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REPORTAGEM - Covid-19: Famílias refugiam-se no interior para fugir ao vírus

17/03/2020 às 00:00

O medo e a incerteza provocado pelo surto de Covid-19, levou algumas famílias a sair da cidade e a refugiarem-se no campo, retomando hábitos antigos de subsistência, enquanto aguardam por condições para regressar às suas vidas “normais”.

É entre os animais e as árvores de fruto que a família de Mónica Ferreira, de 41 anos, tem passado os últimos dias, numa pequena aldeia do concelho da Sertã, no distrito de Castelo Branco.

Assim que o surto de Covid-19 começou a ganhar proporções mais preocupantes, Mónica Ferreira suspendeu a sua atividade e deixou a sua casa de Cascais, no distrito de Lisboa, para se mudar com o marido e os dois filhos, de 4 e 9 anos, para o interior.

“Achámos que, se era para ficar fechados em casa, aqui temos mais liberdade. Temos uma horta, temos pinheiros, eucaliptos, um poço. Há sempre atividades para todos”, conta à agência Lusa.

Mónica Ferreira refere que, desde que está em isolamento, só foi uma vez às compras, à vila da Sertã, e que ficou surpreendida com o “à vontade” com que a população está a encarar o surto.

“Eu fui de máscara e luvas, mas fez-me confusão como eles estão a lidar com o problema. Acham mesmo que isto é uma coisa das grandes cidades e que não chega lá. Continuam a cumprimentar-se e a fazer a sua vida normal como se nada fosse”, observa.

Também para o interior do país, mais concretamente para o concelho de Abrantes, no distrito de Santarém, rumou Joana Brandão, o marido e os dois filhos, uma vez que na família há duas pessoas que sofrem de problemas respiratórios.

“Tivemos autorização para trabalhar em casa e viemos para aqui. Estamos mais descansados e as crianças podem brincar na rua, pois isto é uma aldeia com pouca gente”, justifica.

Henriqueta Mota, de 75 anos, também procurou com o marido, de 80 anos, “fugir” do vírus e refugiou-se numa pequena quinta situada no concelho de Azambuja.

Em declarações à Lusa, esta antiga enfermeira conta que o plano inicial era sair de Lisboa com toda a família, mas que tal acabou por não acontecer.

“Tenho uma família grande (15 pessoas) e sete netinhos. Andei a comprar comida a pensar que vínhamos todos para aqui, mas eles acabaram por ficar em Lisboa. O que mais me custa é estar longe deles”, conta.

A antiga enfermeira, que vai passando agora os dias com o marido entre as lides domésticas e horta, confidencia que está muito preocupada com a família e com os profissionais de saúde.

“Estou muito preocupada. Sabe, tenho muita pena de não ter mais energia para poder ajudar os meus colegas. Eles têm de se proteger”, apela.

Com o “coração nas mãos” está também a cabeleira Marisa Alves, que, por questões de saúde, teve de enviar a sua filha de 11 anos para uma quinta em Lamego, no distrito de Viseu, para estar em “isolamento total”.

“A minha filha tem problemas respiratórios e o médico recomendou que ela ficasse isolada. Então, comprei mantimentos e enviei-a, de carro, para lá. Nem eu a visito, pois tenho medo de a infetar”, lamenta.

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) elevou hoje número de casos confirmados de infeção para 448, mais 117 do que na segunda-feira, dia em que se registou a primeira morte no país.

Dos casos confirmados, 242 estão a recuperar em casa e 206 estão internados, 17 dos quais em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI).

O boletim divulgado pela DGS assinala 4.030 casos suspeitos até hoje, dos quais 323 aguardavam resultado laboratorial.

Das pessoas infetadas em Portugal, três recuperaram.

De acordo com o boletim, há 6.852 contactos em vigilância pelas autoridades de saúde.

Atualmente, há 19 cadeias de transmissão ativas em Portugal, mais uma do que no domingo.

Fábio Canceiro, da agência Lusa

 

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