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“Gostar de Constância” homenageou figuras do concelho

10/12/2019 às 00:00

“Gostar de Constância” é o nome de uma gala que a Câmara Municipal da Vila Poema tem vindo a realizar anualmente. Este ano foi até à Casa do Povo de Montalvo para homenagear o salão de cabeleireiros Contraste, nomeadamente a Anabela Ferreira e o João Paulo Moreira, José Pereira, homem do associativismo de Montalvo, e o Central Park de Santa Margarida, na pessoa dos proprietários, Cláudia e Rui Monteiro. Houve ainda tempo para dois momentos musicais com os TINTINNABVLVM e com o Grupo de Cantares da Casa do Povo de Montalvo.

A gala de Constância começou com o presidente da Câmara Municipal, Sérgio Oliveira, a destacar o dia. 7 de dezembro é uma data simbólica para o concelho por ter sido nesse dia, em 1836, que a rainha D. Maria II, satisfazendo um pedido apresentado pela população local, mudou o nome da vila de Punhete para Notável Vila da Constância. Uma mudança de um nome original da localidade banhada pelos rios Tejo e Zêzere.

Sérgio Oliveira, presidente da Câmara Municipal de Constância

O edil da vila de Constância justificou depois a realização do “Gostar de Constância” na Casa do Povo de Montalvo, fundada em 1970, numa lógica de descentralização de um evento que é do concelho. Todos os anos o objetivo da Gala é destacar figuras ou empresas de cada uma das três freguesias do concelho.

Sérgio Oliveira deu depois uma pincelada naqueles que são os projetos que estão em curso no concelho sem esquecer as fragilidades que se apresentam no caminho e os obstáculos que têm de ser ultrapassados. “Plano local de acessibilidades, a estratégia local de habitação ou a praia fluvial do Zêzere são projetos” que já estão a ser desenhados. Sérgio Oliveira vincou que as pessoas são a grande riqueza do concelho e que é com elas que conta para ultrapassar obstáculos de projetos que têm mais do que uma entidade envolvida.

Depois seguiram as homenagens. Uma entrevista, ou melhor, uma conversa, conduzida por Helena Calhau, da Câmara de Constância, foi folheando a vida dos três homenageados que viriam a receber um quadro como recordação daquele dia.

Helena Calhau, João Paulo Morais e Anabela Ferreira 

Os cabeleireiros que casaram nas Pomonas

João Paulo Morais e Anabela Ferreira foram os primeiros a sentar-se nos cadeirões da Casa do Povo de Montalvo com Helena Calhau a lançar a conversa com o mote da comemoração dos 20 anos do salão de cabeleireiro Contraste. A conversa, muito ligeira, foi aos primórdios da atividade profissional do João Paulo, quando desde muito jovem deambulava pelo salão da mãe, também ela cabeleireira. Depois a vida levou-o a conhecer a lisboeta Anabela Ferreira.

A vida foi andando e a dada altura, o João Paulo e a mãe, resolveram abrir um salão de cabeleireiro em Constância. Alternavam o trabalho entre Tomar e Constância. Ele com penteados mais “modernos e arrojados” e a mãe com os mais clássicos.

E assim se mantiveram até nascer o filho, o Tomás, que alterou as prioridades do João Paulo e da Anabela. “Quando nasce um filho tudo muda, temos de pensar na vida dele e não apenas na nossa. Por exemplo, levá-lo todos os dias à escola”, referiu o cabeleireiro que explicou então a decisão de fixarem residência em Constância.

João Paulo Morais revelou ainda os seus trabalhos para fora da região. Outro exemplo, foram a Sintra pentear os noivos, ingleses, e os convidados. A isso não será alheia formação constante fora de Portugal e a participação, enquanto júri, em eventos do Guiness Book Od Record's, nomeadamente no recorde de coloração. “Foram cinco cabeleireiros de Portugal, e eu fui um deles”.

E como sempre colaboraram nos penteados das Pomonas Camonianas Anabela Ferreira recordou o momento em que tiveram de ultrapassar algumas questões, mais burocráticas, para fazerem o seu casamento quinhentista. Com o apoio da direção da Escola de Constância contaram os pormenores da preparação de um casamento “público” que muitas pessoas chegaram “a pensar que era encenação das Pomonas, mas depois iam percebendo que era real e integravam o cortejo.” João Paulo Morais recordou ainda a altura em que decidiram que a noiva chegava de barco à margem e depois seguia de carruagem.

E para comemorar os 20 anos do salão em Constância, em 2019, resolveram convidar outros cabeleireiros e fazer uma cerimónia diferente. “Convidamos uma série de pessoas que são portadores de deficiência para as pentear e maquilhar. Foi um momento único”, disseram os dois cabeleireiros que contam com a presença da Maria, especialista em penteados apanhados.

Jorge Pereira, José Pereira e Sérgio Oliveira 

Zé Pereira o faz tudo no associativismo

José Pereira jogou à bola, foi treinador, fez teatro em Montalvo e já foi tudo no associativismo. Tudo não. Nunca foi presidente da direção. “Sou um braço de trabalho, não um presidente”, afirmou com uma boa disposição notável que arrancou muitas gargalhadas. Aliás, começou por dizer que gosta de ajudar e de fazer parte da associação da sua terra. Desde cedo que era assim. Desde cedo que organizava os bailes em Montalvo. “Naquele tempo diziam-nos assim, fazem os bailes. Se tiverem prejuízo pagam do vosso bolso. Se tiverem lucro é para nós [associação]”. E foi assim que, ainda jovem, começou a “dirigir” a sua vida associativa, sempre em prol da terra.

“Há 47 anos que trabalho para esta casa [Casa do Povo de Montalvo]. Até me costumam dizer que o Zé Pereira vai a todas […risos] e vou.”

Ainda sobre a organização dos bailes confidenciou que era para poderem namorar. “Havia muita responsabilidade nos namorados. Hoje não, é de qualquer maneira”, foi dizendo à medida que se desenrolava a conversa das suas memórias.

Já foi alvo de uma homenagem por parte da Casa do Povo de Montalvo porque já perdeu o conto aos mandatos que tem como dirigente. Serão mais de uma dúzia.

Hoje já não faz teatro, quem sabe possa voltar à Casa do Povo, mas é o “motorista” que transporta os miúdos para os treinos de futebol. E são os miúdos que lhe fazem as traquinices e as partidas que, depois, o acarinham mais, porque ao invés de se zangar mantém sempre uma boa disposição impressionante. E isso faz-se notar na forma carinhosa com que os miúdos tratam o Zé Pereira.

Helena Calhau, Rui e Cláudia Monteiro e os filhos Joana e David

Central Park a crescer em Santa Margarida

A Cláudia e o Rui Monteiro entraram na restauração e, agora hotelaria, de forma improvável. Desde muito cedo em Santa Margarida da Coutada ambos se dedicaram ao trabalho. A Cláudia quase que foi cabeleireira. O Rui fazia obras de construção civil. Foi assim que se conheceram e casaram. Mas depois o Rui contou que não queria “cabelos” lá em casa e, como a mulher gostava de nunca estar parada resolveram adaptar a sua casa, que até poderia ter sido uma loja de materiais de construção, para um café.

Foi assim o início de uma vida dedicada à cafetaria, restauração e agora ao alojamento, com os olhos postos no futuro, porque os filhos já seguem as pisadas dos pais no negócio de família.

A Cláudia contou que ficou satisfeita com a ideia de um café. Mas “impôs” uma condição ao marido: “Tinha de ter pão quente. No Crucifixo tinha pão todos os dias e aqui [Santa Margarida] havia padeiro uma ou duas vezes por semana. Por isso o café tinha de ter pão quente”. E assim foi.

O Parque Ambiental de Santa Margarida foi inaugurado a 18 de abril de 2002 e “nós abrimos o café em janeiro seguinte [2003]. Começamos com o café, umas sopas e bifanas por causa das visitas ao Parque, mas depressa passámos a ter pequenas refeições.” Com uma sala pequena, 34 lugares, o Rui explicou que perceberam a necessidade de crescer e em 2007 avançaram com o projeto das novas instalações. Aí já com cozinha mais “a sério” porque é onde a Cláudia se sente bem. É a responsável pela cozinha tradicional do Central Park que diz, entre sorrisos, “adoro aquilo que faço. Na cozinha perco a noção do tempo”.

Apesar de estarem em Santa Margarida os projetos não se ficam por aqui. A aquisição da casa de um irmão levou-os a entrar num dos negócios da moda: O alojamento local.

Atualmente Rui diz com orgulho que a sua pequena empresa tem nove empregados a tempo inteiro e que apenas dois são de fora do concelho.

E o futuro está garantido. Vão fazem nova ampliação da sala do restaurante e há o projeto para a construção de uma pensão. “Tenho um terreno de 3 mil metros e o sonho de construir uma pensão com 34 quartos. Onda caiba [os passageiros] um autocarro”.

O filho David está há seis anos a trabalhar com os pais. É aquilo que quer fazer e explica o pai: “sozinho toma conta da sala e às vezes até me manda embora de lá. Eu estou mais nos papéis”. Já a filha, Joana, também, está a dar os passos no negócio. Tem uma outra formação, mais gourmet. “Há dias chegou lá com uma série de coisas para começar a mudar o serviço.” Tem outros andamentos que não é a cozinha tradicional da mãe.

O Rui e a Cláudia, já com os filhos ao lado, deixam a nota de que de verão são os visitantes do Parque Ambiental que os procuram e que no inverno é a população mais local.

E o Rui Monteiro acaba a dizer “enquanto houver vida humana tem de haver casas para comer e beber”.

TINTINNABVLVM

Grupo de Cantares da Casa do Povo de Montalvo

Fica então o registo que o nome Constância existe há 183 anos, por decreto da rainha D. Maria II, e a pedido da população, a vila de Punhete mudava de nome. Passava a chamar-se Notável Vila de Constância. Mais tarde “recebeu o cognome” de Vila Poema, numa clara homenagem à passagem de Camões e Alexandre O'neill pelas suas terras.

Jerónimo Belo Jorge

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