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Abrantes/Dia da Mulher: “Somos o resultado do contexto em que vivemos”

9/03/2018 às 00:00
Fotos ESTA

Seis mulheres. São muito diferentes mas há algo que, de uma certa forma, as une, no orgulho que sentem pelas suas profissões. Profissões essas que durante décadas pertenciam exclusivamente aos homens. Desde a treinadora de futebol masculino, à presidente da Junta de Freguesia até à engenheira mecânica. E foi isto que estas mulheres quiseram partilhar no debate do Dia Internacional da Mulher, organizado pela Câmara Municipal de Abrantes e realizado na ESTA. Quiseram mostrar que estas profissões são também para mulheres.

Helena Chambel foi a única mulher no seu curso de Eletrónica e também no seu estágio. Lutou para ficar a trabalhar na Central Termoelétrica do Pego e conseguiu, já lá vão 12 anos. É a única mulher na profissão de operador de condução elétrica (é mesmo assim, porque a categoria profissional ainda não existe no género feminino), entre cerca de 45 homens. Afirma que trabalhar assim se deve ao facto de não admitir faltas de respeito. Aliás, esta foi uma das tónicas do debate: dar-se ao respeito para se ser respeitada, sobretudo em mundos em que os homens são a clara maioria.

O início da vida profissional de Helena nem sempre foi fácil. Sabia que não podia ser apenas boa, teria de ser muito boa. Mais uma vez, esta foi também uma ideia partilhada pelas outras mulheres que participavam no debate. A operador de condução elétrica acorda todos os dias feliz para trabalhar no que gosta e no que sempre quis. As situações boas compensam sempre o resto. Explica que se trata de uma área de força e de inteligência onde “a união faz a força”. Os seus colegas admiram-na, respeitam-na, protegem-na e são, no fundo, os seus melhores amigos.

Carla Vasco tem uma história semelhante: é a única mulher no posto da GNR de Vila Nova da Barquinha, há 18 anos, e é ela quem lidera. Em miúda não sonhou usar uma farda. Aliás, entrou na vida militar quase por acaso, respondendo a um anúncio sem perceber muito bem o que estava a fazer. Ela e a irmã fizeram parte da primeira recruta nas Tropas Paraquedistas que acolheu mulheres. Já na GNR, foi a primeira mulher a patrulhar o terreno no distrito de Santarém. Está habituada a lidar só com homens, nunca teve qualquer problema. Conta que foi sempre bem acolhida, orientada e ensinada. Mais do que protegida, sentiu-se sempre “salvaguardada”.

Maria Calado é sargento-ajudante no quartel militar de Santa Margarida. Os seus olhos brilham quando fala na sua profissão. Começou a trabalhar cedo no campo, com apenas 12 anos. Não prosseguiu os seus estudos para permitir que o seu irmão mais novo o pudesse fazer. E foi assim que entrou para o Exército. Teve de provar que era uma mulher capaz, que era diferente, mesmo que por vezes isso lhe custasse, mas estava lá ao lado deles, dos homens. E foi esta atitude que lhe valeu o reconhecimento, nomeadamente quando foi escolhida para ir para o Afeganistão. Confessa que é “feminina debaixo desta farda”. Gosta de se arranjar, de cuidar de si, pois não deixa de ser mulher por usar a farda militar. Foi o que quis sempre, “ser mulher e militar ao mesmo tempo”. As diferenças ainda existem, mas estão a mudar. E lembra-se bem do que foi dar instrução a homens de vinte e tal anos, quando ela só tinha 18. Depois da estranheza inicial, “correu muito bem”.

Ser mulher e treinar uma equipa de futebol de rapazes de 13 e 14 anos tem a sua exigência. Mas Ana Diogo Fernandes, que treina os Iniciados da 1ª Divisão Distrital do Sport Abrantes e Benfica, prefere acentuar a questão de valores como o respeito. Sendo o balneário um espaço importante do trabalho com a equipa, é normal que aqui surjam as diferenças. Apesar de avisar antes de entrar, já teve um episódio difícil de gerir, mas foi nesse momento que ganhou a confiança dos atletas.

Mariana Figueiredo, engenheira mecânica, também teve que ser melhor do que a maioria dos homens para vingar na profissão. É com algum desconforto que diz que, apesar de todos os avanços, ainda é a única mulher em muitas reuniões de chefia. Por isso, se há 20 anos achava que o Dia da Mulher não fazia sentido, agora não só lhe atribui importância como se assume como feminista.

A primeira mulher a trabalhar como empregada de linha no fabrico do Berlier foi Rosa Barralé, que chegou à presidência da Junta do Tramagal em 1989. Cumpriu um mandato, com dois homens. Havia “uns velhos do Restelo”, assim como umas “velhas do Restelo”, mas isso nunca a impediu de fazer o seu caminho. Desde cedo que foi impulsionada pelo pai, homem de outros tempos, mas sempre teve consciência das dificuldades acrescidas para as mulheres. Por isso, dizia: “Se eu tivesse cem contos e se pudesse pagava para seres homem!” Hoje, Rosa está preocupada porque as mulheres ainda não têm todos os direitos, nomeadamente na maternidade.

As convidadas para a conversa continuam a provar diariamente, nas suas profissões e no seu dia a dia, que são capazes de fazer o mesmo que faz um homem. Acreditam que valores como o respeito, a igualdade e o bom senso são fundamentais. Apesar de vivermos no século XXI, ainda existem muitas barreiras sociais. É preciso continuar a trabalhar, a lutar e a “abrir mentalidades”. Por vezes, também é preciso “batermos o pé quando algo está errado”. Consideram importante que se continue esta reflexão sobre as diferenças. E que estas iniciativas se repitam nos outros dias do ano. Esta conversa mostrou-lhes que não estão sozinhas nas suas lutas, “mas ainda há muito trabalho a fazer”.

Rita Valamatos, aluna de Comunicação Social da ESTA

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