No passado dia 17 de novembro, às 17h30, realizou-se mais um painel no âmbito do Festival de Filosofia de Abrantes, no edifício Pirâmide. O tema do painel foi referente ao tema "Robótica e Trabalho: Desafios Políticos.
O final da tarde foi marcado pela presença dos representantes dos partidos políticos com assento parlamentar, eleitos pelo círculo eleitoral de Santarém. À excepção do deputado da CDU, António Filipe, que não pôde comparecer, os restantes representantes apresentaram-se no debate, sendo eles Hugo Costa (PS), Duarte Marques (PSD), Patrícia Fonseca (CDS-PP), Carlos Matias (BE) e Francisco Guerreiro, que é da comissão política do PAN e assessor parlamentar do deputado André Silva. Teve como moderadora a jornalista Patrícia Fonseca.
Este painel teve como objetivo o debate sobre os avanços que a tecnologia e a robótica tiveram ao longo dos anos e que rumo e impacto vão ter no futuro, relacionando esta situação com a humanidade.
Patrícia Fonseca, deputada do CDS, fez várias comparações a nível cronológico, de como o avanço tecnológico tem vindo a afetar as gerações dizendo "que as tranformações do passado demoravam várias gerações a acontecer e hoje, num espaço de uma geração, há tranformações imensas”.
A deputada frisou também que o "grande desafio" será descobrir formas de como "tirar partido das oportunidades que a era digital proporciona", garantindo assim também que "ninguém é deixado para trás" com os avanços tecnlógicos.
Patrícia Fonseca destacou a importância que a educação e a entrega terão para preparar a sociedade no acompanhamento acelerado da tecnologia, salientando ainda que "a requalificação profissional e a formação" são termos preponderantes para a "construção de sociedades diferentes".
A deputada também não deixou passar a questão ética neste tema, fazendo uma comparação explícita de como não deve ser permitido ultrapassar limites no que toca ao papel da intelgência artificial na sociedade, que não lhe "passa pela cabeça haver clones e não podemos chegar a esse ponto".
Para Duarte Marques, deputado do PSD, a robótica e a inteligência artifical "estão interligados, mas são coisas diferentes" e por isso, importa dintingui-las.
O deputado relaciona os avanços tecnológicos com o futuro a nível da criação de postos de trabalho dizendo que "há empregos que vão deixar de existir, contudo é discutível a quantidade de empregos que se vão criar".
O deputado chama a atenção para o facto de que a população não valoriza os aspetos positivos que a tecnologia irá ter no futuro, estando confiante que a globalização e o avanço tecnológico tenha "mais aspectos positivos" do que "consequências negativas".
O social-democrata usou exemplos de vários países como os Estados Unidos, Japão, China, França, entre outros, para explicar de que forma é que estes estão a preparar o futuro a nível da tecnologia, criando "instituições para promover a investigação para que o próprio país esteja mais à frente", na matéria do futuro tecnológico e da globalização.
Duarte Marques ainda usou o exemplo das "Fake News", ou seja, a deturpação de informação e da utilização inapropriada da internet para explicar os limites que é preciso ter para controlar a inteligência artificial.
Hugo Costa, deputado do PS, começa por falar sobre a distanciação do conceito de felicidade com o PIB (Produto Interno Bruto), dizendo que os "normais termos de contabilização de riqueza de um país, estão bem longe do conceito de felicidade", usando o exemplo de Singapura, onde o crescimento económico do país é muito abaixo do nível de felicidade do mesmo.
O deputado coloca em questão o facto de que a robótica poderá ser, ou não, o caminho "para essa felicidade", salientando que o desenvolvimento do mesmo poderá dar "menos horas de trabalho e mais horas de lazer", e que será um dos "desafios que deverá ser colocado" ao Governo.
O representante do PS ainda frisou que não se pode permtir que "a robótica e as novas formas de inteligência artificial sejam mais uma forma de criar desigualdades" a nível social.
Carlos Matias, deputado do BE, começa por evocar o exemplo do filme "Kubrick- A Odisseia no Espaço" para explicar que a apoderação da tecnologia sobre a sociedade é um dos maiores medos da humanidade.
O deputado teve como base um documento da União Europeia para explicar que a Industria 4.0 "abrange mais do que a tecnologia", enumerando vários objetivos e ideias que explicitam essa afirmação.
Citando a frase, "A humanidade está em atraso em relação à tecnologia", de Albert Einstein, no ano de 1955, o deputado clarifica a ideia que até aos dias de hoje, o homem não consegue acompanhar a máquina.
Frisou os problemas que se têm que debater para além dos avanços da tecnologia como "a organização do trabalho, a relação entre o emprego e o desemprego, as questões da Segurança Social no momento em que há menos trabalhadores, reforço da contratação coletiva, a desregulação do emprego"...
Salienta também que a tecnologia é um avanço e que "tem lados bons", mas tem que ser bem aproveitada, sendo que a política tem um papel importante nesse aproveitamento.
O bloquista critica a situação de atraso de Portugal no contexto tecnológico dizendo que o país tem "fragilidades estruturais", constatanto o facto de que a nação ainda está estagnada na Indústria 2.0.
Francisco Guerreiro, representante do PAN, destaca que é preciso " 12 anos para mudar a sociedade" segundo dados fornecidos pela ONU.
O representante falou num contexto mais virado para a vertente ambiental dizendo que "as economias têm sido positivas nos investimentos de bens e serviços ao dispôr da humanidade", mas, no entanto, não têm sido favoráveis no contexto ambiental, devido à "massificação da produção e do consumo no país", chamando de "PIBomania" ao crescimento da produção quantitativa e não qualitativa que Portugal anda a praticar.
Refere também que a economia "só mudará" quando houver uma mudança da forma como se produz, como se consome e "uma visão que tenha como base a ecologia e o respeito pelos direitos humanos".
Alves Jana, Do Clube de Filosofia de Abrantes, um dos organizadores do evento, frisou à Antena Livre que o Festival está a ter um "balanço positivo do ponto de vista de vários paineis" destacando também a diversidade de pessoas e entidades que passaram pelo Festival, superando assim as expectativas.
Questionado sobre uma 3ª edição do Festival de Filosofia, Alves Jana salientou que "é quase como uma obrigação "voltar para o próximo ano”, devido ao facto de que não se pode "deixar de corresponder a um movimento que já começou e que as pessoas que participam querem mais".
O Festival encerrou no dia 18 de novembro com uma sessão honrosa ao filósofo Eduardo Lourenço, no edifício Pirâmide.
O Festival é organizado pela Câmara Municipal de Abrantes, em parceria com o Clube de Filosofia de Abrantes, a Câmara Municipal de Mação, a Câmara Municipal de Sardoal, a Palha de Abrantes – Associação de Desenvolvimento Cultural, os Agrupamentos de Escolas dos Concelhos de Abrantes, Mação e Sardoal e a Fundação Serralves.
Nélio Dias