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Reportagem Jornal de Abrantes: "Quando salto sinto-me a voar" (C/VÍDEO)

8/08/2020 às 00:00

Foi em junho que, na capital nacional do Cavalo, na Golegã, ao longo de três dias, de 19 a 21, que a Maria Neves ergueu a Taça da Juventude de Saltos de Obstáculos, na categoria de juvenis. Um troféu, o mais emblemático até agora, que vai ficar ao lado dos outros já conquistados nesta sua carreira, ainda curta, do hipismo.

Mas comecemos pelo início. Em 2013, a 2 de novembro, a Maria Neves foi ao Centro Equestre de Abrantes para ver os cavalos e ter uma experiência simples de infância que era montar a cavalo. Tinha seis anos e era um sonho de infância como a grande parte das crianças. Ainda para mais não há, na sua família, qualquer ligação a estas atividades ou a estes meios.

A primeira vez abriu-lhe o apetite e a vontade de voltar ficou, desde logo, marcada: regressou uma, duas, três vezes para a experiência que passou por umas aulas de iniciação à equitação.

O seu instrutor na altura, João Botto, o proprietário do Centro Equestre de Abrantes, viu na Maria Neves “qualquer coisa” que levou a fazer uma aposta mais concreta na equitação, em geral, e nos saltos de obstáculos em particular.

“A primeira vez que a vi a montar vi o potencial. Tinha à vontade, solidez e equilíbrio. Nem parecia que nunca tinha montado”, diz João Botto ao mesmo tempo que criou logo “ligação com o cavalo, uma das coisas fundamentais neste meio”. O primeiro treinador acrescenta que viu naquela menina uma “aptidão natural para os saltos”, o que se veio a concretizar nos meses e anos seguintes.

Hoje a Maria Neves tem como treinador de competição Pedro Manso que é quem a prepara para as provas em que participa.

O sonho da Maria Neves “é poder evoluir e um dia ser cavaleira profissional”, sem descurar e escola, pois a formação académica é, de igual forma, um dos objetivos desta jovem que tem na equitação “um modo de vida”.

E esta é uma modalidade que exige muito treino, muita dedicação, a que se acrescenta o companheirismo com a “companheira” com quem salta pelos campos do país. Emely Wetts é a égua [de raça português desporto], da Maria Neves há cerca de três anos. Todos os dias a Maria e a Emely treinam. E o tempo de treino é muito variável, pois é a égua que “vai dizer” quando chega ou não chega. Mas em geral, nunca menos de uma hora por dia. Nas semanas em que há provas, então aí apruma-se o treino nos saltos, para fazer a preparação para essas provas.

E do ponto de vista físico a Maria diz que não tem qualquer plano pessoal de treino físico. Tem sim a vontade de crescer no mundo do hipismo.

No dia em que a Maria recebeu o Jornal de Abrantes no Centro Equestre de Abrantes a manhã estava quente. O picadeiro exterior estava a ser regado para permitir o treino dessa manhã. As rotinas estão feitas.

Cavaleira e égua sabem os passos que têm de ser dados. A Maria Neves vai buscar a Emely à box e começa a aparelhá-la. Penteia-a, limpa os cascos sempre com palavras doces ou gestos de “ligação” ao animal que permanece imóvel.

Depois de toda a preparação é colocada a sela e saem das boxes para o picadeiro.

É ali que é feito o aquecimento, primeiro a trote e depois a galope antes do treino dos saltos. “A Emely está a estranhar porque hoje não é, normalmente, dia de saltos”, diz José Carlos Ganhão, um dos instrutores do Centro enquanto vai dando algumas indicações para o picadeiro.

E depois segue o treino. Primeiro com barreiras mais baixas. Depois, pouco a pouco, vão subindo a uma altura superior a um metro. Quando o treino termina a Maria regressa às boxes, dá banho à Emely Wetts que fica a descansar.

“A Emely gosta mesmo de saltar, é a coisa que mais gosta de fazer”, explica a Maria que adianta que este é um trabalho diário, contínuo e que não aponta a um único objetivo.

Quando entra no picadeiro, apesar a tenra idade de 13 anos, diz que esquece tudo o que existe e que se concentra naquilo que está a fazer: “sinto-me a voar”. E é preciso criar uma ligação forte com a égua. Se isso não acontecer as coisas depois não saem tão bem. Ambos têm de se conhecer muito bem para que, no picadeiro, sejam um conjunto único.

Apesar da pandemia ter alterado a vida de todos e do hipismo, a Maria Neves fez o exame de Sela 7, com classificação excelente e conquistou a Taça da Juventude de Saltos de Obstáculos, em 2020, a que junta, em 2019, a Taça das Amazonas – categoria trophy, para além de vários pódios em provas em todo o país.

Em 2018 já tinha tido uma participação no Campeonato de Portugal, em Cascais, onde alcançou o 8.º lugar na prova final de iniciados.

A primeira prova em que participou foi em 2014, com sete anos, na Rota do Tejo, no Centro Equestre de Abrantes

 

O Centro Equestre de Abrantes

A funcionar desde 2006, com picadeiro e instalações na quinta da Feiteira. João Botto, diz que neste momento tem cerca de 20 alunos e cerca de 25 cavalos. “Tratamos e treinamos cavalos de clientes”, explica o João acrescentando que uma das grandes apostas, paralelamente às aulas, é a criação de cavalos. “Temos atualmente quatro éguas e dez poldros. O objetivo passa por prepará-los e vendê-los para o comércio de animais de desporto”, explica o responsável pelo centro.

Um poldro começa o desbaste para ser montado aos três anos, inicia a competição aos quatro e depois, aos oito anos, na idade adulta, está em condições para poder trabalhar com crianças.

 

Reportagem de Jerónimo Belo Jorge

Fotos, imagem e edição vídeo de Taras Dudnyk

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