Uma espécie de bicho-de-conta nova para ciência foi descoberta em Alcobertas, no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, pela bióloga portuguesa Rita Eusébio.
A nova espécie, ‘Eluma cristata’, “é a primeira espécie que foi descrita em coloviões [um tipo de habitat subterrâneo localizado mais próximo da superfície do que as grutas] e que neste caso tem ainda a importância de ter sido descoberta numa zona protegida, dentro do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros”, disse Rita Eusébio à agência Lusa.
A descoberta, a primeira da bióloga natural das Caldas da Rainha, foi feita em Alcobertas, concelho de Rio Maior, distrito de Santarém, numa escavação a cerca de 60 centímetros da superfície.
“Percebemos que é uma espécie nova porque quando olhámos para o animal vimos que tinha umas cristas muito pronunciadas em cada um dos segmentos do corpo, inexistentes nas outras espécies descritas para este género, para o género Eluma, em Portugal”, adiantou a bióloga.
Rita Eusébio disse que a comparação com exemplares do mesmo género, em Espanha e um pouco por toda a Europa, "revelou que não havia nenhuma espécie que se assemelhasse a esta”, sublinhando que “além da importância para a ciência [a descoberta] também traz alguma importância para estes habitais que são protegidos mas que não são muito conhecidos em Portugal”, e “funcionam como um refúgio para as espécies de superfície”.
“Visto que há o potencial para a descoberta de novas espécies, isto é um bom chapéu para colocar estes habitats no radar e aumentar a sua proteção, porque eles são muito importantes”, acrescentou.
A nova espécie ‘Eluma cristata’, descrita na revista científica “Subterranean Biology”, foi descoberta no âmbito de uma investigação que decorreu no Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (CE3C), financiada pela bolsa de doutoramento da Fundação para Ciência e a Tecnologia, no âmbito do Programa Doutoral em Biologia e Ecologia das Alterações Globais, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Insere-se também na cátedra em Sustentabilidade de Ecossistemas Subterrâneos - Loulé, que tem como objetivo aumentar o conhecimento sobre ecossistemas subterrâneos de Portugal.
o trabalho foi feito em colaboração com Stefano Taiti, do Conselho de Investigação Italiano e Museu La Specola, em Florença (Itália).
A descoberta aconteceu no âmbito do doutoramento de Rita Eusébio, que tem como orientadora a bióloga Ana Sofia Reboleira, que ao longo da carreira descobriu dezenas de novas espécies, sobretudo cavernícolas.
O novo bicho-de-conta, com cerca de um centímetro e que se enrola formando uma bola “é o que se chama um organismo críptico, que evita a superfície”, explicou a cientista, alertando para o “muito importante papel ecológico dos bichos-de-conta, porque são grandes recicladores de matéria orgânica”.
“Consomem os produtos vegetais, os restos e os detritos que chegam a estes habitats e reciclam-nos”, explicou Sofia Reboleira.
Lusa