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Sofia Coelho é uma jovem abrantina a trabalhar em Inglaterra com os ouvidos em Portugal (C/ÁUDIO)

20/03/2020 às 00:00
DR

Sofia Coelho é natural de S. Miguel do Rio Torto, concelho de Abrantes, mas a vida levou-a a terras de sua majestade Isabel II, de Inglaterra. É na Região de Leicester que exerce a sua profissão de técnica de saúde na área da Radiologia. Trabalha, portanto, numa área sensível que em todos os países estão a combater a pandemia da COVID- 19.

Em Leicester Sofia Coelho está a exercer uma unidade de um centro hospitalar que tem cuidados intensivos e vai receber os doentes da zona. “É como o Médio Tejo, a minha unidade é semelhante ao Hospital de Abrantes, é aqui que temos a unidade de cuidados intensivos”, explica acrescentando que estão a fazer turnos de 12 horas. Nesta conversa revela que os colegas italianos estão destroçados com o que se está a passar e que continua a acompanhar as coisas cá do burgo: “Falo todos os dias com a minha família”.

No meio de todo este turbilhão esta jovem emigrante pede para que as pessoas usem a internet com cabeça, não acreditem em tudo o que é partilhado e tenham cuidado com as “fake news” que podem prejudicar o trabalho desta gente que dá o litro nos cuidados de saúde. Mesmo assim diz que Portugal está uns grandes passos à frente de Inglaterra, quer nas medidas tomadas, quer nas ações de saúde. “Um teste aí [Portugal] é feito em horas, aqui demora 72 horas. Imagina, temos colegas em isolamento 72 horas à espera do resultado”, lamenta, ao mesmo tempo que reforça o apelo que tem sido feito desde o início: “Fiquem em casa. Façam a higiene”.

Esta é uma pandemia para a qual ninguém estava preparado pelo que estamos todos a aprender a lidar com estas questões. Em Inglaterra Sofia revela que há, em parte da população, uma grande despreocupação com o coronavírus. “As pessoas aqui continuam a encher os pub’s, as lojas, as ruas. Há quem se preocupe, mas no geral, há muito a ideia do deixa andar” diz a técnica de saúde. Mas se não se preocupam por um lado, pelo outro há outra franja de pessoas alarmadas que simplesmente “esgotam os supermercados. E ao contrário de Portugal não há contenção nos horários. Os profissionais de saúde não têm prioridades. Apenas os idosos têm mais condições para aceder aos mercados. Mesmo assim a cadeia de distribuição está a colapsar. Não há quase nada nos supermercados”, diz Sofia Coelho e exemplifica “ontem não havia batatas”. E depois adianta “já nem falo do papel higiénico”, porque parece que esta corrida é geral e transversal a todos os países.

Sofia Coelho à conversa com o jornalista Jerónimo Belo Jorge

Preparada para o embate da doença, diz esperar medidas de emergência como as que foram tomadas em Portugal para ver se os ingleses acordam para uma realidade que é mais real do que o que eles pensam. Mesmo assim diz que as pessoas foram informadas do que se estava a passar no país. E os emigrantes acompanham mais as notícias dos países de origem do que os canais ingleses. Trabalham fora, mas os pensamentos estão muito nos seus mais queridos.

Sofia Coelho vai continuar a fazer o seu trabalho em Leicester. Sabe que as coisas podem piorar e muito. Sabe que está no grupo de profissionais da saúde a quem está a ser pedido que sejam os heróis deste mundo novo e desconhecido. Mantém a mesma cadência de discurso profissional como os seus colegas. “Fiquem em casa. Lavem as mãos. Cumpram as regras da emergência”.

A pandemia cá, como lá em Inglaterra, existe e está espalhada. E se não formos todos nós a combatê-la não há médicos ou sistema de saúde que resista. Todos temos de ajudar. Cada um à sua maneira.

 

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