Desde refeições a mercearias, de medicamentos ao correio, de serviços de lavandaria e até flores e presentes, a Recadex é uma espécie de “faz tudo”, mas sobre rodas. Com o lema “ambiente no coração” e com a sustentabilidade ecológica presente em cada pedido, esta rede de entregas chegou a Abrantes há cerca de um ano e já pedalou quase 5000 km.
“Através do rapaz que começou a dinamizar o projeto, achei bastante interessante, achei vantajoso para a cidade e para a sociedade, porque é uma atividade amiga do ambiente e que pode realmente ajudar bastante as pessoas”. Foi assim que, há cerca de um ano, Davide Marques ganhou a coragem de abraçar este projeto e trazê-lo para a cidade florida.
A marca Recadex é um serviço de entregas ao domicílio que surgiu em Torres Novas há cerca de três anos e que se expandiu já aos concelhos de Abrantes e Tomar.
Motivado pela sustentabilidade da marca, que tem como veículos privilegiados a bicicleta e a moto elétrica, o responsável pela marca em Abrantes não esconde que a sua motivação é poder “cuidar do planeta” ao mesmo tempo que satisfaz as necessidades da comunidade, em coisas tão simples como ir buscar o pão quente ao fundo da rua para as pessoas “com maior debilidade que não podem descer as escadas do prédio”.
E se os meios da divulgação da Recadex passam sobretudo pelas redes sociais, por força do investimento feito em adquirir equipamento para o serviço do dia-a-dia, o passar de boca em boca não deixou de parte os mais idosos que são hoje, a par dos jovens, uma grande fatia da procura existente pelo serviço.
“Por força desta situação da pandemia, fez com que os mais velhos fossem tentando saber pelos vizinhos como é que é, quem faz as entregas”, diz-nos Davide que, entre pedaladas e telefonemas, nos conta que a maioria dos pedidos tem sido para entrega de refeições, sobretudo numa altura em que os restaurantes têm como alternativa o take away.
Mas não só. “Fazemos as compras, vamos ao pão, à farmácia, aos correios, os talhos, tudo o que seja transportado em bicicleta”.
Além dos bens essenciais do dia-a-dia, a Recadex também ajuda a fazer surpresas, por exemplo, com a entrega de um ramo de flores a alguém especial
Num ano, entre os altos e baixos da cidade abrantina, a Recadex já tem quase 5000 quilómetros feitos na bicicleta. Mas nos últimos tempos, excecionalmente, Davide recorre também ao carro “porque o volume de compras pedido pelas pessoas tem aumentado. Mas estamos a tentar realmente que as pessoas percebam que agora temos de andar todos mais devagar”.
Tem sido também outro dos papéis nesta fase, além do entregar, o aconselhar, acalmar e transmitir segurança.
Apesar de afirmar que a gestão em tempos de Covid-19 tem sido “mais ou menos fácil”, Davide conta-nos que tem reforçado os apelos divulgados pelas autoridades de saúde e segurança para que as pessoas fiquem em casa e para que tenham “uma certa calma para a gente conseguirmos dar conta de tudo e para andarmos seguros também”.
À data da nossa conversa, a equipa da Recadex contava com três pessoas em Abrantes mas, por decisão própria, Davide era o único que estava ao serviço, a fazer entregas de segunda-feira a sábado das 10h às 22h.
“Estou só eu a trabalhar por força das circunstâncias, para que, no caso de realmente eu adoecer, haver sempre alguém para assegurar os serviços mínimos, foi isso que decidimos”, explicou-nos.
Equipa da Recadex Abrantes foi recebida pelo presidente do Município em setembro de 2019 (Créditos Imagem: Município Abrantes)
Com um custo de entrega variável que começa nos dois euros, as parcerias com diversos estabelecimentos – entre restaurantes, pastelarias, papelarias, entre outros - vão aumentando a cada dia. Enquanto Davide toma nota de mais um pedido, pede para que as encomendas sejam feitas “com a maior antecedência possível”, ao mesmo tempo que destaca a necessidade de haver uma “coordenação com os restaurantes para que não deixemos as pessoas na mão”.
Pedido comum tem sido também a procura por gel desinfetante. “É mais o ‘veja se encontra, se me consegue arranjar’. Até tenho conseguido ajudar algumas pessoas nesse aspeto”.
De um lado para o outro, Davide não tem tempo para pensar no medo e revela-nos que o segredo é “haver um equilíbrio emocional para todos. E o meu, tendo família e pessoas que precisam de mim, é tentar seguir à risca as recomendações, fazer o melhor e as coisas devagarinho, porque damos um passo em falso e agora não desinfetámos as mãos ou fomos com as mãos à cara, aqui tem tudo - os cuidados redobrados e as emoções – que ser com muita calma, apela-se muito à tranquilidade e é isso que tenho pedido às pessoas”.
“Entre o medo e o termos que fazer, é aí que tem de haver um equilíbrio porque não podemos deixar as pessoas passar fome, passar necessidades, e com isto acabamos por tirar pessoas da rua que se calhar têm mais debilidades físicas e psicológicas, e mais receio que nós, e que precisam de ajuda. Estarmos a ajudar tem que ser o nosso incentivo, tem que ser o nosso alimento”, acrescenta.
E apesar das circunstâncias de hoje, Davide admite que a expectativa é o crescimento da marca: “Se alguém se quiser juntar a nós é ter vontade e disponibilidade física para pedalar, porque Abrantes é o sobe e desce”.
Ana Rita Cristóvão