e agregadora dos setores da Aeronáutica, Espaço e Defesa – à qual o município de Ponte de Sor pertence – que é responsável “por 18.000 postos de trabalho e representa quase 1% do PIB nacional”. Não obstante, diz que há ainda “um longo caminho a percorrer”, uma vez que a “crescente procura originou uma escassez de conhecimento técnico”.

Sem esquecer o tema desta 3ª edição do PAS – Powering Human Capital – o secretário de Estado da Economia falou sobre as capacidades humanas, sensibilizando a apostas nas pessoas e destacando a capacidade do evento de mostrar “as capacidades que Portugal tem construído neste domínio [aeronáutico]”.

O início das conferências começou com Lígia da Fonseca, gerente de Relações Externas na Europa e gerente de Contas para as Linhas Aéreas Portuguesas – IATA (Associação Internacional de Transportes Aéreos), que surpreendeu o público ao mostrar uma mensagem, em vídeo, do vice-presidente regional (Europa), Rafael Schvartzman, em que fala da competitividade existente atualmente e do potencial de Portugal a nível aéreo.

O painel com Lígia da Fonseca, intitulado “Improving Portugal’s Aviation Competitiveness”, focou-se nos benefícios económicos que os Governos podem adquirir com uma “boa estratégica de competitividade”, que assente em pilares como a “facilitação e manutenção”. Falou também em como a experiência que os passageiros têm durante uma viagem pode influenciar o seu estado de espírito e consequente opinião sobre uma transportadora aérea e realçou que Portugal deve apostar na melhoria de aspetos como o da facilitação.

Da competitividade para a revolução, no segundo painel do dia falou-se sobre “Indústria Aeronáutica 4.0” com o consultor Christian Santos, a representante da Fundação IMH Goizalde Santamarina, Melania Jaravete da Blue Air e Rui Dias da CEIIA.

Christian Santos destacou que as mudanças atuais são “enormes”, constituindo “um fenómeno” para o qual a obtenção de informação é essencial, sobretudo ao nível de suprimentos para as indústrias. O consultor não admite que estamos preparados para a revolução social neste setor, uma vez que ainda existem “muitas coisas a desenvolver”, mas garante que “não estamos longe”.

Já Goizalde Santamarina destacou a necessidade de se desenvolver “novas capacidades” acompanhadas de novas fontes de recurso, como é o caso da tecnologia robótica. Melania Jaravete acrescentou que é necessário também trabalhar “em grupo”, com profissionais de diversas nacionalidades e com diferentes culturas, de modo a se conseguir alcançar soluções mais abrangentes.

Por fim, Rui Dias, da CEIIA, falou da redução das emissões de carbono como o grande desafio para se alcançar uma evolução.

Depois da competitividade e da indústria 4.0, da parte da tarde o debate fez-se em torno da sustentabilidade ambiental na aviação, num painel que contou com os oradores Artur Sousa – Técnico Superior da Direção de Regulação Económica ANAC, Lígia da Fonseca – IATA, Gisela Padre - Responsável do Ambiente do Aeroporto de Lisboa - ANA Aeroportos, Mário Neto - Presidente do Conselho Estratégico da NAV Portugal e Diretor de Informação, Procedimentos Aeronáuticos e Qualidade, Júlia Silva - Técnica da Agência Portuguesa do Ambiente e Carlos Damásio -  Direção das Operações de Voo da TAP.

Entre as ideias debatidas, falou-se sobre a importância de se criar um “esquema internacional para a redução de CO2 ou de compensação das emissões” e a necessidade de usar “outro tipo de motores, menos poluidores e outro tipo de combustíveis”.

Destacou-se ainda a ideia de que a aviação “do ponto de vista da eficiência tem crescido”, bem como o setor no geral, e houve espaço para lembrar medidas que estão já a ser implementadas, como a intenção da União Europeia em reduzir e 40% as emissões dos gases com efeito de estufa até 2030 e o objetivo do Governo português da neutralidade carbónica até 2050.

Para o futuro, espera-se também a existência de voos totalmente elétricos.

OS ESPETÁCULOS AÉREOS (E NÃO SÓ) DO SEGUNDO DIA DE PORTUGAL AIR SUMMIT

Depois de um primeiro dia com demonstrações que pouca atenção conseguiram dos participantes no PAS, este segundo dia a fasquia elevou-se com a Xtreme Class, com a Demo Aeromodelismo/Castor Fantoba e ainda com uma Demo de Cães de Guerra.

As acrobacias com direto a fumo branco juntaram debaixo de sol vários curiosos que não deixaram de registar o momento, mas também os dois elementos caninos chamara a atenção de miúdos e graúdos.

Coordenada pelo 1º Sargento Batista, do Regimento de Paraquedistas, de Tancos, foi exemplificado o exercício de um cão agarrado a um paraquedista, representativo da atuação das tropas quando saltam de paraquedas, mas foram também executados treinos de manutenção e obediência na defesa, em que se pôde observar o comportamento do animal em caso de ameaça.

 

A RAPARIGA QUE FUGIU DA GUERRA E SE TORNOU NA MAIS JOVEM A VIAJAR SOZINHA PELO MUNDO

A tarde no PAS foi dedicada à mulher na aviação, com a conferência “The world is in our hands”, que contou com a presença de Shaesta Waiz, a primeira piloto civil afegã, de 32 anos, distinguida como a mais jovem aviadora a viajar sozinha pelo mundo num avião monomotor.

Waiz falou da sua paixão pela aviação e do seu percurso, que começou após ter fugido com a sua família do Afeganistão para a Califórnia, em 1987, altura em que decorria a guerra Soviética-Afegã.

Vinda de uma família considerada pobre, em que o pai tinha três trabalhos para conseguir sustentar Waiz e as suas cinco irmãs, a piloto destacou a importância de se lutar pelos sonhos, mesmo quando as circunstâncias não são favoráveis.

Depois de um voo comercial, aos 17 anos, em que viu o seu mundo “ficar elétrico”, conseguiu formar-se na área aeronáutica e foi com o intuito de mostrar que é possível que fundou a “Dreams Soar”, uma organização sem fins lucrativos com a missão de inspirar a próxima geração para a aviação e para aprender mais sobre áreas ligadas à aeronáutica como a ciência, tecnologia, engenharia e matemática.

Foi com essa ideia em mente que viajou sozinha num avião monomotor mais de 24.000 milhas náuticas, durante 145 dias, por 22 países e cinco continentes, onde contactou com mais de 3000 crianças e jovens.

 

Texto: Ana Rita Cristóvão

Imagens: Carolina Ferreira

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