100 anos não são 100 dias. E os bombeiros de Vila Nova da Barquinha assinalaram o Centenário no sábado, 29 de novembro, com uma cerimonia solene, inauguração de um monumento alusivo ao centenário, um desfile motorizado e um almoço convívio.
Para encerrar as comemorações do centenário, falta apenas a publicação do livro que, naturalmente, pretende ter imagens da festa dos 100 anos.
Entre a cerimónia solene que contou com a Banda da Associação Humanitária e com os operacionais em parada, foram agraciados alguns bombeiros com medalhas de assiduidade e alguns associados, também o estandarte da Associação recebeu duas novas distinções. Por um lado, a Liga dos Bombeiros Portugueses, atribuiu a Fénix de Honra. Já o secretário de Estado da Proteção Civil, Rui Rocha, foi portador da Medalha de Mérito de Proteção e Socorro, Grau Ouro e Distintivo Azul, atribuída pelo Ministério da Administração Interna. O Despacho da ministra, Maria Lúcia Amaral, tem data de 26 de setembro de 2025.


Na cerimónia solene coube a Miguel Pombeiro, presidente da Assembleia Geral da Associação Humanitária a primeira intervenção, em que saudou todos os associados e bombeiros: “Permitam-me começar por prestar uma homenagem muito sentida a todos, todos que ao longo de décadas construíram e consolidaram esta instituição. Cada um deixou um contributo, um gesto, um alicerce que hoje permite à Associação Humanitária ser aquilo que é, uma referência de confiança, de cultura de serviço público e de proximidade ao cidadão.”
Miguel Pombeiro estendeu esta saudação à atual direção “que tem sabido honrar esse legado com extraordinário brio, competência e sentido de missão” e acrescentou depois o mesmo sentimento aos operacionais: “Sem eles, nada disto existiria. São eles que dia e noite, com condições por vezes difíceis, garantem o socorro, a emergência, o apoio às populações. São eles que respondem quando todos os outros recuam.”
Destacou depois a presença do secretário de Estado, onde lançou a mensagem que neste território a “Proteção Civil funciona bem.”
Miguel Pombeiro foi muito direto na sua posição: “Os Comandos Sub-regionais trouxeram ganhos reais de proximidade, de pertença, de coordenação e de eficiência, porque conhecem o território ao detalhe, porque estão próximos das equipas e dos decisores locais, porque reduzem distâncias comunicacionais e operacionais. A experiência do modelo sub-regional é, no Médio Tejo, muito superior ao antigo modelo distrital. O Distrito é uma construção administrativa.
A Sub-região é uma construção territorial. O Distrito agrupa realidades que pouco têm em comum. A Sub-região junta quem trabalha diariamente em conjunto.”
Miguel Pombeiro vincou ainda que reformar é legítimo e necessário, “mas reformar deve significar melhorar, não recuar. Deve significar fortalecer o que dá resultados e não substituir modelos que o território reconhece como eficazes.”
E quando saudou a Liga dos Bombeiros Portugueses, pelo trabalho de defesa de todos os bombeiros, não se coibiu de criticar a postura assumida no verão, quando milhares de operacionais combatiam incêndios no norte e centro do país.
“A Liga é tanto mais forte quanto mais concentrada nestas prioridades [defesa dos bombeiros]. Sempre que se desvia para conflitos institucionais ou para declarações que pouco ajudam com estar no terreno, perde-se um pouco da sua missão.”
Miguel Pombeiro

Jorge Gama, comandante da corporação destacou comandantes, diretores e bombeiros que desde 1925 construíram “este Corpo de Bombeiros com trabalho árduo, sacrifício pessoal e um sentido de missão que atravessa as décadas.” Depois falou para os atuais operacionais e para a direção que “nos acompanha desde 2015. (...) Se esta corporação chega aos 100 anos com vitalidade, deve-se sobretudo a vocês.”
Jorge Gama abordou depois um tema que tem estado em cima da mesa no Médio Tejo e que tem a ver com a reversão dos comandos sub-regionais da Proteção Civil. “Não posso deixar de abordar com serenidade o momento que o momento requer o atual debate sobre mudanças estruturais na proteção civil, nomeadamente o possível fim dos comandos sub-regionais.
Quem está no terreno sabe o valor destes comandos, a proximidade, a coordenação, a eficácia. A sua existência tem representado uma mais-valia operacional e é importante qualquer decisão futura considerar os resultados reais, não apenas perceções que são distantes da realidade e do socorro. Também não posso deixar de manifestar a minha tristeza pelo que vivemos neste último verão, momentos em que vozes que deveriam defender os bombeiros escolheram infelizmente lançar suspeição sobre nós.
A repetição infundada de frases como está desorganizado, os bombeiros têm de ser comandados por bombeiros, não corresponde à verdade. Por isso, digo aqui com toda a clareza, em todos os teatros de operações deste país, os bombeiros são comandados por bombeiros. É assim que sempre foi e é assim que continuará a ser.
Os bombeiros de hoje não querem ser meros agentes de proteção civil. Os bombeiros de hoje são a Proteção Civil. Como podem comprovar os nossos autarcas, as nossas comunidades intermunicipais, sim, porque a Proteção Civil não são só os incêndios florestais ou rurais.
Daí o sistema que hoje temos de ser para nós o mais eficaz e o mais operacional. Os incêndios florestais apenas trazem algumas perceções erradas. Mesmo perante estas circunstâncias, reafirmamos a nossa total disponibilidade para continuar a colaborar, evoluir e fortalecer o sistema de proteção civil, sempre com o foco naquilo que realmente importa, que é a segurança das populações.”
Jorge Gama

António Ribeiro o presidente Associação Humanitário aproveitou o momento para umas curtas palavras de agradecimento e focou-se nas comemorações do Centenário que tiveram início na cerimónia pública de instalação formal da Comissão de Honra e Comissão Executiva, a 30 de abril de 2022. Passaram, entretanto, três anos e meio. “O Plano de Ação aceitou numa estratégia de melhoria dos processos de trabalho, melhoria do bem-estar dos operacionais, de onde saíram os objetivos operacionais.”
E depois destacou sete ideias. Intervenção nas atuais instalações para adequar as condições aos processos de trabalho, remodelação de gabinetes, comando, alojamento e balneários. Construção em local de destaque de uma obra de arte relativa ao Centenário.
Desenvolvimento de ações de angariação de apoios e patrocínios, quer para a construção do monumento, quer como sócios coletivos ou sócio-empresa. Certificação do Centro de Formação da Associação pela Direção-Geral de Emprego e das Relações de Trabalho. Publicação do Centenário em livro e fotografia, apoiado num concurso de fotografia, tornando o acervo numa evidência material que se encontra a decorrer.
“Somos uma organização de utilidade pública, sem fins lucrativos, governada de dentro para fora e que ao longo dos anos apresenta resultados positivos. O futuro é um desafio de gestão, de pontos fortes e procura constante de oportunidades. Uma ação focada na melhoria e na sustentabilidade dos próximos 25 anos desta Associação”, concluiu.
António Ribeiro

Luís Elias, representante da Liga dos Bombeiros de Portugal, agradeceu o trabalho dos bombeiros que não se esgota nos fogos rurais ou florestais, que representam 8% da atividade dos corpos de bombeiros, na sua totalidade. Só que tem uma expressão muito significativa em termos daquilo que é passado para o país nas imagens dos órgãos de comunicação social. Tudo o resto parece que é esquecido, o trabalho que fazem durante o ano, transportando doentes não urgentes, fazendo serviço pré-hospitalar, tratando dos enchentes, de todas as situações, das catástrofes, tudo isso parece que não tem significado.
O dirigente parece ter acusado os toques de Miguem Pombeiro e de Jorge Gama, tanto mais que esclareceu, “que a Liga dos Bombeiros Portugueses bate-se, sempre se bateu, pelas associações humanitárias dos bombeiros voluntários, pelos seus comandantes e pelos bombeiros.”
A Liga representa os bombeiros e tem vindo a defender um conjunto de posições que pode ser discutível e pode não recolher unanimidade. “Mas é de referir que dos elementos, ou seja, das forças que estão ligadas à proteção civil, a única que não tem um comando vertical são os bombeiros.
Dizer que foram sempre os bombeiros a comandar bombeiros não é verdade. Já foi. Não é verdade.”
Luís Elias referiu que a Liga apoiou o secretário de Estado na posição de uma reversão na atual estrutura da Proteção Civil. “Pensamos nós que o exemplo que aqui foi referido, nesta região, que parece, foi dito, e eu tenho que acreditar, que é um local onde os comandos sub-regionais funcionam. Meus caros, nós percorramos o país. Eu percorro o país. E sei quais são as realidades, sabemos quais são as realidades de algumas sub-regiões. Portanto, meus caros, não tomemos em árvore pela floresta. Ou seja, o que aqui funciona bem, pode não funcionar e não funciona bem noutras zonas do país. E nós temos prova disso. Portanto, nós acreditamos e estamos convictos que esta reformulação que vai ser feita na Proteção Civil, por aquilo que temos conhecimento, renovando um projeto de estrutura distrital, criando um Comando Nacional de Bombeiros, irá, no nosso entender, beneficiar a estrutura dos bombeiros. Depois dizer-vos que temos um compromisso.”
Luís Elias

Manuel Mourato, presidente da Câmara de Vila Nova da Barquinha, vincou o dia de festa, daqueles que criaram a corporação, aos que vestiram as fardas ao longo de 100 anos.
Depois uma mensagem especial às famílias dos bombeiros. “A vossa compreensão, o vosso apoio silencioso e a vossa capacidade de aceitar que muitas vezes o dever fala mais alto fazem de vós parte essencial desta missão. A vós, a mais profunda gratidão.”
E destacou também o empenho da atual direção, do comando e de todos os profissionais e voluntários que mantêm esta casa viva e funcional.
“Da parte do município reafirmo o nosso compromisso absoluto continuar a apoiar a Associação Humanitária dos Bombeiros garantindo condições de trabalho, equipamentos, infraestruturas adequadas, entre outros apoios. Porque investir nos bombeiros é investir na segurança e no bem-estar de toda a comunidade.”
Manuel Mourato

Rui Rocha, secretário de Estado da Proteção Civil, começou por celebrar o presente, mas a regressar ao passado. “Recordamos aqueles que em 1925 olharam para a Vila Nova de Barquinha e reconheceram que a proteção das pessoas era um dever de todos.”
E acrescentou “digo, com a mesma convicção que também afirmei no Congresso da Liga, sem os bombeiros o sistema de proteção civil não existe. Ninguém conhece tão bem o território. Ninguém está tão próximo das populações.”
Rui Rocha

O titular da pasta da Proteção Civil, no Ministério da Administração Interna, apresentou as ideias do Governo para os próximos anos, assente em quatro grandes eixos. “Reforma institucional, valorização dos bombeiros, modernização operacional e financiamento estável e permanente. Estamos na fase final da revisão da lei orgânica da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, alicerçada num novo paradigma organizacional que permitirá reforçar a participação dos bombeiros na estrutura nacional, criar condições para uma coordenação mais eficiente e garantir coerência territorial e funcional do sistema. É uma mudança estruturante, discutida, participada e tecnicamente robusta.”
E acrescentou estar a atuar junto do Ministério da Economia e da Coesão Territorial para garantir, na primeira reprogramação do Portugal 2030, uma nova linha de financiamento para infraestruturas e equipamentos, “compensando o vazio deixado pelo PRR e pelas atuais limitações do Portugal 2030.”
Rui Rocha

Sem a presença ativa dos municípios, sem o seu apoio consistente, financeiro, logístico, humano, o sistema funcionaria muito mais lentamente. A Proteção Civil, “também não devemos esquecer, é a responsabilidade do poder local e Vila Nova da Barquinha é um desses exemplos. Por isso precisamos de um sistema em que governo, autarquias e bombeiros trabalhem como um verdadeiro triângulo de confiança e de partilha com objetivos comuns, responsabilidades claras e comunicação permanente.”
Rui Rocha

Depois de uma visita aos melhoramentos feitos no quartel, nova sala de comando e de crise e das camaratas e balneários foi inaugurado o Monumento do Centenário na rotunda da EN 3, junto ao Quartel dos Bombeiros.
A criação do momento do artista plástico Carlos Vicente, do Engenheiro Luís Ferreira, na produção e montagem a empresa de construções Carlos Barros e a empresa Engisul Metálica Mecânica do Sul.


António Ribeiro, presidente da Associação Humanitária diz que falta apenas o livro dos 100 anos para fechar um projeto que começou em 2022.
António Ribeiro
Depois das cerimónias seguiu-se um dia de portas abertas no Quartel e um almoço comemorativo do Centenário, afinal 100 anos não são 100 dias, são mais de 36 mil dias e cerca de 900 mil horas.
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