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Floresta: Fileira do pinheiro-bravo tem futuro com aposta dos proprietários no ordenamento (c/áudio)

24/06/2025 às 09:30

Um pinhal tratado pode ter uma rentabilidade elevada para os proprietários. É assim que o Centro Pinus (Associação para a Valorização da Floresta de Pinho) entende o setor e as propriedades que voltam a ganhar vitalidade depois de muitos anos de abandono. É, aliás, um dos grandes motivos do abandono da floresta de pinho a perda de valor com a “praga” dos incêndios, cultivar durante anos um pinhal e depois, num estalar de dedos, passa um incêndio e destrói o rendimento dos proprietários.

Toda esta zona do interior, do pinhal interior, tinha na floresta de pinho um rendimento sempre presente para os pequenos proprietários. Queriam casar um filho cortavam uns pinheiros e garantiam o pagamento da festa. Queriam mandar um filho para a universidade, cortavam uns pinheiros vendiam a madeira e a universidade estava paga.

Na década de 80 começaram a chegar os grandes incêndios, o abandono da floresta e das atividades económicas paralelas, deixaram a floresta de pinheiro-bravo ao “Deus-dará” como se diz por cá.

Mas, nesta altura, há outros mecanismos e um regresso dos investimentos à fileira e o setor parece estar a entrar num período de retoma. E com aproveitamento da biomassa, resultante da limpeza das florestas de pinho, o aproveitamento (novamente) da resina e no final da linha o aproveitamento da madeira dos pinheiros adultos.

E o Centro Pinus, juntamente com a Associação de Agricultores de Abrantes, Constância, Sardoal, Mação e limítrofes vieram a S. Domingos mostrar como ordenar um pinhal para produção de madeira, daqui a uns anos.

Luís Damas, presidente da Associação de Agricultores de Abrantes e da Federação das Associações de Produtores Florestais, explicou os trabalhos serão feitos numa propriedade de seis hectares, uma herança indivisa de mais de três dezenas de herdeiros. Em 2018 na propriedade foi feito um corte do pinhal. O terreno ficou com um banco de sementes e a natureza funcionou. Ou seja, repôs as árvores que cresceram. Só que quando assim é, crescem muitas árvores de forma natural, sendo necessário o desbaste para criar árvores fortes que, venham no futuro, a dar rendimento. A gestão da propriedade passou para a Associação de Agricultores, já que a mesma integra a Área Integrada de Gestão da Paisagem (AIGP) de Sardoal.

Neste momento “estão na propriedade mais de 10 mil árvores por hectare. Queremos que fiquem 2.500 a 3 mil árvores.”

Neste caso há um trabalho feito por um dos tratores da Associação que vai abrir faixas. Ou seja, como está equipado com destroçador, limpa tudo por onde passa. As faixas têm de seguir as direções dos ventos, fator importante para o tratamento do pinhal e para este crescer de forma uniforme. Luís Damas indicou um fator importante neste setor, é que mesmo que haja uma crise económica “a floresta está sempre a crescer.”

Depois de serem criadas as faixas, entra uma equipa de sapadores, a limpar todo-o-terreno e a eliminar as árvores mais enfermas, deixando apenas as mais forte e com mais condições de virem a crescer para criar rendimento ao proprietário. Este trabalho tem um custo de 600 a 800 euros o custo de trabalho por hectare, mas neste caso com uma grande vantagem e poupança. O pinhal cresceu de forma natural, não houve despesa a semear os pinheiros ou na preparação das terras para as sementeiras. Luís Damas destacou ainda o facto de o pinheiro-bravo ter, ao contrário do eucalipto, um processo de regeneração natural. Precisa depois é de ser ordenado. Já os eucaliptos têm de voltar a ser plantados.

E depois indicou que vai ser feita uma experiência nesta propriedade. Algumas filas de pinheiros terão a limpeza e trabalho dos sapadores. Outras não. E o objetivo é perceber, de forma real, as diferenças no crescimento das árvores.

 

Luís Damas, presidente Associação Agricultores

João Gonçalves, do Centro Pinus destacou que são os proprietários que garantem a rentabilidade deste setor.

Na ação destinada a proprietários e associações do setor, através de um roteiro que está a percorrer o país, o Centro Pinus pretende mostrar que a fileira está bem e pode ter rentabilidade, pelo que é muito importante “gerir a floresta.”

João Gonçalves vincou que “o pinhal é de todos. Estamos aqui para ajudar todos no setor do pinhal.”

E este roteiro pretende isso mesmo, mostrar os bons exemplos de como se pode trabalhar na floresta.

João Gonçalves, Centro Pinus

A Associação “Além Mundus” localizada na aldeia do Souto, concelho de Abrantes, esteve presente na sessão porque quer conhecer melhor o setor, já que vai dedicar a sua festa deste ano à floresta e às atividades que a envolvem, principalmente à recolha da resina e ao trabalho das mulheres no setor. Vai ser nos dias 2 e 3 de agosto no Souto.

Pinhal bastio original

Intervenção do trator/destroçador a fazer as faixas 

Depois do trator equipas de sapadores limpam as faixas 

É assim que fica a propriedade depois da intervenção de ordenamento florestal

 

O Centro Pinus

O Centro PINUS (Associação para a Valorização da Floresta de Pinho) é, na sua designação oficial, “uma associação sem fins lucrativos que reúne os principais agentes da Fileira do Pinho, incluindo representantes da produção florestal, dos prestadores de serviços, das indústrias, da administração pública, do ensino superior e do setor financeiro.”

O Centro Pinus tem trabalho na área da produção e divulgação de iniciativas de comunicação de carácter técnico e formativo, com o propósito de ampliar o conhecimento sobre o pinhal-bravo e da sua fileira. E o objetivo claro da associação é o reforço, junto da sociedade e do setor, da relevância ambiental, económica e social desta espécie florestal. Esta é, segundo a associação, uma árvore pioneira e histórica é parte integrante da identidade cultural do nosso país.

“Da construção civil até aos painéis derivados de madeira, passando pelo mobiliário, postes e varas de uso polivalente, incluindo embalagens de elevada qualidade e resistência conferidas pela fibra de pinho, isto sem esquecer a resina”, pode ler-se na página da associação sediada em Viana do Castelo.

O Centro PINUS promove ainda a sustentabilidade do pinheiro-bravo na floresta portuguesa, contribuindo para o fornecimento de matéria-prima adequada às necessidades das indústrias da Fileira.

De acordo com números da associação, a ”Fileira do Pinho assume um papel de destaque ao representar: 80% dos empregos diretos nas indústrias da Fileira, 53% do VAB das indústrias da Fileira Florestal e 3,1% das exportações nacionais.”

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