O ministro da Educação anunciou hoje um plano para garantir bibliotecas em todas as escolas do 1.º ciclo até 2027, depois de revelar que cerca de 90 mil alunos não têm acesso a este equipamento, situação que considerou “chocante”.
“Temos 1.487 escolas do 1.º ciclo sem biblioteca, o que significa que 25% dos alunos – cerca de 90 mil crianças – não têm acesso a livros”, afirmou o governante, durante a sessão “Ler os resultados das provas ModA – Implicações para a aprendizagem da Leitura”, organizada pelo Instituto de Educação, Qualidade e Avaliação no Centro Nacional de Exposições, em Santarém.
Fernando Alexandre sublinhou que este dado é “inaceitável” num país que “nas últimas décadas investiu tanto na educação” e anunciou um investimento superior a três milhões de euros para resolver metade do problema já em 2026, com a colaboração do Banco de Portugal.
“Vamos garantir bibliotecas em 434 escolas, beneficiando cerca de 50 mil crianças. Em 2027, completaremos a segunda fase, para que todas as escolas tenham biblioteca”, disse.
O ministro DA Educação, Ciência e Inovação explicou que a prioridade será dada às escolas com maior número de alunos e que nunca tiveram biblioteca, incluindo 30 agrupamentos onde “não existe uma única biblioteca”.
“Como é que alguém pode desenvolver o gosto pela leitura se nem sequer tem livros por perto?”, questionou, lembrando que muitas destas escolas estão em zonas socioeconomicamente desfavorecidas, onde também é raro existir uma biblioteca em casa.
A medida surge na sequência dos resultados das provas de Monitorização da Aprendizagem (ModA), realizadas pela primeira vez no ano letivo 2024/2025, nos 4.º e 6.º anos, que revelaram fragilidades na leitura.
“Temos 25% dos alunos com níveis muito baixos de fluência leitora, o que lhes vai causar dificuldades em todas as aprendizagens futuras”, alertou Fernando Alexandre, defendendo que “a igualdade de oportunidades começa pelo acesso aos livros”.
O governante destacou ainda que a criação de bibliotecas será acompanhada por outras iniciativas para melhorar a qualidade do sistema educativo, incluindo simplificação dos processos administrativos, reforço da ligação entre escolas e autarquias e uma maior utilização do digital.
“Será muito interessante observar o impacto destas bibliotecas no desempenho dos alunos. Tenho a certeza de que vai ser enorme”, concluiu.
Em declarações à Lusa, Fernando Alexandre salientou que os resultados das provas ModA mostram que “as desigualdades territoriais são evidentes”, com a região Norte a apresentar os melhores resultados, seguida do Centro, enquanto “os Açores, a Península de Setúbal e o Algarve têm médias preocupantes, muitas vezes abaixo dos 50%”.
Para o ministro, estes dados revelam que “o contexto em que um aluno nasce condiciona os seus resultados”, o que exige “mudar estruturas e criar condições para um sistema educativo mais homogéneo”.
“Estas medidas que estamos a apresentar inserem-se precisamente nesse processo de usar as provas para identificar falhas nas aprendizagens e tomar medidas para as corrigir”, afirmou, defendendo que também os municípios e as comissões de coordenação regional “têm aqui desafios claros” para combater as disparidades.
As provas ModA, introduzidas no ano letivo 2024/2025, realizam-se nos 4.º e 6.º anos de escolaridade, para avaliação de competências essenciais, como literacia e pensamento crítico.
Segundo o relatório nacional das provas ModA, a média mais elevada foi registada na prova de Inglês do 4.º ano, com 61 pontos ModA, seguida da prova de Português Língua Não Materna, com 58,1 pontos. Já as provas do 6.º ano de Português e História e Geografia de Portugal apresentaram as médias mais baixas, 48,6 e 49,6 pontos, respetivamente. Em Matemática, as médias situaram-se nos 50,9 pontos (4.º ano) e 51,3 pontos (6.º ano).
Lusa