Mais de dois terços dos portugueses preveem votar nas próximas eleições autárquicas, em que o candidato tem mais peso do que o partido, segundo o Barómetro do Poder Local da Fundação Francisco Manuel dos Santos, divulgado hoje.
“Os dados reforçam a ideia de que a personalização da política local é mais importante do que o peso das siglas partidárias. A lógica de ‘votar na pessoa’ sobrepõe‑se frequentemente à lógica programático‑ideológica. De facto, as propostas que as listas candidatas apresentam para o município são dos fatores menos valorizados”, lê-se no relatório.
Mesmo entre eleitores que se identificam com partidos específicos, “muitos admitem que poderiam votar noutro partido se considerarem que o candidato é melhor”.
As eleições locais “têm sido marcadas por níveis de abstenção elevados”, mas neste barómetro “a grande maioria (69%) dos inquiridos afirma que, com toda a certeza, vai votar” nas autárquicas deste ano.
O relatório refere que “a emergência de listas de cidadãos e o reforço das candidaturas independentes nos últimos anos apontam para uma mudança subtil no campo político local, onde a eficácia percebida, a reputação e a ligação comunitária vão ganhando peso face à fidelidade partidária”.
Entre os fatores que influenciam o sentido de voto dos eleitores, destacam-se “o desempenho que a câmara municipal tem tido e as características pessoais dos candidatos”.
Quanto aos atributos dos candidatos que pesam na decisão de voto, os inquiridos valorizam mais o comportamento ético (27,1%), a orientação ideológica (23,7%) e o estilo de liderança (18,3%).
No fim da lista, surgem a experiência profissional (10,6%), o sexo do candidato (10,2%) e a filiação partidária (9,7%).
Os inquiridos revelam uma “ligeira preferência por candidatos do sexo feminino”, mas em 2021 as mulheres representaram apenas 19% dos cabeças de lista às autárquicas e 9,4% dos presidentes de câmara eleitos.
Embora os presidentes de câmara surjam como os principais decisores na perceção dos inquiridos, há outros atores que são também apontados como tendo influência, como o Governo, os vereadores do partido no poder e as assembleias municipais.
As organizações da sociedade civil, os vereadores da oposição e os próprios cidadãos são considerados os atores menos influentes.
A grande maioria dos inquiridos “considera que as eleições para a câmara municipal têm impacto na sua vida”, mas as assembleias municipais são consideradas menos relevantes.
Os participantes atribuem maior impacto às eleições para as assembleias de freguesia do que para as assembleias municipais, o que “indica uma maior visibilidade e proximidade das juntas de freguesia, frequentemente associadas à resolução de questões muito concretas do quotidiano”.
Embora tenham uma relação mais próxima com os autarcas, os residentes em territórios não urbanos “tendem a atribuir menor impacto às eleições para a câmara municipal” (69%) do que os residentes em territórios urbanos (79%).
Segundo o barómetro, estes dados podem refletir “um certo ceticismo quanto à eficácia das políticas municipais em territórios de baixa densidade”, onde os cidadãos podem sentir que as decisões mais relevantes “continuam a ser tomadas noutros níveis de governação”.
O relatório resulta de um inquérito realizado pela DOMP, S.A. para a Fundação Francisco Manuel dos Santos, entre 03 de fevereiro e 03 de abril de 2025.
O universo do estudo é composto pelos residentes de Portugal continental, com 18 ou mais anos de idade, falantes de língua portuguesa, com acesso a telefone da rede fixa ou móvel ou acesso à internet.
Foram realizadas 1.070 entrevistas completas e validadas, com uma margem de erro de 3% para um nível de confiança de 95%, recolhidas via inquérito online (61%) e por telefone (39%).
Foram aplicadas quotas por sexo, idade, região (NUTS II), incluindo-se, ainda, na caracterização, o grau de urbanização da freguesia de residência, a naturalidade e a escolaridade.
Lusa