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O Encontro de Anglias juntou 30 automóveis. Mas a coleção de miniaturas de Ford Anglia do Abrantino Jorge Mora tem 874 carros. Grande parte pode ser vista na Biblioteca Municipal António Botto.
A paixão por carros antigo leva muitos dos seus proprietários a gastar “rios” de dinheiro na sua manutenção para poderem circular ou participar em passeios, ou exposições. E os proprietários dos Ford Anglia não fogem à regra.
Corria o ano 2019 quando Paulo Rogério, de Fátima, conheceu Jorge Mora, de Abrantes, e ambos organizaram o primeiro encontro de Aglias. Apenas os deles. Um branco do Paulo e o vermelho do Jorge Mora.
Desse embrião a ideia de encontrar mais portugueses com Anglias partiu para as redes sociais e deu-se o “boom”. O grupo cresceu e fez crescer o número de Anglias que já existiam e circulavam em Portugal. Afinal, diz Paulo Rogério, “havia muito mais pessoas com esta paixão por estes carros icónicos.”
Este ano realizou-se o quarto encontro de Anglias, com a concentração em S. Lourenço, seguido de um passeio pela cidade, almoço e inauguração da exposição de miniaturas dos Anglias. Trata-se de uma coleção particular de Jorge Mora.
Neste encontro estiveram três dezenas de Anglia com as suas cores muito características, incluindo um igual ao que foi utilizado no filme “Harry Potter e a Câmara dos Segredos.” Viu o filme? Então lembra-se quando o Ron foi buscar o Harry Potter a casa dos tios num carro voador. Sim, foi num Anglia. E esse momento deu mais visibilidade a estes carros britânicos.
Não é o mesmo utilizado no filme "Harry Potter e a Câmara dos Segredos", mas é um modelo semelhante
Paulo Rogério, que coordenou a organização do encontro de Anglias, diz que há muita coisa que os diferencia dos outros carros. “Sou suspeito. Tenho uma paixão pelos Ford Anglia. Mas tem aquelas ‘barbatanas’ traseiras que fazem lembrar os carros americanos são os faróis à frente que parecem uns olhos sempre a olhar para nós. É a grelha cromada, à frente, que faz com que pareça que o carro está a sorrir para nós. É o vidro traseiro com uma inclinação inversa aos carros comuns. Visto por fora é um carro pequenino, mas por dentro quadro adultos com 1m90 não batem com a cabeça no teto, por causa da inclinação. É único”, explica Paulo Rogério que depois, junto aos carros expostos, faz questão de mostrar estas características.
Já o abrantino Jorge Mora comprou o seu Anglia vermelho, em 1980. Depois dizer ter achado piada e começou a comprar as primeiras miniaturas que via numa loja em Tomar. “Foi assim que começou este vício. Foi por ter um que me interessei pelas miniaturas.”
A paixão cresceu pelo Anglia e pelas miniaturas e a coleção foi crescendo com réplicas e com miniaturas. Hoje tem uma coleção com, precisamente, 874 Anglias. E uma parte pode ser vista, até 4 de outubro, numa exposição na Biblioteca Municipal António Botto.
Mas à pergunta sobre a origem de tantas miniaturas, de todos dos tipos e nenhuma repetida, nem que seja por pormenores como a cor dos pneus, Jorge Mora diz que grande parte vieram de Inglaterra. Foram muitas horas no eBay ou outras plataformas de comércio que fizeram crescer a coleção. “Comprei muito no eBay e de Inglaterra porque o carro era britânico, embora haja muitos em França. Mas comprei muito através da plataforma.”
Jorge Mora diz que as miniaturas são todas diferentes e isso destaca-se na exposição na Biblioteca. E o colecionador aponta ao posicionamento do vidro traseiro como uma característica especial deste carro que “causou muita polémica na altura. A própria administração teve receios em lançar o carro”, esclarece Jorge Mora que acrescenta que o motivo do grande “medo” acabou por ser uma das características mais diferenciadoras do modelo. E adiantou que a administração terá ameaçado mesmo a equipa de engenheiros e de designers de despedimento caso o carro fosse um insucesso de vendas.
Quando questionado sobre eventuais exemplares que não façam parte desta coleção, diz que é difícil, mas mesmo assim sempre que fala com amigos sobre os Anglia diz que compra os modelos que eventualmente ainda não tenha.
874 miniaturas é uma coleção que poderá ser a maior ou uma das maiores do mundo. É um título que o Jorge começou por desvalorizar, mas perante as insistências acaba por dizer que poderá ser. O amigo Paulo Rogério confirma que se não for a maior não haverá coleções muito maiores.
Para tirar dúvidas em março foi submetida a candidatura ao Guinness World Records que estará a ser avaliada pela equipa de inspetores, pelo que Jorge Mora aguarda uma visita de emissários para validar, ou não, a dimensão da sua coleção particular que pode ser vista na Biblioteca de Abrantes.
O processo de revisão pode levar até 12 semanas e recorde precisa ser mensurável, padronizável, verificável e batível.
E ainda sobre a origem das miniaturas, para além da Europa, Jorge Mora refere que teve algumas que vieram de bem longe, como Austrália ou a Nova Zelândia, Estados Unidos da América ou Brasil.
E esta paixão ainda se mantém, mesmo sabendo que as novidades não existirão ainda as procura. “Há sempre aquela curiosidade.” Há uma marca francesa que tem muitos exemplares com cores diferentes. “Por exemplo, se têm o carro branco e o tejadilho bordô também têm, depois o contrário.”
Entrevista de Paulo Rogério e Jorge Mora
Jorge Mora explica ainda a diferença de cores dos britânicos, mas para o branco e acinzentados “talvez por causa do clima, sempre muito chuvosos” para as cores portuguesas muito mais “garridas” com vermelhos, azuis ou verdes.”
Depois nesta exposição há miniaturas de meio centímetro e outras de meio metro.
Tenho lá uma miniatura que só existem duas no mundo inteiro. “Numa escala de 1 para 8 é a réplica perfeita. Está igual ao original.”
Paulo Rogério acrescenta mesmo que, enquanto não existir outra prova, esta “é a maior coleção do mundo.”
Jerónimo Belo Jorge
Galeria de Imagens
