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Tagus: AO.RI apresentado em Vila do Conde na maior feira de artesanato do país (C/ Áudio)

13/08/2025 às 16:50

No passado dia 10 de agosto, numa conversa conduzida pela apresentadora Fátima Lopes, a convite da TAGUS - Associação de Desenvolvimento Integrado do Ribatejo Interior, teve lugar a apresentação do projeto AO.RI. A apresentadora também partilhou as suas experiências, numa conversa que contou com o presidente do Município do Sardoal e também presidente em exercício da TAGUS, Miguel Borges, com Carlos Laranja, elemento da organização da feira e também representante da Associação para a Defesa do Artesanato e Património de Vila do Conde. Esta iniciativa contou ainda com a presença e testemunhos de quatro artesãos: Paula Jurado, Sandra Gaspar, Evaristo Valente e Célia Santos.

Miguel Borges começou por explicar em que consiste o AO.RI (Artes e Ofícios do Ribatejo Interior). Este projeto “nasce no âmbito do Grupo de Ação Local TAGUS e envolve três municípios”, referindo-se a Sardoal, Abrantes e Constância.

O AO.RI “procura, na verdade, fazer o levantamento daquilo que o nosso território tem, no âmbito das artes e dos ofícios. Precisamos perceber o que é que nós temos, conhecemos, claro que conhecemos, todos nós conhecemos, faz parte da nossa vida, das nossas casas, da casa dos nossos avós mas também é importante percebermos como é que estes produtos que são tão nossos e fazem parte da nossa história, da nossa cultura, da nossa tradição, como é que os podemos preservar e valorizar também. E assim foi.” Esta iniciativa já existe há cerca de três anos.

Quando questionado sobre a sua ida à Estónia, Miguel Borges disse que ”Estónia foi um projeto Erasmus+, Erasmus Sénior, mas que o espírito foi muito jovem, o espírito de uma comitiva de 10 artesãos. Eu e os meus colegas tivemos o privilégio de os acompanhar, esta juventude”. Miguel Borges disse ainda que “foi uma troca de experiências, talvez a capital mundial ou europeia pelo menos do artesanato, onde visitámos várias oficinas”. Acrescentou ainda que a Estónia está um pouco mais à frente de Portugal naquilo que é a valorização do produto deles, mas disse também que Portugal tem todas as condições para estar ao mesmo nível, só falta ainda um caminho a ser feito até atingir uma maior valorização destas artes.

À conversa com Carlos Laranja, Fátima Lopes quis perceber o porquê da organização ter convidado este projeto. Carlos Laranja disse que “é um projeto que se enquadra perfeitamente nos nossos objetivos, divulgar as artes e ofícios tradicionais e, portanto, enquadra-se perfeitamente no nosso espírito”. O responsável explicou ainda como surgiu o interesse de enquadrar este programa na Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde pois, após este ter feito uma visita recente ao Pego, freguesia do concelho de Abrantes, “onde decorreu uma apresentação deste programa, eu percebi perfeitamente que este casamento tinha que ser feito, porque estamos irmanados no mesmo objetivo”.

Relativamente ao que a Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde era e o que é hoje em dia, o representante referiu que quando a feira foi criada, na primeira edição, teve cinco expositores e hoje em dia conta com 200, número que Carlos Laranja diz não aumentar, visto já existir um concurso para quem se quiser candidatar aos stands. “Como há muitas candidaturas, este ano ficaram de fora cerca de 40 candidatos”, acrescentou ainda, mostrando a elevada procura dos artesãos para divulgar a sua arte.

Sobre a ausência dos Tapetes de Arraiolos na Feira, Carlos Laranja explicou que não havia condições para os receber, visto que existem poucas pessoas a praticar esta arte. Acrescentou ainda que a organização de tudo fez para conseguir receber os Tapetes de Arraiolos.

Fátima Lopes também partilhou das palavras do representante, dizendo que, “já agora, conhecendo eu bem a realidade, posso confirmar aquilo que o Carlos está a dizer, porque neste momento em Arraiolos, artesãos a fazer o trabalho tradicional há muito poucos. Há a dona Joana, que trabalha numa das casas mais antigas e continua a ser uma das únicas pessoas que faz, mas há realmente muito poucos”. Mostrou ainda esperança num futuro diferente, dizendo que num dos episódios do programa “Aqui há mão”, do canal aberto Casa e Cozinha, conheceu a dona Joana, que fazia os tapetes tradicionais, e posteriormente conheceu “Susana Cereja, arquiteta que pegou no ponto Pé de Flôr de Arraiolos, que estava completamente esquecido e que ninguém fazia porque dava muito mais trabalho do que o outro. Não era rentável. Ela foi aprender este ponto e faz peças 3D que são para colocar na parede a obra dela, ela que é uma discípula da Joana Vasconcelos”.

Célia Santos, artesã há cerca de 20 anos, faz leques de palha. É de Sardoal e já colabora com a TAGUS há mais de 25 anos. A artesã enfatizou o crescimento do artesanato nos últimos tempos e sente também que as pessoas procuram mais esta arte. Célia Santos contou ainda a sua experiência na Estónia e elogiou este país por manter sempre a sua essência no que toca ao artesanato.

Paula Jurado, artesã contemporânea, partilhou a sua história de superação e como surgiu esta paixão pelo artesanato com junco. Quando estava a dar aulas em Constância, Paula mostrava as suas criações aos seus colegas e estes davam diferentes sugestões, o que a fez crescer no ramo do artesanato.

Sandra Gaspar também partilhou a sua experiência e disse que “faço só o que quero”, transparecendo o seu gosto e amor pela cerâmica e todo o processo envolvente da produção. Quando questionada sobre a visita à Estónia, Sandra Gaspar representou a sua experiência numa só palavra “cor”, dizendo que saiu do país com a retina inundada de cor e que a partir desse momento começou a aplicar cores mais diferentes, como o laranja e vermelho nas sua peças.

Evaristo Valente é sócio gerente da Sifameca, um ofício tradicional de ceiras e capachos, esta que é a única fábrica deste tipo em Portugal e fica situada em Mouriscas, no concelho de Abrantes. Evaristo Valente explicou que aquando da sua reforma, os fundadores da fábrica já estavam em fim de vida e ele tornou-se sócio gerente em conjunto com um camarada seu. Ambos tomaram as rédeas do negócio para não deixar cair esta paixão de uma vida por terra. “Cada vez que eu olho para uma peça destas, lembro-me dos antepassados, o amor que eles tiveram por isto e quero continuar a ter o mesmo amor por isto que eles tiveram”. Atualmente, fazem capachos para os lagares, estão a dedicar-se mais a fazer carpetes e fazem também capachos para a entrada das portas e decoração.

Esta apresentação do projeto AO.RI mostrou a força do artesanato em Portugal, principalmente na zona do Ribatejo Interior, e a maior valorização que tanto o povo português como o turismo estão a conferir a esta arte.

Rúben Filipe

 

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