Prevenir lesões, preservar a saúde mental e física no trabalho social foram temas de uma conferência que a Associação Vidas Cruzadas promoveu esta quinta-feira, 23 de outubro, em Abrantes. E com três vertentes, saúde mental, alimentação e postura corporal.
Vânia Grácio, presidente da Vidas Cruzadas, explicou a escolha do tema: “nós que trabalhamos na área social estamos constantemente a pensar que vamos adquirir mais conhecimentos, vamos aprofundar conhecimentos nalguma área que nos seja mais cara. Nós que cuidamos de todas as pessoas todos os dias, queremos, portanto, também cuidar de nós.”
Vânia Grácio destacou a importância das especialistas convidadas da área da saúde mental, da saúde física, da nutrição, para partilhar os cuidados que “devemos ter para cuidarmos de nós, porque se nós não estivermos bem também não vamos conseguir estar bem para cuidar dos outros.”
A presidente da associação agradeceu ao presidente da Câmara o apoio que tem dado à associação. “O senhor presidente tem-nos apoiado sempre desde o primeiro minuto da associação. Eu recordo-me que em 2007, quando nós constituímos a associação, na altura ainda era vereador do desporto e da juventude. Havia muito material das escolas que estava a ser colocado no estaleiro, fizemos um pedido à Câmara de material para a nossa sede.”
Depois agradeceu a presença das técnicas e dos alunos de uma turma de alunos da Escola Secundária Solano de Abreu, de futuros colegas, da área social.
Manuel Jorge Valamatos pôs de lado o papel que trazia com o discurso para dizer que espera “que a partir de agora, de quando sair daqui, possamos estar todos mais próximos.”
Agradeceu o convite da associação Vidas Cruzadas e todos pela presença numa sessão cuja intenção melhorar as condições de trabalho de cada um.
“Não há pessoas mais importantes do que outras. Há pessoas que desempenham determinadas funções num determinado momento que aquilo é importante, mas depois a seguir pode-se inverter logo a situação”, frisou o autarca que contou um episódio que viveu para ilustrar o seu pensamento. Explicou que se deparou com um buraco numa rua de paralelos, em Abrantes, e que chamou o calceteiro. “Eu não conseguia resolver aquele problema. Estavam ali vários carros à espera. Eu senti que o Carlos (calceteiro) era muito mais importante e era muito mais valioso naquele momento do que eu. A sério, eu senti, porque eu não era capaz de fazer aquilo. Mesmo que lá tivesse as pedras todas e o cimento, e a colher, eu não sei fazer aquilo.”
Depois concluiu a dizer que “as pessoas são todas importantes, nos diferentes sítios, nos diferentes lugares.” E depois frisou que sente que a Vidas Cruzadas desempenha este equilíbrio. Esta e outras associações que temos no concelho, na área social, e noutros domínios.
Manuel Jorge Valamatos disse não conseguir imaginar a sociedade sem “a Vidas Cruzadas e outras associações a fazer aquilo que nós próprios (Estado)muitas vezes também não conseguimos dar resposta.”
Depois disse levar uma outra mensagem do encontro: “E levo também este recado aqui, sendo preciso cuidar das nossas pessoas. As pessoas que trabalham connosco, também temos de ter atenção às nossas pessoas e criar boas condições para trabalhar, boas respostas.”
Manuel Jorge Valamatos, presidente CM Abrantes

A sessão contou com quatro momentos.
Patrícia Alves, psicóloga na Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Abrantes abordou a “Saúde Mental e Riscos Psicossociais: da prevenção à intervenção.”
E há sintomas que devemos ter atenção, como a satisfação com o trabalho, a sensação de desconforto ou de desgaste constante, o mau-humor e por aí fora. Por vezes é preciso fazer uma paragem para “arejar” e evitar sobrecargas que impliquem riscos elevados de desgaste psicossocial.
Élia Batista, nutricionista, levou a alimentação para melhorar a performance laboral. E entre a mensagem base de uma alimentação cuidada para ter melhores desempenhos deixou uma mão-cheia de dicas para melhorar a relação trabalho/Alimentação. O pequeno-almoço é fundamental para o bom humor, a necessidade de beber oito copos de água por dia, o ter qualquer coisa para comer entre refeições e o comer devagar. O cérebro precisa de tempo para processar a ingestão de alimentos.
A fisioterapeuta Ana Filipa Ricardo, abordou as lesões relacionadas com o trabalho e deixou igualmente uma mão-cheia de conselhos para melhorar, principalmente, as posturas quando se trabalha. Acrescentou ainda meia dúzia de exercícios, ou pequenos movimentos, que podem ajudar muito algumas dores musculares, principalmente para quem trabalha muito tempo, sentando, em pé ou imóvel. E sim, o espreguiçar pode ser feio, mas faz bem aos músculos.
À Antena Livre a presidente da Vidas Cruzadas explicou o tema para este ano porque é uma profissão em que “estão muito sujeitos a vários fatores de stress, quer pelo trabalho em si, que é de certa forma desgastante, porque estamos constantemente a tentar ajudar a resolver os problemas dos outros. Portanto, que acabam também por se tornar um pouco nossos, porque nos envolvemos e damos de nós. Portanto, isso acaba por nos prejudicar ao nível emocional, que depois vamos para a nossa casa, para a nossa família, que não estamos a 100%.”
Vânia Grácio disse que ficaram da conferência “algumas estratégias de proteção, de redução do stress, controle da ansiedade e tudo mais, mas depois a parte alimentar também é muito importante, como vimos hoje, o facto de nós comermos alguma coisa salgada vai aumentar ainda mais o nosso stress e não vai reduzi-lo, nós podemos estar a comer porque estamos com fome e estamos irritados por isso, mas depois vamos comer uma coisa menos saudável. Depois a parte da nossa postura, porque neste trabalho social acaba por ser um pouco sedentário, nós passamos muitas horas sentados, até quando estamos a trabalhar e a atender famílias estamos sentados a conversar com as pessoas, portanto acaba por ser muito sedentário e isso prejudica também a nossa saúde a nível físico, portanto também quisemos ter aqui alguém que nos viesse dar algumas estratégias para nos cuidarmos a esse nível.”
São, de acordo com Vânia Grácio, ações que podem ser aplicados pelas entidades patronais com coisas muito simples. “Esta iniciativa tinha a ver com o irmos aos poucos abrindo mentes nas outras instituições de cariz social como a nossa, mas também tivemos cá representantes do município e de outras entidades, até alunos de uma escola.”
É uma questão de os profissionais terem a capacidade de se auto protegerem e de se auto cuidarem.
Vânia Grácio, presidente associação Vidas Cruzadas

Depois de uma pausa, Isaura Alves, personal trainer, deu uma autêntica aula de exercícios que, com maior ou menor intensidade, podem ser incorporados na rotina de trabalho.
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